segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Tal Canal (1983-84)

por Paulo Neto



"O Tal Canal" é o melhor programa de sempre da televisão portuguesa. A sério. Foi o que ditou uma votação promovida pelo Diário de Notícias, a revista Time Out e as Produções Fictícias em 2007, com os portugueses a darem mais votos ao programa que elevou Herman José ao posto de maior humorista nacional onde permaneceu anos a fio. Votações como esta valem aquilo que valem mas a verdade é que esse pesado título não fica mal entregue a "O Tal Canal", que foi um dos primeiros programas (sem ser desenhos animados) que me lembro de acompanhar com regularidade.  

Escrito por Herman José, António Avelar Pinho (este senhor estava em todas!), Tozé Brito e António Tavares Teles e realizado por Nuno Teixeira, o programa foi a grande novidade na rentrée televisiva de 1983. Foram exibidos doze episódios entre Outubro de 1983 e Janeiro de 1984. Além do Herman, o elenco incluía Helena Isabel, Lídia Franco, Manuel Cavaco, Margarida Carpinteiro, Natália de Sousa e Vítor de Sousa.

O elenco de "O Tal Canal" nas suas personagens da telenovela "O Diário de Marilú"

Tratava-se de um novo canal de televisão, cujo dono e director era o Professor Doutor Oliveira Casca que oferecia aos portugueses, nove anos antes do aparecimento das privadas, uma programação alternativa à RTP1 e à RTP 2. E só o genérico em rap (e que proporcionava um trocadilho badalhoco com o título do programa) era sinal que estávamos perante algo bem inovador.



No início de cada emissão, uma locutora de continuidade (Helena Isabel) recebia os telespectadores e indicava quais os programas que teríamos oportunidade de assistir. Eis uma lista:

- "O Esférico Rolando Sobre a Relva": onde Herman introduziu o emblemático José Estebes e onde apareceram alguns dos jogadores mais famosos da altura como Diamantino, Jordão e até o Eusébio himself.
- "Informação 3": bloco noticiário conduzido por Carlos Filinto Botelho, Beleza de Sousa , Flávio Portugal e Manuel Freio sempre com uma ficha técnica sui generis.
- "Momento Infantil": programa de pedagogia infantil onde o pequeno Nelito põe a Dra. Palmira Peres de cabeça em água.
- "Cozinho para o Povo": programa de culinária apresentado por Filipa de Melo e Castro Bragança Sousa Dias e a sua serviçal Emília onde preparam pratos com imensa paprika. O episódio mais famoso é aquele em  que Filipa e Emília terminam a atirar panquecas contra a parede.
- "Tempo dos Mais Velhos": programa para os jovens com mais de setenta anos. (Paródia de "Tempo dos Mais Novos")
- "Estamos Nesta": magazine musical para novos valores musicais como Tozé, o líder da banda rock Creolina  com o hit "Socorro, Tirem-me da Garagem!" (Paródia de "Estamos Nessa")
-  "Jaquina, Jaquina, Jaquina": magazine de moda onde Jaquina, modista emigrada em França, mostra a Jaquina-doméstica e Jaquina-assalariada rural peças da sua colecção "Crise '84 (quatre-vingts-quatre)". (Paródia de "Maria Maria Maria")
- "O Tal Rural": com o Engenheiro Sousa Viscoso. (Paródia de "TV Rural")
- "Tony Silva Show": com o sucesso no "Passeio dos alegres", o "el creador de toda a música ró" ganhou o seu próprio programa onde recebia estrelas das música como Sérgio Godinho, José Cid, Heróis do Mar e as Doce e onde a sua assistente/coelhinha indicava com cartazes como é que a plateia devia reagir.
- e last but not least, a telenovela "O Diário de Marilú": onde pudemos acompanhar os tormentos da personagem-título como sofredora criada da "Condensa" da Penha de França (a do bordão "Não me chame condensa que me põe tensa!"). Embora (aparentemente) apaixonada pelo professor de francês John Smith, ela não se coibia de alguns contactos próximos com a filha da "Condensa", Cilinha, de quem é amiga e confidente. Por sua vez, Cilinha ama o másculo jardineiro Inácio, sem imaginar que ele é amante da sua mãe. E Marilú nem sonha que o terrível Fabricius tem um plano maquiavélico para a matar, com a cumplicidade de espia Maria do Céu e da capelista Graciete, ambas suas amantes... No último episódio, vem-se a saber que Marilú é afinal Augusto, que se transvestira para se aproximar de Cilinha, a sua paixão de infância. E num bom velho happy ending, Augusto e Cilinha casam-se e são felizes para sempre. (Ou será que Fabricius levou finalmente a sua avante?)

