domingo, 4 de março de 2012

Conan, O Rapaz do Futuro (1978)

Uma bela série que descobri graças ao Caderneta de Cromos nº 327 - Conan o Rapaz do Futuro.



A série japonesa de 1978 "Conan, O Rapaz do Futuro" (Mirai Shōnen Konan; "Future Boy Conan") é uma adaptação livre The Incredible Tide (1970) de Alexander Key, e durante os seus 26 episódios, centra-se nas aventuras de um grupo de crianças num mundo pós-apocalíptico.
A estória é enganadoramente simples: no longínquo ano de 2008, uma guerra mundial com poderosas armas ultra-magnéticas devasta metade do planeta, desvia o eixo magnético da Terra e os cinco continentes afundam-se no mar. Alguns humanos tentam fugir numa nave espacial mas não conseguem escapar e caem de volta à destruição. São estes os acontecimentos ilustrados no tenebroso prólogo que antecede o animado genérico inicial em todos os episódios, pelo menos na versão japonesa, que foi a que assisti.


Vinte anos mais tarde, os sobreviventes e os seus descendentes lutam pela vida nos poucos pedaços de terra que permaneceram à superfície. É na ilha onde caiu a nave espacial que vive Conan, neto de um dos tripulantes da nave. Os dois vivem sozinhos na ilha, e Conan nunca viu outro ser humano além do seu avô. Conan é um rapaz de 11 anos, muito forte, divertido, com um enorme fôlego que desenvolveu enquanto faz pesca submarina. Um dia na praia encontra uma rapariga desmaiada, que resgata e acolhe em casa. Ela é a tímida e doce Lana, que quase que se afogou ao fugir dos seus raptores, liderados por Dyce, o capitão do navio Barracuda. Além de Dyce, também a jovem militar Monsley, está à caça de Lana, para a levar a Industria – uma sociedade assente na tecnologia e escravatura – e entregar a Lepka, o administrador e futuro ditador de Industria, que deseja descobrir o paradeiro do avô de Lana, o antigo cientista Dr. Lao. O Dr. Lao sabe o segredo da energia solar concentrada, que Lepka quer usar para nas armas de destruição de Industria e conquistar o que sobra do Mundo. A história arranca verdadeiramente quando Monsley faz um raide à ilha de Conan e consegue raptar Lana e fugir a bordo do seu avião. O avô de Conan morre como consequência de ferimentos que sofreu durante o confronto e Conan assume a missão de recuperar Lana, e durante a sua odisseia vai enfrentar inúmeros perigos e conhecer vários amigos, sendo o mais importante Jimsy, um rapaz selvagem que vive numa ilha explorada por Industria, e que depois de uma inimizade inicial torna-se o companheiro de aventuras de Conan, acompanhando-o até ao final.


Provavelmente assisti a esta série quando foi exibida na RTP no inicio dos anos 80, mas era novo de mais para ter recordações concretas. Por isso, mais de trinta anos depois da criação de Conan o Rapaz do Futuro, vi os 26 episódios quase de seguida, e só posso dizer que estou pasmado. Pasmado com a qualidade, em todos os departamentos técnicos e artísticos desta animação. A riqueza e complexidade dos personagens, desde os principais aos secundários, dos heróis aos vilões, são surpreendentes, ainda mais tratando-se de uma série destinada a crianças. Todas as personagens têm as suas motivações e objectivos definidos, e no entanto, todas evoluem e conseguem redenção do mal que fizeram. Todos, excepto o vilão absoluto da série, o impiedoso Lepka, obcecado com controlo e poder. Apesar das limitações da época, os personagens estão perfeitamente integrados num mundo coerente, com cenários e design geniais, fruto do trabalho do mestre da animação japonesa Hayao Miyazaki (Heidi, Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro, O Castelo Andante, etc), que realizava com Conan a sua primeira série de TV. Ao longo da série é possível ver uma série de designs (aviões, edifícios e personagens) e temas recorrentes nos futuros projectos de Miyazaki, como o valor da amizade, da responsabilidade e do perdão, o respeito pela Natureza, noções da necessidade de um desenvolvimento sustentável para evitar a auto-destruição da sociedade. E todas estas “lições” ou mensagens não são dadas em modo de sermões morais, mas integrados na narrativa de modo natural. Alguns aspectos dos primeiros episódios hoje seriam considerados politicamente incorrectos, nomeadamente o consumo de álcool e tabaco por personagens menores de idade, coisas que dificilmente aparecerão numa série actual. Outro ponto de destaque é a brutalidade como as personagens juvenis são tratadas pelos vilões. Punições e torturas frequentes, num mundo desumanizado, que estas crianças lutam para mudar. Como já referi anteriormente, só o grande vilão não evolui durante a história, porque, durante o decorrer da viagem, vários vilões mudam de lado e passam a ajudar Conan e os seus amigos. O lado cómico da série é fornecido principalmente por Conan, Jimsy e Dyce. Durante os episódios podemos ver - além das fantásticas cenas de acção que põem a maioria das animações actuais a um canto - paisagens pós-apocalípticas de sonho, como as fantásticas imagens de cidades submersas ou campos semeados de ruínas ou tanques de guerra, os lembretes da terrível guerra que devastou o planeta.


O genérico da série é outra obra à parte, totalmente contrastante com o prólogo que o antecede, reflectindo um espírito de despreocupação, ilustrado e animado com cores fortes, realçando a inocência e alegria da relação dos protagonistas Conan e Lana. A acompanhá-los está outra personagem importante: Tikki, a inseparável gaivota que Lana consegue contactar telepaticamente. A música do genérico inicial é “Ima Chikyū ga Mezameru” (今地球がめざめる “Now, Earth is awaking”) interpretado por Naozumi Kamata e Yūko Yamaji, que também cantaram no genérico final o tema “Shiawase no Yokan” (幸せの予感, “Presentiment of Happiness”). Enquanto pesquisava para este texto descobri, que além de jogos de vídeo, Conan teve direito a uma sequela/remake em 1999 chamada “Future Boy Conan 2 - River Adventure” (Mirai Shounen Conan 2 - Taiga Daiboken) que não teve envolvimento de Miyazaki.
Em suma, é uma série de ficção científica épica, belissimamente ambientada, com excelente animação, impactantes cenas de acção, música e ritmo. Um clássico intemporal e para todas as idades, que envelheceu muito bem, uma obra-prima que vale a pena ver ou rever.


 
Décadas depois, a influência desta animação de  Miyazaki ainda é visível, mesmo em Portugal, como por exemplo no nome artístico do músico Tiago Miranda, o excêntrico Conan Osíris, revelação de 2018 e concorrente ao Festival da Canção de 2019.


Mais informações e downloads:



Texto publicado originalmente no CINE31: "Conan O Rapaz do Futuro - 1978"






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