sexta-feira, 8 de março de 2024

Festival RTP da Canção de 1984

No dia de mais uma aniversário da RTP, recordamos uma edição do Festival RTP da Canção, desta feita a 21.ª edição que teve lugar há quarenta anos (7 de Março de 1984) no Auditório Europa em Campo de Ourique, Lisboa.




Foi uma edição bastante particular pois em vez do método habitual de votação por parte de júris distritais, desta vez a escolha da canção que iria representar Portugal no Festival da Eurovisão desse ano a ter lugar no Luxemburgo esteve a cargo de um júri de dezoito personalidades da vida cultural portuguesa, nove deles convidado pela RTP e os outros nove por um conjunto de autores. O júri era composto por Ana Bola, António Macedo, Carlos Cruz, Beatriz Costa, Herman José, Maluda, Tonicha, Rui Mendonça, Teresa Silva Carvalho, Carlos Pinto Coelho, Carlos Ventura Martins, Henrique Mendes, Luís Vilas Boas, Jorge Costa Pinto, Tomás Taveira, Yvette Centeno e Virgílio Teixeira.

Manuela Moura Guedes e Fialho Gouveia foram os apresentadores


A apresentação esteve a cargo de Fialho Gouveia e Manuela Moura Guedes. Os dois anunciaram que a RTP também estava a preparar outro tipo de festival de música, que se pretendia não-competitivo, descentralizado e destinado a um público mais jovem, mas a ideia acabaria por não se concretizar.

As 18 figuras públicas que compuseram o júri


Além do júri com tantas figuras ilustres, também foram muitas as caras conhecidas que estiveram na competição desse ano, sendo que vários desses intérpretes já tinham participado antes no Festival e alguns até já o tinham vencido antes.

Linda de Suza foi a convidada musical



A actuação da primeira parte esteve a cargo de Linda de Suza, a célebre artista portuguesa consagrada em terras francesas, onde não faltou o seu grande hit "Un Portugais" e um improviso de "Tia Anica de Loulé". Linda de Suza presidiu ao júri mas sem direito a voto. (Aquando do seu falecimento a 28 de Dezembro de 2022, esta edição do Festival foi disponibilizada na RTP Arquivos em jeito de homenagem.) Seria também nesse ano de 1984, que Linda de Suza publicaria a sua autobiografia "A Mala de Cartão" que mais tarde seria adaptada para uma série televisiva.    

Devido a uma greve dos músicos, as dezasseis canções (com uma notória excepção) em concurso foram interpretadas sob música pré-gravada. Numa primeira fase, cada membro do júri indicava quais dessas canções que queriam que passasse à fase final com seis canções. A maioria dos jurados indicaram seis canções, mas Carlos Pinto Coelho indicou apenas cinco enquanto Herman José e Carlos Ventura Martins indicaram sete. 
Na fase final, cada membro do júri pontuava as seis canções finalistas de 1 a 10, com a vitória para a canção mais pontuada.

Segue-se uma breve retrospectiva das canções em concurso por ordem inversa da classificação.

"Num Olhar", interpretado por Marisa, foi
uma das quatro canções sem quaisquer pontos


Quatro das dezasseis canções não obtiveram qualquer ponto do júri na primeira fase. Foram elas:
- "Num Olhar", interpretada por Marisa, nome artístico de Maria José Almeida.
- "(O Nosso) Reencontro", interpretada por Isabel Soares, que somava quatro participações no Festival como membro do grupo Bric-À-Brac (do qual também fazia parte o seu marido Manuel José Soares) bem como uma participação a solo em 1979 com "Cantiga De Amor".
- "Este Quadro", uma das três canções interpretadas por Samuel nesse ano, esta em dueto com Cristina.
- "Cidade Mar" na voz de José Campos e Sousa, um dos membros fundadores da Banda Do Casaco e que integrou o grupo A Fantástica Aventura nas participações nos Festivais de 1977 ("A Flor E O Fruto") e de 1980 ("Ai, Ai, Tão, Tão").

Rita Ribeiro cantou "Notícias Vêm, Notícias Vão"

Apenas Beatriz Costa votou na canção "Notícias Vêm, Notícias Vão" na voz de Rita Ribeiro. Então já uma consagrada actriz, a filha do lendário Curado Ribeiro também já tinha demonstrado os seus dotes de cantora. Esteve na formação dos Green Windows que participou em dose dupla no Festival de 1974 com "No Dia Em Que O Rei Fez Anos" e "Imagens" e na das Cocktail com Maria Viana e Fernanda "Ágata" de Sousa que participou em 1979 com "Amanhã Virás". A acompanhar Rita Ribeiro esteve um coro de cinco vozes, incluindo uns muito jovens José Raposo e Maria João Abreu. Infelizmente, esta foi a única das dezasseis canções que não teve edição em disco. 

As Doce ao leme do "Barquinho da Esperança"


Depois de terem ganho em 1982, as Doce regressavam ao Festival pela quarta vez, agora num registo diferente com a balada "O Barquinho Da Esperança", da autoria de Miguel Esteves Cardoso e Pedro Ayres Magalhães. A canção já conheceu algumas versões nomeadamente de Sara Tavares (que chegou a ter Laura Diogo como sua manager). Porém, desta feita, "O Barquinho da Esperança" só conseguiu os votos de Jorge Costa Pinto e Tomás Taveira. 

Fernando Tordo no seu "Canto De Passagem"

Presença regular no Festival nos anos 70, incluindo duas vitórias em 1973 e em 1977 (como membro de Os Amigos), Fernando Tordo participou nesse ano pela última vez como intérprete com a canção "Canto De Passagem", com música do próprio e letra de Joaquim Pessoa, recebendo seis indicações do júri.
Duas canções receberam oito indicações do júri, e uma delas foi também da autoria de Fernando Tordo e Joaquim Pessoa, "Tricot De Cheiros" interpretado por Zélia Rodrigues, na sua terceira participação no Festival após 1980 e 1981. A outra foi mais uma das canções interpretadas por Samuel, "Maneira de Ser".

O Quinteto Paulo de Carvalho esteve muito perto de passar à fase final


Com nove pontos e falhando por pouco a passagem à fase final com nove indicações foi a canção "(Já) Pode Ser Tarde" do Quinteto Paulo de Carvalho que além do próprio continha Helena Isabel, André Sarbib, Miguel Braga e Carlos Araújo. Paulo de Carvalho, como é bem sabido, tinha duas vitórias no Festival em 1974 com o literalmente histórico "E Depois Do Adeus" e em 1977 como um de Os Amigos de "Portugal Na Coração". Mas também Helena Isabel teve diversas passagens pelo Festival em 1974, em 1980 (a solo e como parte dos grupos S.A.R.L. e As Alegres Comadres) e 1983. Desta vez os dois juntaram vozes nesta canção, além de ser assaz conhecido o facto de terem durante muito tempo feito outro tipo de música cuja obra mais conhecida foi o filho Bernardo (que é como quem diz, o Agir). Este projecto de Quinteto não foi além deste tema, mas no ano seguinte Paulo de Carvalho conheceria outro dos seus pontos mais altos na carreira com o sucesso do álbum "Desculpem Qualquer Coisinha", que tinha o hit "Os Meninos do Huambo".  

A tecnologia de ponta da RTP em 1984







Estas foram as seis canções que avançaram para a fase final:

António Sala trouxe "Uma Canção Amiga"


Em sexto lugar, com 10 indicações e depois 82 pontos, ficou "Uma Canção Amiga" interpretada por António Sala. Então já uma figura célebre na rádio, na televisão e na sua carreira musical (a solo, com a esposa Elisabete e com os Maranata), António Sala participava pela segunda vez no Festival como intérprete depois de concorrer em 1980 em dueto com Alexandra em "Uma Razão De Ser". Esta "Canção Amiga" tinha música do próprio Sala para letra de Carlos Castro. (Sim, esse mesmo, o cronista social que viria a ter um celebremente horrífico fim de vida no início de 2011.)

