quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sarilhos com Elas (1985-1992)

por Paulo Neto

Por muito que se diga que "a idade é um posto" e "velhos são os trapos", a verdade é que vivemos numa sociedade obcecada pela juventude. E, por exemplo na televisão, raramente tem sido abordada a vida na terceira idade, a não ser nas diversas variantes dos papéis dos avôzinhos e avózinhas e/ou algo dentro do estereótipo do velho rabugento. Quase sempre em personagens assexuadas, pouco activas fora do ambiente doméstico e saudosistas.



Daí que a série "Sarilhos com Elas" ("The Golden Girls" no original) tenha sido bastante revolucionária na abordagem a um grupo de personagens de idade avançada, tendo contribuindo para quebrar alguns estereótipos quanto a terceira idade, sobretudo o de que nesta idade, já não se pensa nem se pratica sexo, especialmente as mulheres.

A série foi exibida nos Estados Unidos entre 1985 e 1992, ao longo de sete temporadas. Em Portugal, foi exibida na RTP em diversos horários (lembro-me de ter visto sobretudo à hora de almoço nos finais dos anos 80) sem nenhum regularidade específica. A série foi criada por Susan Harris (Soap- Tudo em Família, Benson).

A série contava as vivências de quatro mulheres, todas acima dos cinquenta, que vivem juntas numa casa em Miami. Apesar de terem as quatro personalidades muito diferentes e de várias vezes envolverem-se em picardias verbais ou até em acesas discussões, entre elas desenvolve-se uma profunda amizade e uma forte coesão que as vão ajudando ao longo dos desafios que enfrentam. Elas recordam o passado mas sem saudosismo, pois ainda sentem que tem muito para viver. Por isso, nenhuma delas vê na idade um entrave aos seus objectivos, nomeadamente no que toca a vida amorosa. Um dos hábitos recorrentes do grupo é de conversarem na cozinha enquanto comem um cheesecake.


Dorothy Zbornak (Bea Arthur) é a mais inteligente e racional do grupo. Divorciada após o marido a trocar por uma mulher mais jovem, Dorothy tem por isso um temperamento um pouco difícil, e por vezes passa por intimidadora e antipática. Também nunca resiste a um bom sarcasmo. Mas no fundo, é sensível, humilde e, apesar de às vezes se irritar bastante com as companheiras, está sempre pronta a ajudá-las. A sua vida amorosa também é muito atribulada: o seu ex-marido Stanley tenta várias vezes a reconciliação mas em vão, e muitos dos homens por quem ela se interessa revelam-se não muito virtuosos. É professora pré-reformada e a maioria dos seus trabalhos ao longo da série são relacionados com o ensino.


Blanche Deveraux (Rue McClanahan) é um antiga beleza sulista de Atlanta que mudou-se para Miami depois de enviuvar. É a dona da casa em que as quatro amigas vivem e trabalha num museu de arte. Depois de vários anos fielmente casada, com a viuvez tornou-se louca por homens, roçando a promiscuidade, nunca se negando a um engate e coleccionando namorados e aventuras ocasionais. A sua preenchida vida amorosa (e sexual) é alvo de frequente troça por parte das amigas.


Rose Nylund (Betty White) é a mais ingénua e pacífica, quase a pateta alegre do grupo. Trabalha sobretudo como conselheira de pessoas em luto e faz muito voluntariado. Está sempre a falar das suas ascendências suecas e de histórias estranhas (e muitas vezes, pouco relevantes para a situação) da sua terra natal, St. Olaf, no Minnesota. Ao contrário de Dorothy e Blanche, não tem muito interesse em namoros, até porque o seu marido e um namorado posterior morreram durante o acto sexual. Ao longo da série, debate-se com vários problemas de saúde, onde o apoio das amigas é crucial.


Sophia Petrillo (Estelle Getty) é a mãe de Dorothy. Nascida na Sicília, emigrou para Nova Iorque para escapar a um casamento arranjado. Passou a viver com a filha e as companheiras desta quando o lar onde vivia ardeu num incêndio. Apesar da sua aparência frágil e típica de uma senhora idosa, a sua mente ainda é bastante lúcida e sobretudo, Sophia é bastante desbocada. Sempre que pode, adora soltar um comentário incisivo sobre as atrapalhações de Dorothy, a promiscuidade de Blanche e a ingenuidade de Rose. Tal como Rose, gosta de contar histórias da sua juventude na Sicília. Mas apesar de tudo, não só Sophia e Dorothy têm geralmente uma boa relação, como Blanche e Rose a vêem com uma figura maternal e gostam de lhe pedir conselhos, que embora algo bizarros, costumam ser certeiros.

A série termina quando Dorothy casa com o tio de Blanche (Leslie Nielsen) e muda-se para Atlanta. Sophia decide ficar em Miami com Rose e Blanche. As três tornam-se donas de um hotel durante uma breve spin-off da série, "The Golden Palace". Entre os nomes sonantes que fizeram participações especiais na série estão George Clooney, Bob Hope, Julio Iglesias, Sonny Bono, Debbie Reynolds, Mickey Rooney e até Quentin Tarantino (como um imitador de Elvis). 



"Sarilhos com Elas" recebeu duas vezes o Emmy e três vezes o Globo de Ouro para Melhor Série de Comédia e cada uma das quatro actrizes protagonistas ganhou pelo menos um Emmy. Algumas curiosidades: Estelle Getty era um ano mais nova que Bea Arthur, de quem fazia de mãe; Rue McClanahan estava para fazer de Rose e Betty White de Blanche, mas como essas personagens eram parecidas com as que desempenharam em séries anteriores, optou-se por trocarem os papéis; na sinopse original, Dorothy era descrita como uma personagem tipo "Bea Arthur" e mal a própria soube disso, ficou em interessada no papel e os produtores prontamente acederam.

Infelizmente, actualmente apenas Betty White, encontra-se viva, mas ainda bastante activa (vimo-la recentemente nos filmes "A Proposta" e "Outra vez tu?" e na série "Boston Legal"). As outras três faleceram em anos consecutivos: Getty em 2008, Arthur em 2009 e McClanahan em 2010.

As actrizes da adaptação portuguesa "Queridas e Maduras"

Importa também referir que "Sarilhos com Elas" foi uma das poucas séries americanas a ter uma adaptação portuguesa. Foi em 1995, para a RTP, com o título "Queridas e Maduras", com um igualmente ilustre quarteto protagonista: Catarina Avelar, Lia Gama, Amélia Videira e Luísa Barbosa. A série também foi adaptada em Inglaterra, Grécia, Espanha (duas vezes) e Rússia. 

O tema do genérico é "Thank you for being a friend", interpretado por Cynthia Fee.









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