5.º lugar e o prémio de Melhor Interpretação para Adelaide Ferreira


Em quinto lugar, com 11 indicações e 109 pontos na fase final, "Quero-te, Choro-te, Odeio-te, Adoro-te" na voz de Adelaide Ferreira, cujo desempenho valeu-lhe o prémio de melhor interpretação que teve o nome de Ary dos Santos, em homenagem ao lendário poeta e letrista desparecido no início desse ano. Adelaide Ferreira estivera no Festival de 1980 como parte do grupo all star As Alegres Comadres que também incluía a sua irmã Mila, Helena Isabel e Ana Bola. Embora tenha surgido no panorama musical nacional como roqueira com hits como "Baby Suicida" e "Trânsito", os seus opus mais célebres nos anos vindouros seriam powerballads como "O Papel Principal", "Dava Tudo" e claro, "Penso Em Ti (Eu Sei)" com que ganharia o Festival do ano seguinte. Ainda nesse ano de 1984, Adelaide Ferreira representou Portugal no Festival da OTI com "Vem No Meu Sonho" com que obteria o segundo lugar, a melhor classificação de sempre do nosso país nesse certame.  

Paco Bandeira com "Que Coisa É Esta Vida"

Em quarto lugar, com 11 indicações e depois 110 pontos, ficou "Que Coisa É Esta Vida" defendida por Paco Bandeira. Tal como Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, o cantor natural de Elvas tivera várias participações no Festival ao longo dos anos 70 (destacando-se os dois segundos lugares em 1972 e 1973) e tinha aqui a sua derradeira presença como intérprete. A sua canção falava dos lamentos de uma dona de casa e não faltavam menções às telenovelas "Pai Herói" e "Gabriela" que estavam em exibição na altura na RTP (a segunda em reposição na RTP2). Foi também nesse ano de 1984 que Paco Bandeira lançou o álbum "Semibreves" que incluía o grande hit "A Ternura Dos Quarenta".

Vestidos a rigor, a Banda Tribo cantou "A Padeirinha de Aljubarrota"


 
Em terceiro lugar com 12 indicações e 113 pontos na fase final ficou a proposta que mais soava a 1984, ainda que falasse de uma célebre figura do século XII que se tornou uma lenda da História de Portugal. "A Padeirinha de Aljubarrota" foi interpretada pela Banda Tribo composta pelos irmãos José Gonçalo e Fernando Amaral Gomes, José Manuel de Oliveira, Mário Jorge Ferreira e João Paulo Pereira, acompanhados por Ana Sofia Cid. (Sendo esta filha de José Cid e os dois primeiros sobrinhos do cantor de "A Minha Música".) Os seis apareceram em palco trajados a rigor, eles de pajens e ela como a titular padeirinha, José Gonçalo Amaral Gomes participaria mais três vezes a solo no Festival; em 1988 com "Cai Neve Em Nova Iorque" (cuja versão do tio seria um hit nesse ano) e depois, sob o nome de Gonçalo Tavares, em 2010 e 2015.  

Samuel interpretou três canções neste Festival,
sendo que "Pelo Fim Da Tarde" ficou em segundo lugar.

Em segundo lugar, a terceira canção defendida por Samuel neste Festival, "Pelo Fim Da Tarde" com 14 indicações e 140 pontos na fase final. Samuel Quedas, mais conhecido por Samuel tout-court, iniciara a sua carreira em 1972 com o EP "O Cantigueiro" e esteve associado ao género de canção de intervenção até que gradualmente foi transitando para a música ligeira. Além destas três canções deste ano, tinha também várias presenças nos Festivais desde 1979, tanto a solo como integrando os S.A.R.L. Nesse ano de 1984, Samuel participaria na versão portuguesa do musical "ABBAcadabra" que versionava várias músicas dos ABBA, quer no disco quer no subsequente telefilme no papel do Soldadinho de Chumbo. 

Maria Guinot foi a grande vencedora com "Silêncio E Tanta Gente"


Porém nesse ano, o troféu foi parar indiscutivelmente às mãos de Maria Guinot com aquela que seria o seu magnum opus "Silêncio E Tanta Gente". Na primeira fase, a canção recebeu a indicação de 17 dos 18 membros do júri (o único que não o fez foi Herman José!) e na fase final obteve 150 pontos. Maria Guinot tivera uma breve estreia na música em 1968 e após de alguns anos afastada dessas lides, regressara em 1981 apresentando-se no Festival desse ano com "Um Adeus, Um Recomeço". Mas seria em 1984 que viveria com esta vitória o seu ponto mais alto, tendo sido a única que tocou ao vivo ao piano, acompanhada no refrão por Inês Martins, membro do coro da Gulbenkian. É assaz consensual que "Silêncio E Tanta Gente" é uma das melhores canções que levámos à Eurovisão e o 11.º lugar que obteve no certame desse ano no Luxemburgo foi deveras injusto (ainda que tenha sido o melhor resultado de Portugal entre 1981 e 1990 inclusivé). Maria Guinot continuou a sua carreira até meados dos anos 2000, quando começou a enfrentar vários problemas de saúde, vindo a falecer em 2018 aos 73 anos. Mas para sempre ficou esta gloriosa vitória no Festival RTP da Canção de 1984 e a sua belíssima canção. Será que mais alguém trocaria a sua vida por um dia de ilusão? 

Linda de Suza cumprimentando Maria Guinot pela sua vitória



Festival RTP da Canção 1984
Na RTP Play Palco: https://www.rtp.pt/play/palco/p12950/festival-da-cancao-1984
Na RTP Arquivos: Parte 1 Parte 2 Parte 3

"Silêncio E Tanta Gente" Maria Guinot (Festival RTP da Canção 1984)


O videoclip filmado na Madeira:


Actuação no Festival da Eurovisão 1984



Uma vez mais uma palavra de agradecimento ao site Festivais da Canção e aos autores do livro "Portugal 12 pts", João Carlos Calixto e Jorge Mangorrinha. 




sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Vale Tudo (1988-89)

Será a honestidade sempre o melhor caminho para viver a vida? Ou será que se trata de um valor ultrapassado e para se subir na vida vale tudo, sobretudo quando se vive num país tão cheio de contrastes e desníveis sociais como é o Brasil? O conflito entre essas duas ideias foi um dos temas principais da telenovela "Vale Tudo", da autoria de Gilberto Braga em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
A versão original no Brasil, exibida entre 1988 e 1989, teve 204 capítulos, mas em Portugal passou a versão internacional encurtada com somente 140 capítulos. A telenovela passou na RTP1 em substituição de "Sassaricando" entre 6 de Dezembro de 1989 e 22 de Junho de 1990. Além do número de capítulos, os genérico das duas versões tinham algumas diferenças, nomeadamente o tema de abertura, "Brasil" interpretado por Gal Costa, passar na versão instrumental (à excepção de três capítulos, incluindo o último).  



No centro da trama e do confronto moral que a percorre estão mãe e filha, Raquel Aciolli (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires) que quando começa a telenovela moram juntas em Foz do Iguaçu. Raquel guia a sua vida pela honestidade e a ética enquanto Fátima está decidida a subir na vida a qualquer preço sem olhar a quem tem de passar por cima. Como tal, quando o seu avô materno morre, Fátima vende a casa em que viviam (e que o avô deixara em nome da neta) e parte para o Rio de Janeiro, deixando Raquel sem nada.

Raquel e Maria de Fátima



Chegada ao Rio, Fátima envolve-se com César (Carlos Alberto Ricelli), um antigo modelo e surfista que agora ganha a vida como gigolô, que se torna seu cúmplice nos seus esquemas para subir na vida. Para poder conquistar Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), herdeiro de um grande império empresarial, Fátima faz-se amiga da namorada dele, Solange Duprat (Lídia Brondi) com quem passa a morar. Solange é uma elegante produtora de moda numa revista que ajuda Fátima a integrar-se no Rio de Janeiro até que esta a trai armando uma situação em que faz Afonso acreditar que Solange está envolvida com César. 

Afonso e Solange


Enquanto isso, Raquel também vem para o Rio de Janeiro em busca da filha, onde rapidamente faz grandes amigos como Audálio (Pedro Paulo Rangel), cujo optimismo inquebrável lhe vale a alcunha de Poliana. Raquel começa por vender sanduíches na praia mas gradualmente vai conseguindo estabelecer um negócio próspero na restuaração ao mesmo tempo que se apaixona por Ivan Meirelles (António Fagundes), que trabalha na companhia de aviação TCA, uma das maiores empresas do grupo Roitman. Ivan é recém-separado de Leila (Cássia Kis) com quem tem um filho adolescente Bruno (Danton Mello), e vive com o seu pai Bartolomeu (Cláudio Correia e Castro) mais a segunda mulher deste, Eunice (Íris Bruzzi) e a filha dela, Fernanda (Flávia Monteiro). Ivan tem bom fundo mas acredita que nem sempre a honestidade é o melhor caminho e que por vezes há que se desviar dela para subir na vida, algo que vai levantar problemas na sua relação com Raquel.

Raquel e Ivan


César e Odete

Fátima acaba por ficar noiva de Afonso, cuja mãe Odete (Beatriz Segall) é a dona do império dos Roitman. Odete é a típica milionária arrogante que se acha superior a todos, até mesmo ao próprio Brasil, pelo que raramente evita ir ao seu país de nascença, preferindo viver em Paris. Para conquistar a confiança da futura sogra, Fátima alinha no plano de Odete para separar Raquel de Ivan, com quem pretende casar a sua filha Helena (Renata Sorrah).

Celina, Eugénio e Helena

Helena é pintora e tem um problema grave de alcoolismo, no qual se refugiou desde a morte do seu outro irmão, num acidente do qual ela se crê culpada. Helena foi casada com Marco Aurélio (Reginaldo Faria), o vice-presidente do Grupo Roitman e director da TCA, de quem teve um filho, Tiago (Fábio Villa Verde). Marco Aurélio é um homem arrogante e desonesto que nunca ligou para a ex-mulher e que despreza o filho, cuja sensibilidade do rapaz e o seu interesse pelas artes o levam a pensar que Tiago é gay. No entanto, Tiago acabará por se apaixonar por Fernanda e namorar com ela. Da família Roitman faz ainda parte Celina (Natália Thimberg), que ao contrário da irmã Odete, é uma mulher bondosa e a grande protetora dos sobrinhos, desconfiando das intenções da Fátima.

Fátima tem a sua grande oportunidade quando Ivan e Raquel acham uma mala com dinheiro que Marco Aurélio desviou da TCA. Raquel quer devolver o dinheiro enquanto Ivan é tentado a ficar com ele porque ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Fátima descobre a mala e foge com ela, levando a mãe a crer que foi Ivan e causando a ruptura da relação. Como tal, Fátima tem a benção de Odete para casar com Afonso e até aplaude as atitudes da futura nora quando Raquel descobre tudo e desmascara Fátima. Ivan também acaba por casar com Helena, mas prontamente arrepende-se e procura de novo Raquel, mas Odete está disposta a tudo para os separar e elabora um plano de sabotagem para arruinar o negócio de Raquel.

Fátima casa com Afonso e passa a viver no maior dos luxos, sustentando também César, e acaba por engravidar. Mas quando a relação de Fátima e César é descoberta, a rapariga é desprezada por Afonso e Odete e colocada sob vigilância até se saber quem é o pai do filho. E assim que fica provado que o pai é César, Fátima é expulsa da casa dos Roitman e fica completamente sozinha, até porque César entretanto se envolve com Odete. Raquel também lhe nega auxílio, aceitando apenas cuidar do neto. Fátima decide então aproximar-se de Marco Aurélio e vingar-se dos Roitman dando um grande golpe. 

Marco Aurélio e Leila

Também as coisas começam a correr mal para Odete: apaixonada por César, decepciona-se quando descobre que ele ainda se encontra com Fátima. E no mesmo dia em que descobre de todos os roubos e desvios que Marco Aurélio fez na TCA, é assassinada a tiro. O mistério sobre quem terá sido o assassino domina a recta final da novela até que no último episódio é revelado que tinha sido Leila, que entretanto casara com Marco Aurélio e que desconfiava do envolvimento dele com Fátima, sendo esta o seu alvo e não Odete.  

Se não estou em erro, "Vale Tudo" foi ainda a primeira telenovela a incluir um casal lésbico que vivia junto abertamente: Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) vivem juntam há doze anos e gerem uma pousada em Búzios, além de serem investidoras no negócio de Raquel. Cecília é irmã de Marco Aurélio que nunca aceitou a sua homossexualidade, mas tal não lhe impede de, quando ela morre num acidente, de tentar ficar com a herança da irmã e deixar Laís sem nada.

Cecília e Laís


No final, Raquel consegue recuperar os seus negócios depois de terem quase falido depois das sabotagens orquestradas por Odete e fazer a cadeia de restaurantes prosperar de novo. Porém,  Ivan é condenado a um ano de prisão pelo seu envolvimento em algumas falcatruas da TCA, ao longo do qual, escreve um livro chamado "Vale Tudo" denunciando as corrupções de que foi testemunha no mundo empresarial. Após cumprir a pena, Ivan e Raquel ficam finalmente juntos e felizes, criando em conjunto o filho de Fátima. Afonso e Solange reconciliam-se e têm uma filha. Helena conhece William (Dennis Carvalho), um ex-alcoólico que lhe incentiva a frequentar os Alcoólicos Anónimos e dá os seus primeiros passos rumo à recuperação, descobrindo também que fora vítima do gaslighting de Odete, a verdadeira responsável do acidente que vitimou o irmão. E Laís vê a justiça a dar-lhe razão na sua luta pela herança de Cecília e volta encontrar o amor junto de outra mulher, Marieta. 

Porém os vilões também têm final feliz. Marco Aurélio consegue fugir do Brasil e dos golpes que cometeu, chegando a fazer um manguito ao país enquanto foge no avião (uma cena que foi cortada da versão que passou em Portugal) e Fátima arranja um casamento de conveniência com um príncipe homossexual e César segue com eles.    

Outras personagens marcantes foram Aldeíde Candeias (Lília Cabral), irmã de Poliana e secretária da TCA, que sonha em ser rica e famosa até que consegue casar com um português rico; Eugénio (Sérgio Mamberti) o chefe da criadagem dos Roitman que adora fazer referências cinematográficas: Sardinha (Otávio Müller), colega e melhor amigo de Solange; e Renato (Adriano Reys), director da revista onde trabalham Solange e Sardinha e primo de Marco Aurélio. 

Aldeíde e Consuelo

Do elenco fizeram ainda parte actores como Rosane Gofman (Consuelo), Maria Gladys (Lucimar), Daniel Filho (Rubinho), Stepan Nercessian (Jarbas), Marcos Palmeira (Mário Sérgio) e na sua estreia na Globo, Marcello Novaes (André). 

"Vale Tudo" foi uma telenovela muito bem conseguida em toda a linha, tendo tido grande sucesso tanto no Brasil como em Portugal, com excelentes desempenhos de todo o elenco e a mestria já habitual de Gilberto Braga, sendo  considerada uma das melhores obras do célebre teledramaturgo. Regina Duarte, António Fagundes, Lídia Brondi, Glória Pires e Carlos Alberto Ricelli desempenharam habilmente os vários pontos do espectro da ética ou da falta dela mas sem dúvida que foi Beatriz Segall quem mais brilhou como Odete Roitman, que ficaria eternizada como uma das vilãs mais icónicas e odiadas da história das telenovelas brasileiras. Até porque um dos seus traços principais era o ódio ao Brasil. Lembro-me que na cena do seu funeral, algumas personagens comentavam que ser enterrada no Brasil e não num país que Odete considerava mais desenvolvido e digno de si foi o pior castigo que a megera poderia ter tido.  

Em 2002, "Vale Tudo" teve uma adaptação latino-americana co-produzida pela Rede Globo e a Telemundo, na altura em que ainda era raro ver telenovelas brasileiras adaptadas para esse público. A telenovela portuguesa "Tempo De Viver" de 2006, protagonizada por Alexandra Lencastre e Margarida Vila-Nova, também foi claramente inspirada por "Vale Tudo" que também contrapunha uma mãe honesta e trabalhadora contra uma filha pérfida e interesseira, à caça de um noivo rico e envolvida com um gigolô. 

Genérico de abertura (versão original):


Genérico na versão internacional:



segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

20 coisas que aconteceram há 20 anos (2004)




Os dias são longos mas os anos são curtos. Sem se saber como, num eterno desfiar de longos dias, eis que chegamos ao outrora longínquo ano de 2024 e de repente já se passaram vinte anos desde o outrora recente ano de 2004. Creio que para muitos portugueses, 2004 é um ano que carrega uma mística especial, sobretudo por causa de um determinado evento mas foram muitas mais as razões que fizeram de 2004 um ano épico.
Como já é tradição aqui na Enciclopédia de Cromos, vamos recordar 20 coisas que aconteceram há 20 anos, no ano de dois mil e quatro.    

1. O maior desastre natural do século XXI devastou a Ásia

26.12.2004: O maremoto no Oceano Índico foi 
um dos desastres naturais mais mortíferos de sempre


Infelizmente, 2004 não foi épico apenas por bons motivos. Isto porque no dia 26 de Dezembro, um maremoto ao largo da costa norte da ilha de Sumatra na Indonésia desencadeou toda uma cadeia de sismos e tsunamis que causou a morte de mais de 200 mil pessoas, tornando-se um dos maiores desastre naturais alguma vez registados no planeta e ainda hoje, o maior do século XXI e o de sempre na Ásia.



Particularmente devastador foi o tsunami originado pelo terramoto que em algumas zonas chegou a atingir 30 metros de altura e assolou tudo no seu caminho. Os seus efeitos chegaram até à África Oriental e causaram alguns tsunamis menores até mesmo em países distantes do epicentro como México e Canadá. 
As respostas rápidas de ajuda humanitária vindas de todo o mundo ajudaram a minimizar alguns efeitos posteriores do terramoto como fome generalizada e a propagação de epidemias.
O terramoto de 2004 no Oceano Índico também gerou várias e incríveis histórias de sobrevivência como a da espanhola Maria Belón e sua família que inspiraria o filme "O Impossível" de 2012 e a de Martunis Sarbini, um menino indonésio de sete anos, que foi descoberto após ter andado vários dias perdido vestindo uma camisola de Portugal, o que sensibilizou a Federação Portuguesa de Futebol e Cristiano Ronaldo que doaram dinheiro para a reconstrução da sua casa e para a sua educação. Martunis veio depois algumas vezes a Portugal e chegou a integrar a academia do Sporting. Actualmente, tem um canal no YouTube. 

2. Pânico e destruição em Madrid e Beslan

11.3.2004: atentados à bomba em Madrid


A 11 de Março, precisamente dois anos e meio após os ataques de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, a vizinha Espanha foi palco de um atentado terrorista quando dez explosões aconteceram em vários pontos do sistema ferroviário de Madrid, sobretudo na estação de Atocha, causando 193 mortos e mais de dois mil feridos. A autoria dos atentados nunca foi confirmada, mas vários indivíduos com ligações à Al Qaeda terão declarado que esta estaria por detrás deles, em retaliação ao envolvimento de Espanha na invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos. Na altura, Espanha estava em campanha para as eleições legislativas e os atentados terão sido importantes para a derrota na urnas do governo de José Maria Aznar (que inicialmente declarara que os atentados tinham sido obra da ETA) e, como tal, ascensão do candidato do PSOE José Luís Zapatero como o novo primeiro-ministro. 

Em Setembro de 2004, 333 pessoas perderam a vida
num tiroteio numa escola de Beslan na Rússia


Outro ataque terrorista marcante em 2004 ocorreu na cidade russa de Beslan, localizada na república da Ossétia do Norte. A 1 de Setembro, no início do novo ano lectivo na Rússia, uma milícia separatista chechena invadiu uma das escolas da cidade e aprisionou mais de mil pessoas presentes no recinto, incluindo 777 crianças, aprisionando-as no ginásio da escola que estava armadilhado com explosivos. Ao fim de três dias, entre explosões e execuções, o cerco resultou na morte de 333 pessoas, incluindo 186 crianças e 31 dos invasores. O massacre de Beslan é ainda hoje tido como o mais mortífero tiroteio numa escola de sempre em todo o mundo.   

3. O jogo final de Miki Fehér

Miklós Fehér: 20.7.1979 - 25.1.2004

O futebolista húngaro Miklós Fehér veio para o futebol português em 1998 onde ingressou no FC Porto, pelo qual esteve vinculado até 2002, com passagens pela equipa B, o Salgueiros e o Sporting de Braga. Após um desentendimento entre Pinto da Costa e José Veiga, o agente do jogador, Fehér transferiu-se para o Benfica. E foi precisamente durante um jogo das águias contra o Vitória no renovado Estádio D. Afonso Henriques que Miki Fehér deixou abruptamente este mundo com apenas 24 anos. 



A cerca de dez minutos do final do jogo com o Benfica a ganhar 1-0, onde assistiu para o único golo da partida, Fehér viu um cartão amarelo e logo a seguir sentiu-se mal e caiu de costas inanimado. Os seus colegas e a equipa médica rapidamente se aperceberam que se tratava de uma paragem cardíaca, tendo-lhe sido prestada reanimação em campo e sendo depois encaminhado para o hospital. Porém antes da meia-noite, foi confirmado o seu óbito. Daí o corpo seguiu para o Estádio da Luz onde foram prestadas as últimas homenagens em Portugal antes de ser enviado para a Hungria, onde foi sepultado na cidade natal do jogador. 

A morte do futebolista chocou o país pela forma como aconteceu, em pleno jogo, ainda por cima com transmissão televisiva em directo na Sport TV. (Eu lembro-me de ter ficado muito impressionado com as imagens de Fehér a perecer de um momento para outro e cair no chão como se fosse um boneco que tinha ficado sem pilhas.) Aos 24 anos, Miklós Fehér conquistara um título, uma Taça e uma Supertaça pelo FC Porto e fez 156 jogos e 56 golos no futebol português, bem como 25 jogos e sete golos pela selecção da Hungria. O Benfica retirou a camisola número 29, com que Fehér jogava, e nunca mais um jogador encarnado jogou com este número. Também há um memorial a ele dedicado no Estádio da Luz.        

4. Outras mortes em 2004

Outra morta chocante no nosso país em 2004, foi a de António Sousa Franco, ex-ministro das Finanças e que era o cabeça de lista do PS nas eleições para o Parlamento Europeu. Em plena acção de campanha na lota de Matosinhos, Sousa Franco teve um ataque cardíaco e veio pouco tempo depois a falecer. 

Sousa Franco faleceu durante a campanha para as Eleições Europeias de 2004


Também em 2004 morreram o magnata António Champallimaud, Maria Lurdes Pintassilgo, até hoje a única mulher que liderou um governo português, a grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andersen, a Rainha Juliana, antiga monarca dos Países Baixos, o ex-presidente americano e ex-actor de Hollywood Ronald Reagan, o líder palestiniano Yasser Arafat, os actores Marlon Brando, Peter Ustinov e Christopher Reeve, a actriz de "King Kong" Fay Wray, os músicos Ray Charles, Barry White e Carlos Paredes, a cantora Laura Brannigan, os apresentadores Henrique Mendes e Fialho Gouveia, a escritora francesa Françoise Sagan, a empresária e cosmetologista Estée Lauder e o ciclista Marco Pantani

RIP 2004: Sophia de Mello Breyner, Marlon Brando, Ray Charles, Henrique Mendes


5. As estrelas que nasceram em 2004

Por outro lado, 2004 assistiu ao nascimento de estrelas como os actores de "Stranger Things" Millie Bobby Brown e Noah Schnapp, o actor de "Heartstopper" Kit Connor, os futebolistas João Neves e Pablo Gavi, a cantora Grace VanderWaal, a tenista Coco Gauff e a patinadora campeã olímpica Anna Shcherbakova

Geração 2004: Millie Bobby Brown, Kit Connor, João Neves, Coco Gauff

6. Adeus, Durão, olá, Santana.

A nível da política em Portugal, a grande mudança foi a tomada de posse de Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro após Durão Barroso ter abdicado do cargo para assumir a presidência da Comissão Europeia. Na posição de vice-presidente PSD, Santana Lopes sucedeu-lhe no cargo, demitindo-se por sua vez da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, que passou a ser presidida por Carmona Rodrigues. A liderança de Santana Lopes no governo ficou marcada por várias instabilidades, demissões e renovações nos diferentes ministério, mas a maior polémica foi quando no mês de Outubro Marcelo Rebelo de Sousa deixou o seu espaço de comentário na TVI, sob acusações de pressão por parte do governo de Santana Lopes ao canal devido às críticas de Marcelo. Devido a esse e outros incidentes, o governo liderado por Pedro Santana Lopes seria dissolvido pelo presidente Jorge Sampaio em 2005.
Pedro Santana Lopes assumiu o cargo de primeiro-ministro
após a saída de Durão Barroso


Como foi referido anteriormente, em 2004 houve também as eleições para o Parlamento Europeu, cuja campanha foi marcada pelo súbito falecimento de Sousa Franco, cabeça de lista do PS. O Partido Socialista (com o seu novo cabeça de lista António Costa) venceu elegendo 12 deputados, contra 9 da coligação PSD-CDS, 2 da CDU e um do Bloco de Esquerda, que assim elegia o seu primeiro deputado europeu. 

7. Música para todos os gostos no primeiro Rock In Rio de Lisboa

Entre 28 de Maio e 6 de Junho, o parque da Bela Vista tornou-se pela primeira vez na Cidade do Rock ao receber a primeira edição do Rock In Rio Lisboa, a primeira franchise internacional do festival brasileiro.



 

O ex-Beatle Paul McCartney abriu as hostes no primeiro dia no palco principal, seguindo-se Peter Gabriel, Ben Harper, Jet, Gilberto Gil e Rui Veloso no dia seguinte, Foo Fighters, Evanescence, Kings Of Leon, Charlie Brown Jr. e Xutos & Pontapés a 30 de Maio. 4 de Junho foi a noite do heavy metal com Metallica, Incubus, Slipknot, Sepultura e Moonspell, enquanto o dia seguinte foi para o público mais jovem com Nuno Norte (um dos prémios da sua vitória no "Ídolos"), João Pedro Pais, Sugababes, Daniela Mercury, Black Eyed Peas e Britney Spears. Para encerrar, no dia 6 actuaram Sting, Alicia Keys, Ivete Sangalo, Luís Represas, Alejandro Sanz e Pedro Abrunhosa. 

2004 foi o ano do primeiro Rock In Rio Lisboa no Parque da Bela Vista

Além do palco principal, havia outros recintos com actuações musicais como a Tenda Electrónica (onde passaram DJs como os famosos Jeff Mills e Carl Cox), o Palco Raízes dedicado à world music (onde por exemplo estiveram a fadista Mariza e a diva africana Angélique Kidjo) e o Palco Mundo Melhor onde se realizaram colóquios mas também actuações de artistas como Fafá de Belém. Havia ainda um recinto dedicado a actividades radicais e zonas comerciais. Como um dos patrocinadores do evento, a SIC fez uma cobertura intensiva do Rock In Rio nos seus canais. 


Era de longe a maior concentração de estrelas musicais que Portugal acolhera até então e apesar dos preços do bilhetes (53 euros por um dia), a afluência do público foi grande. Desde então o Rock In Rio Lisboa tem decorrido a cada dois anos (excepto em 2020 por razões óbvias) na Bela Vista (e todas elas com a presença de Ivete Sangalo!), sendo que a edição de 2024 será realizado no Parque Tejo que acolheu as Jornadas Mundiais da Juventude no ano passado. Mas arrisco a dizer que nenhuma teve o impacto e o star power da primeira. 

8. Madonna actuou em Portugal pela primeira vez.

Madonna actuou pela primeira vez em Portugal
em Setembro de 2004


Foi também em 2004 que Madonna finalmente actuou em solo português, com os dois últimos concertos da sua Re-Invention Tour a 13 e 14 de Setembro no então Pavilhão Atlântico. (Chegou a haver algumas incertezas quanto à realização dos concertos porque a Igreja Maná teria reservado o local nas mesmas datas.) Se a estreia da rainha da pop em Portugal pecou por tardia, o certo é que com ela sucedeu o mesmo que inúmeros artistas internacionais quando descobrem que o nosso país não é uma província de Espanha e se deixam conquistar pelo público português, tornando Portugal ponto de passagem obrigatório em digressões vindouras. Desde então, como se sabe, não só várias tournées de Madonna passaram por cá como a própria assentaria residência em Lisboa entre 2017 e 2021.

9. Um ano cheio de grande música



2004 foi o ano dos álbuns homónimos de estreia dos Franz Ferdinand e dos Scissor Sisters, assim como os primeiros álbuns de Kanye West ("The College Dropout"), Keane ("Hopes And Fears"),  The Killers ("Hot Fuss"), Arcade Fire ("Funeral"), James Blunt ("Back To Bedlam"), Gwen Stefani ("Love Angel Music Baby"),Velvet Revolver ("Contraband"), e John Legend ("Get Lifted")

Também lançaram álbuns Incubus ("A Crow Left On The Murder"), Norah Jones ("Feels Like Home"), Prince ("Musicology"), Green Day ("American Idiot"), Morrissey ("You Are The Quarry"), Avril Lavigne ("Under My Skin"), Beastie Boys ("To The 5 Buroughs"), The Cure ("The Cure"), The Prodigy ("Always Outnumbered, Never Outgunned"), Björk ("Medulla"), Usher ("Confessions"), R.E.M. ("Around The Sun"), Rammstein ("Reise, Reise"), Kelis ("Tasty"), Eminem ("Encore"), dose dupla de Nelly ("Sweat" e "Suit") e U2 ("How To Dismantle An Atomic Bomb")

Para o melhor e para o pior, foram hits em 2004: "Fuck It (I Don't Want You Back)" de Eamonn, "Dragostea Din Tei" dos O-Zone, "Broken" dos Seether com Amy Lee dos Evanescence, "Leave (Get Out)" de JoJo, "We Are" de Ana Johnson, "These Words" de Natasha Bedingfield, "I Don't Wanna Know" de Mario Winans, "Lola's Theme" dos Shapeshifters e "Call On Me" de Eric Prydz. E em Dezembro foi lançada uma nova versão de "Do They Know It's Christmas" vinte anos depois do original.


Por cá, também não faltaram músicas nacionais a bombar em 2004. Só para dizer dez: "Re-Tratamento" dos Da Weasel, "Carta" dos Toranja, "Gotta Get Away" dos Fonzie, "E Tudo Vai Mudar" das Non Stop, "Feeling Alive" de Gomo, "Back To Discos" dos Loto, "In Fiction" dos Plaza, "Picture Of My Own" dos Fingertips e "Para Mim Tanto Me Faz" dos D'ZRT. 

10. Justin Timberlake deixou Janet Jackson de teta à mostra

Justin Timberlake e Janet Jackson momentos
antes do "nipplegate"


Embora a febre do futebol americano só em poucos espaços extravasa para fora dos States, o mundo inteiro já está assaz ciente do acontecimento que é a final do Superbowl, não tanto pelo jogo em si, mas pelo show do intervalo onde actuam grandes estrelas da música. Em 2004, o show foi estrelado por P. Diddy, Nelly, Kid Rock e Janet Jackson. Esta subiu ao palco no número final acompanhada com a aparição surpresa de Justin Timberlake, cujo sucesso do seu primeiro álbum a solo o catapultara para ainda maior fama, cantando "Rock Your Body" quando no final, Timberlake rasgou um pedaço de tecido do fato de Jackson, expondo-lhe o seio que estava adornado com um elaborado piercing. Antes das câmaras de televisão cortarem para o fogo de artifício, viu-se Janet a cobrir o seio com ar chocado.

O chamado "nipplegate" causou uma onda de indignação nos Estados Unidos (já se sabe que volta e meia a malta lá arma-se em púdica) e Janet Jackson foi o alvo principal, impactando duramente a sua carreira justamente quando tinha um álbum novo prestes a sair, enquanto Justin Timberlake passou relativamente incólume. Ambos negaram que aquele momento tinha sido intencional, apontando para uma falha de guarda-roupa ou "wardrobe malfunction" que passou a ser um termo popularizado. Surgiram também teorias de conspiração como o incidente ter sido criado para distrair dos acontecimentos no Iraque ou Timberlake querer superar a sensação dos MTV Video Awards do ano anterior em que a ex-namorada Britney Spears beijou Madonna. A MTV apanhou por tabela, tendo sido banida de voltar a produzir novamente o show do Superbowl.

11. Britney Spears casou-se… duas vezes!

Britney Spears: dois casamentos e uma passagem por Portugal em 2004

Por falar em Britney Spears, já se referiu que ela actuou no Rock In Rio Lisboa, naquela que continua a ser a sua única passagem por Portugal. Mas embora a sua música continuasse a fazer sucesso, pois em 2004 bombaram dois dos seus mais famosos hits, "Toxic" e "Everytime", nesse ano foi notícia por outros motivos, nomeadamente os seus dois casamentos.
Logo a 3 de Janeiro, surgiu a notícia que Britney tinha casado por impulso com o seu amigo de infância Jason Allen Alexander após um fim-de-semana de borga em Las Vegas, com o casamento a ser anulado 55 horas depois. (A 6 de Janeiro de 2021, Alexander seria visto entre a multidão de apoiantes de Donald Trump que invadiu o Capitólio.) E em Julho de 2004, Spears começou a namorar com o bailarino Kevin Federline (que acabava de se separar da actriz Shar Jackson quando esta estava grávida do segundo filho de ambos) e a 18 de Setembro, os dois casaram-se mas a união só foi validada alguns dias depois após conclusão do acordo pré-nupcial. A união durou até 2007 após muitos momentos conturbados e extrema perseguição dos media e gerou os dois filhos de Spears. 
Spears casaria pela terceira vez em 2022 com Sam Asghari após um namoro de seis anos e a sua libertação da conservatória jurídica imposta pelo seu pai, mas a união durou menos de um ano. 

12. Muitos bons filmes para ver no cinema




Em 2004 nos cinemas muitas sequelas de sucesso como "Shrek 2", "Spiderman - O Homem Aranha 2", "Kill Bill - Parte 2", "Ocean's Twelve", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", "Uns Compadres do Pior" e o "Diário da Princesa 2: Noivado Real".  


Foi também o ano do controverso "A Paixão de Cristo", de grande animação como "O Gangue dos Tubarões", "O Expresso Polar" e "Os Incríveis", de comédias como "Mean Girls - Giras E Terríveis", "Romance Arriscado", "A Minha Namorada Tem Amnésia", "Loiras À Força", "De Repente Já Nos Trinta!" e "A Miúda Do Lado", de épicos de acção como "As Crónicas de Riddick" e "O Dia Depois De Amanhã", e do terror arrepiante do primeiro "Saw", "The Grudge - A Maldição", "Van Helsing" e "Resident Evil: Apocalipse", para não falar de um novo remake de "Dawn Of The Dead" e da sua paródia "Shaun Of The Dead". 



Tom Hanks integrou "O Quinteto da Morte" e esteve retido num "Terminal de Aeroporto", Ryan Gosling e Rachel McAdams apaixonaram-se dentro e fora do ecrã em "O Diário da Nossa Paixão", Ethan Hawke e Julie Delpy reencontraram-se nove anos depois "Antes Do Anoitecer" e John Cho e Kal Penn disseram "Que Grande Moca, Meu!"; Anne Hathaway foi "Ella Encantada", Leonardo DiCaprio foi "O Aviador" e Jamie Foxx "Ray" Charles; Johnny Depp andou "A Procura da Terra Do Nunca" e Nicolas Cage de "O Tesouro"; Michael Moore fez a administração Bush arder a "Fahrenheit 9/11", Renee Zellweger deu-nos a ler "O Novo Diário de Bridget Jones", Julia Roberts e Natalie Portman estiveram "Perto Demais" e Hilary Swank combateu rumo ao segundo Óscar em "Million Dollar Baby".

Em Portugal destaque para filmes como "Noite Escura", "O Milagre Segundo Salomé", "Tudo Isto É Fado", "Portugal S.A.", "Kiss Me" e "Sorte Nula".

13. Novidades na televisão

Em termos de televisão, 2004 foi ano de várias transformações na RTP. A 4 de Outubro foi lançada a RTP Memória, ao passo que a 5 de Janeiro a RTP 2 foi renomeada :2 (designação que manteria até 2007), e a NTV foi reformulada como RTPN (até que em 2015 passou chamar-se RTP 3). A RTP1 também ganhou um novo logótipo e a RTP e a RDP fundiram-se sob a denominação Rádio e Televisão de Portugal.



Em termos de programas, o destaque vai para a primeira edição de "A Quinta das Celebridades", o reality-show que pôs famosos a lidar com a dura realidade de trabalhar no campo e que foi marcada pela inesperada dupla do socialite José Castelo Branco e do actor brasileiro Alexandre Frota (que entretanto passara das telenovelas para o porno), para além de nomes como Ana Maria Lucas, Cinha Jardim e o autarca Avelino Ferreira Torres. A apresentação era de Júlia Pinheiro, apoiada por José Pedro Vasconcelos, mas os momentos mais divertido eram aqueles em que nos resumos diários, Júlia interagia com o burro Pavarotti (com voz do actor Victor Emanuel). 
Na TVI, estrearam também em 2004 as telenovelas "Mistura Fina" e "Baía das Mulheres", a segunda temporada de "Morangos Com Açúcar" (a do Simão, da Ana Luísa e dos D'ZRT), as séries "Inspector Max" e o humor de "Os Batanetes" e "O Prédio do Vasco", assim como o "Você Na TV" que gerou a mitológica dupla Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira. 

"Eu quero voltar para a ilha!"


Na SIC recordo sobretudo o programa "Maré Alta" com um elenco rotativo cheio de grandes nomes, que passava num paquete de luxo, e que continha sketches como os de Carlos Cunha que usava o pretexto de um detector de metais para despir as passageiras mais belas ("Parou, parou, parou!"), os do mórbido Felizardo Boanova (Jorge Mourato) a quem sempre morriam familiares e conhecidos seus das formas mais inesperadas ("Mor-reu!"), o náufrago (Carlos Areia) que é resgatado mas que lança borda fora quando sabe do estado em que está Portugal ("Eu quero voltar para a ilha!") e as aventuras das exuberantes Maria do Amparo (Fátima Preto), Maria do Carmo (Raquel Loureiro) e Maria da Graça (Marta Pereira) ("Eeeeeh!"). Houve também a segunda edição do "Ídolos", vencida por Sérgio Domingues e por onde passou uma então desconhecida Luciana Abreu. 

Já na RTP, destaco as séries "A Ferreirinha" e "O Segredo", e em ano de Euro 2004, quem se lembra do "Soccastars" que era uma espécie de "Ídolos" do futebol?    

Lá fora estreavam programas "Donas De Casa Desesperadas", "Lost", "Doutor House", "Entourage", "The Apprentice", "The L Word", "Stargate Atlantis", "Entourage", "Veronica Mars", a versão britânica de "Shameless" e "Laguna Beach", e passaram os últimos episódios de "Friends" e "O Sexo E A Cidade". Recordo também a telenovela brasileira "Senhora Do Destino" e os remakes de "Cabocla" e "A Escrava Isaura". 

14. O Festival da Eurovisão passou a ter uma semifinal






A final do 49.º Festival da Eurovisão decorreu a 15 de Maio no Abdi Ipekçi Arena em Istambul na Turquia, numa edição que marcou várias mudanças no certame como a introdução de um logótipo fixo, com a palavra Eurovision com o V em forma de um coração contendo a bandeira do país anfitrião e por baixo as palavras "Song Contest" e o ano e a cidade da respectiva edição, ou a passagem do copyright de cada edição a passar a ser propriedade da EBU e não da estação de televisão que realizou cada edição como era o caso até então. Mas a mudança mais óbvia foi a da introdução de uma semifinal realizada três dias antes da final, uma solução tomada para acolher o sempre crescente número de países interessados em participar ou a regressar ao Festival.



Ao todo 36 países participaram, com destaque para as estreias de Andorra, Albânia e Bielorrússia, e o regresso do principado do Mónaco, que participara pela última vez em 1979. De regresso estava também a República Federal da Jugoslávia agora denominada de Sérvia & Montenegro, que participara pela última vez em 1992 quando a antiga Jugoslávia já se resumia apenas a essas duas repúblicas.
Todos esses cinco países estreantes ou regressados juntaram-se a mais dezassete outros na semifinal da qual dez foram apurados para a final. Não foi o caso de Portugal, representado por Sofia Vitória com a canção "Foi Magia" que ficou em 15.º lugar.

A ucraniana Ruslana com os seus troféus



Os dez países apurados (Albânia, Bósnia-Herzegovina, Croácia, Chipre, Grécia, Macedónia, Malta, Países Baixos, Sérvia & Montenegro e Ucrânia) juntaram-se na final aos dez países mais bem classificados do ano anterior e aos países do big 4 (Alemanha, Espanha, França e Reino Unido). A vitória acabou por sorrir à Ucrânia que participava apenas pela segunda vez, com o tema "Wild Dances" interpretado por Ruslana Lyzhchko, enquanto a Sérvia & Montenegro (que tinha sido primeira na semifinal) ficou em segundo lugar e a Grécia em terceiro. 

A segunda edição da Eurovisão Júnior decorreu a 20 de Novembro em Lillehammer na Noruega e a Espanha venceu na voz de Maria Isabel de nove anos com a canção "Antes Muerta Que Sencilla".

15. O nascimento do Facebook

Mark Zuckerberg tinha apenas 19 anos
quando lançou o site então chamado thefacebook 


Em Janeiro de 2004, o estudante da Universidade de Harvard Mark Zuckerberg, de 19 anos, codificou o website "thefacebook" que pretendia ser uma espécie de diretório online de todos os estudantes da Universidade. A adesão massiva não se fez esperar e quatro colegas de Zuckerberg ajudaram-no a desenvolver ainda mais o projecto e a fazer crescer o projecto. Ainda em 2004, o site estendeu-se a outras Universidades até que 2006, qualquer pessoa com mais de 13 anos e um e-mail válido pôde-se juntar à rede entretanto renomeada de Facebook. Em 2022, mais de três mil milhões de pessoas no mundo inteiro têm conta no Facebook com tudo de bom e mau que isso implica. 
Uma das razões pelas quais o azul é a cor de marca do Facebook é porque se trata da cor que Mark Zuckerberg consegue identificar melhor uma vez que sofre um tipo de daltonismo que lhe causa dificuldade em distinguir o verde do vermelho. 

16. O casamento dos futuros reis de Espanha Felipe e Letizia

22.5.2004: o futuro D. Felipe VI de Espanha 
casou-se com Letizia Ortiz

A 22 de Maio, o então Príncipe das Astúrias Felipe de Borbón y Grecia casou-se em Madrid com a jornalista Letizia Ortiz Rocasolano. Os dois ter-se-ão conhecido em Novembro de 2002 no rescaldo do naufrágio do petroleiro Prestige ao largo da costa da Galiza, quando ele colaborava nos esforços da comunidade para minimizar os efeitos do desastre ambiental causado pelo naufrágio e ela fazia a cobertura dos acontecimentos para a CNN Espanha.
O noivado foi anunciado a 1 de Novembro de 2003 e causou alguma surpresa porque a relação tinha passado despercebida aos olhos da comunicação social que sempre escrutinou a vida amorosa do infante (quanto mais não fosse porque aquela que ele levaria ao altar seria certamente a futura rainha) e tinha uma certa fama de playboy. As suas relações anteriores mais conhecidas foram com a aristocrata Isabel Sartorius e a modelo norueguesa Eva Sanum. Rapidamente veio-se a saber que Letizia, natural das Astúrias, já tinha sido brevemente casada uns anos antes.
A cerimónia teve lugar na Catedral Almudena do Palácio Real e as cerimónias incluíram uma homenagem às vítimas do atentado terrorista de Madrid dois meses antes.

Desde então, Felipe e Letizia tiveram duas filhas, Leonor (que caso ainda houver monarquia em Espanha na altura será a primeira rainha regente do país em 200 anos) e Sofia e em 2014, após abdicação de Juan Carlos II, tornaram-se os reis de Espanha.  

17. Outros acontecimentos de 2004

A Polónia foi um dos dez países que se juntaram à União Europeia em 2004


- A 1 de Maio, a União Europeia teve o seu maior alargamento ao passar de 15 para 25 países-membros. Os dez novos membros foram Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia e República Checa. 
- George W. Bush foi reeleito presidente dos Estados Unidos vencendo o candidato do Partido Democrata John Kerry. Diz-se que um dos factores mais importantes para a sua reeleição foi o surgimento durante a campanha de um vídeo de Osama Bin Laden em que este assumia abertamente pela primeira vez ter estado por detrás dos ataques do 11 de Setembro. 
- A australiana Jennifer Hawkins foi coroada Miss Universo, enquanto a coroa da Miss Mundo foi parar à cabeça da peruana Maria Julia Mantilla
- Num caso que chocou a opinião pública em Portugal, a 12 de Setembro, Joana Cipriano de oito anos desapareceu da localidade algarvia de Figueira, no concelho de Portimão. Embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado, a sua mãe Leonor Cipriano e o irmão desta João foram acusados da morte da criança e condenados por homicídio e ocultação de cadáver.   
- Foram lançada a Nintendo DS, bem como jogos como Grand Theft Auto: San Andreas, Halo 2, Need For Speed 2: Underground, Sonic Heroes, World Of Warcraft, The Sims 2, Doom 3, Far Cry e Singstar.

18. Três medalhas para Portugal nos Jogos Olímpicos de Atenas

13.8.2004: momento da cerimónia de abertura
dos Jogos Olímpicos em Atenas


Os Jogos da XXVIII Olimpíada tiveram lugar em Atenas entre 13 e 29 de Agosto. Como pátria-berço dos Jogos Olímpicos da Antiguidade e dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896, foi um verdadeiro regresso às raízes. Mais de 10500 atletas de 201 países competiram em 28 desportos. Pela primeira vez, houve competição feminina na luta livre e na disciplina do sabre na esgrima. As provas de lançamento do peso em ambos os sexos decorreram no local da Antiga Olímpia onde se disputaram os Jogos Olímpicos da Antiguidade. Como então o evento estava vedado às mulheres, foi a primeira vez que mulheres competiram desportivamente nesse local. O Estádio Panatenaico que foi palco dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna em 1896 acolheu as provas de tiro com arco e foi o local de chegada para as maratonas. 

Entre as performances desportivas, destaque para as oito medalhas (6 de ouro e duas de bronze) de Michael Phelps na natação, os duplos triunfos da britânica Kelly Holmes (800m e 1500m) e do marroquino Hicham El Guerrouj (1500m e 5000m), a façanha da canoísta alemã Birgit Fischer que se tornou a primeira atleta a ganhar medalhas de ouro em seis Jogos Olímpicos diferentes, as vitórias da Argentina nos torneios masculinos de futebol e basquetebol e o drama do brasileiro Vanderlei de Lima que foi atacado por um tresloucado padre irlandês quando liderava a corrida da maratona, tendo recuperado para ainda ganhar a medalha de bronze. 

Sérgio Paulinho no pódio olímpico com Paolo Bettini e Axel Merckx


O voo de Francis Obikwelu para a medalha de prata nos 100m

Rui Silva obteve a medalha de bronze nos 1500m

Portugal apresentou-se em Atenas com 81 atletas e pela primeira vez desde 1984, conseguiu três medalhas. Logo no primeiro dia, Sérgio Paulinho surpreendeu tudo e todos na prova de estrada do ciclismo onde aguentou-se com o consagrado Paolo Bettini na frente da prova, só perdendo para o italiano no esforço final e alcançando a medalha de prata. Francis Obikwelu voou para outra medalha de prata nos 100m em 9:86 segundos, um recorde da Europa que se manteria na sua posse até 2021 nos Jogos de Tóquio. Por fim, Rui Silva sprintou nos 1500m e chegou ao bronze. Alberto Chaíça na maratona, Vanessa Fernandes no triatlo, Emanuel Silva na canoagem e João Rodrigues, Gustavo Lima e a dupla Álvaro Marinho e Miguel Nunes na vela obtiveram também bons resultados. A maior decepção foi a participação da seleção masculina de futebol que tinha nomes como Moreira, Raúl Meireles, Fernando Meira, Hugo Almeida, Carlos Martins, Fréchaut, Luís Boa-Morte, Bosingwa, Danny e até um Cristiano Ronaldo fatigado pelo Euro 2004, mas que teve uma fraca prestação com a eliminação na fase de grupos após derrotas com o Iraque e a Costa Rica e somente uma vitória contra Marrocos.  

Seguiram-se depois os Jogos Paralímpicos entre 17 e 28 de Setembro. Portugal participou com 28 atletas e alcançou doze medalhas (2 de ouro, 5 de prata e 5 de bronze), graças a João Paulo Fernandes, Fernando Ferreira, Cristina Gonçalves, António Marques, Pedro Silva, Bruno Valentim e Fernando Pereira no boccia, Carlos Ferreira e José Alves no atletismo e João Martins e Susana Barroso na natação.  

19. O FC Porto de Mourinho conquistou a Champions

Depois da Taça UEFA em 2003,
FCP levantou o troféu das Champions em 2004



Depois da conquista da Taça UEFA no ano anterior, o FC Porto comandado por José Mourinho chegou à mais alta das glórias em 2004, ao não só dominar a Liga Portuguesa a seu bel-prazer como sobretudo a vencer o Mónaco por 3-0 na final da Liga dos Campeões a 26 de Maio na cidade alemã de Gelsenkirchen para ganhar o seu segundo título europeu. E a 12 de Dezembro no Japão ainda venceu aquela que seria a última final da Taça Intercontinental, batendo nos pénaltis os colombianos do Once Caldas. Um raro desaire portista foi na Taça de Portugal, onde perdeu na final para o Benfica for 1-2.
O Valencia venceu o Marselha por 2-0 em Gotemburgo para ganhar a Taça UEFA, também conquistando o campeonato espanhol e a Supertaça Europeia contra o Porto. 

Há que também destacar outros feitos do desporto nacional em 2004 como o título mundial de Naide Gomes em pista coberta no pentatlo e o quinto lugar de José Azevedo na Volta À França. 

20. Como uma força que só a Grécia pôde parar


Mas não há como negar, se 1998 em Portugal foi o ano da Expo, 2004 em Portugal foi o ano do Euro. Após cinco anos de preparação, o país engalanou-se para receber as outras quinze equipas e respectivos adeptos que iriam cá disputar o Campeonato Europeu de Futebol em Lisboa (Luz e Alvalade), Porto (Dragão e Bessa), Aveiro, Braga, Coimbra, Guimarães, Leiria e Algarve. Como desejado, foi um torneio emocionante e com uma organização exemplar em vários aspectos (ao que parece as forças armadas nacionais até terão conseguido neutralizar um ataque terrorista), os adeptos europeus renderam-se à hospitalidade portuguesa e só uns distúrbios de adeptos ingleses em Albufeira deixaram nota negativa.


A seleção das Quinas, comandada por Luiz Felipe Scolari, era composta por Ricardo, Quim, Moreira, Paulo Ferreira, Rui Jorge, Jorge Andrade, Fernando Couto, Nuno Valente, Miguel, Beto, Ricardo Carvalho, Costinha, Luís Figo, Petit, Rui Costa, Maniche, Tiago, Deco, Pauleta, Simão Sabrosa, Cristiano Ronaldo, Nuno Gomes e Hélder Postiga.   

O primeiro jogo no dia 12 de Junho no Estádio do Dragão contra a Grécia seria uma triste exibição e premonição. À partida, a Grécia parecia ser um adversário bem acessível até porque esta era apenas a terceira grande competição em que se qualificava e tinha tido prestações fracas nas duas anteriores (Europeu 1980 e Mundial 1994); porém, os mais atentos sabiam que a selecção grega comandada pelo alemão Otto Rehhaggel tinha tido uma fase de qualificação muito forte, tendo vencido o grupo e obrigado a Espanha a ir ao play-off; e meses antes, no jogo de inauguração do Estádio de Aveiro, fez Portugal suar num empate a uma bola. E logo aos sete minutos, Karagounis marcava golo e no início da segunda parte, Basinas marcava outro e um Portugal desnorteado só conseguiu diminuir a vantagem num golo de Cristiano Ronaldo nos descontos. Mas após algumas alterações à equipa inicial, Portugal entrou nos eixos e venceu os dois jogos seguintes: 2-0 à Rússia e 1-0 à Espanha, garantindo o primeiro lugar do grupo e o acesso aos quartos de final. Nos outros grupos, França e Inglaterra contiveram Croácia e Suíça, Suécia e Dinamarca fizeram uma aliança nórdica para eliminar Itália e Bulgária e a República Checa e os Países Baixos deixaram de fora uma decepcionante Alemanha e a estreante Letónia. 

Nos quartos de final, Portugal e Inglaterra protagonizaram aquele que foi o melhor jogo do torneio. Michael Owen marca os três minutos, Postiga empata aos 83. No prolongamento, Rui Costa e Frank Lampard marcaram e após um golo anulado de Hargreaves, os penáltis com o show de Ricardo que defende sem luvas e marca o penálti que nos enviou às meias finais com os Países Baixos, que também precisou de grandes penalidades para bater a Suécia. O grego Charisteas (presságio!) deixou a França de fora e a República Checa deu três secas à Dinamarca. 

Na meia-final, o futuro CR7 despe a camisola 17 depois de marcar o primeiro golo contra os laranjas e Maniche marca o segundo golo e nem o autogolo de Jorge Andrade assusta. Enquanto isso, a Grécia derruba uma República Checa que tinham até então feito uma campanha brilhante (com cinco golos, o avançado Milan Baros foi o melhor marcador do torneio) com um golo de prata no prolongamento. 







E por fim no dia de 4 de Julho, o país está todo com a Selecção com bandeiras nacionais multiplicadas nas janelas, as imagens das televisões seguem o autocarro de Alcochete até ao Estádio da Luz. Portugal está pela primeira vez na final de um Europeu de futebol, e em território nacional, após exibições emocionantes, redimiu-se da derrota no jogo inicial e vai ajustar contas com a Grécia. Como canta Nelly Furtado no show antes do jogo, somos "como uma força que ninguém pode parar", certo? Mas aos 55 minutos, Angelos Charisteas remata na rede de Ricardo e a tragédia grega instala-se. Portugal chora com Cristiano Ronaldo enquanto a Grécia celebra o inesperado triunfo. Só doze anos depois em Paris, agora do outro lado da barricada como intruso de uma festa que se previa bem francesa (e também ainda com Cristiano Ronaldo e Ricardo Carvalho), Portugal irá contrariar esta sina do quase lá.  

As lágrimas de Cristiano Ronaldo…



…e a alegria da Grécia.

E vocês, que memórias têm do ano 2004? Contem tudo nos comentários ou na nossa página de Facebook. Para todos, um feliz ano de 2024!  




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