Jaquina e a sua colecção "Crise quatre-vingts-quatre"

A Dona Palmira explicando os psitacismos do Nelito

José Estebes e o seu "Esférico rolando sobre a relva"

Filipa de Melo e Castro de Bragança Sousa Dias e Emília em "Cozinho para o povo"

Carlos Flinto Botelho em "Informação 3"

Sérgio Godinho, convidado no Tony Silva Show


Pelo meio, havia hilariantes anúncios, alguns parodiando os anúncios mais populares da época, outros anunciando fantásticos produtos como o limpa-sanitas Antrax (com sabor a laranja) ou os pensos Vilaças para a tosse. Mas aquele que eu guardei sempre na memória foi o anúncio dos sabonetes Flávio, onde uma Lídia Franco, de olhos vendados, devora um sabonete que confunde com um pastel de bacalhau.

Com uma boa dose de humor nonsense, "O Tal Canal" marcou o seu tempo ao distanciar-se do humor televisivo que se fazia então, baseado no teatro de revista. Por vezes, os sketches praticavam autênticos exercícios de autodesconstrução como por exemplo, um sketch do "Informação 3" que termina logo depois de ter começado. Além de ter elevado o Herman a génio do humor nacional, o legado do "Tal Canal" foi de tal modo marcante que o programa chegou a ser reposto em horário nobre em 1997 e, como foi referido ao início, ter sido eleito o melhor programa de sempre da televisão portuguesa numa votação pública em 2007.
Em 2008, por ocasião do 25.º aniversário, a série foi finalmente editada em DVD, que vim a adquirir dois anos depois. O programa ainda hoje mantém muito do seu humor bem conservado. E apesar de também beneficiar do efeito "cápsula do tempo dos anos 80", a verdade é que certas piadas sobre a crise que Portugal atravessava em 1983 soam bem actuais em 2012...Dá a ideia que quanto mais as coisas mudam, mais as coisas ficam na mesma.


Apesar do sucesso de "O Tal Canal" ter sido indiscutível, Herman José tem sido categórico em afirmar que o projecto tinha sido rejeitado ou amplamente editado (leia-se "censurado") pela direcção da RTP, e só com a mudança do poder político e a entrada de José Niza para director de programas é que o programa pôde ser concretizado. Mas Herman confessaria que toda a escrita e elaboração do programa fora um processo tão extenuante que, apesar de pedidos da RTP e do público para uma segunda série, ele preferiu não dar continuidade e optou por um projecto menos elaborado, que viria a ser o "Hermanias".

Cromo da "Caderneta de Cromos" de Nuno Markl  sobre "O Tal Canal", com a participação de Herman José: (n.º 604, 8.4.2011)        

Alguns episódios:







  


Blue Thunder / Raio Azul (1984)


A série teve origem com a película homónima, "Blue Thunder (Operação Thor)" [ver trailer], de 1983. Além do nome, a  série de 1984 reutilizou filmagens do filme. Em Portugal, na RTP, teve o nome "Raio Azul" (não confundir com o desenho animado), no Brasil "Trovão Azul". Curiosamente, recordo-me melhor do título espanhol: "El Trueno Azul", provavelmente vi alguns episódios na TVE.

O nome "Blue Thunder" referia-se ao helicóptero "protagonista", modelo Aérospatiale SA-341G Gazelle modificado, que tinha uma série de características especiais de alta tecnologia, que incluíam câmaras de infravermelhos e visão nocturna, vigilância sonora e um "modo silencioso", e claro, grande velocidade e armamento poderoso. Esta máquina militar, um "Big Brother voador" estava ao serviço da Policia de Los Angeles, supervisionado por uma equipa do Departamento de Justiça.


No elenco, James Farentino (Frank Chaney, o pouco ortodoxo piloto do "Blue Thunder"), Dana Carvey (Clinton Wonderlove, aka "JAFO", o génio da electrónica, novato na policia). A equipa de apoio terrestre era interpretada por Bubba Smith ("Bubba" Kelsey), Dick Butkus ("Ski" Butowski). Também Sandy McPeak (Captain Braddock),  e Ann Cooper (J.J. Douglas) faziam parte do elenco.

O genérico inicial:

Antes de ser cancelada, apenas 11 episódios foram produzidos. Além da baixa audiência (contra o êxito Dallas), outro canal tinha em exibição uma série de tema similar: "Airwolf" (1984 - 1987).
Como curiosidade, o helicóptero "Blue Thunder" apareceu brevemente no episódio piloto da série MacGyver [fonte]:

Capa de uma edição em DVD.

Apesar da curta duração,o site "Classic Articulation" tem fotos de um raro brinquedo do "Blue Thunder", que retrata bem o belo design do helicóptero:


domingo, 29 de julho de 2012

Postal - Ilha da Armona

Agora em pleno Verão, foi bom recordar este local, que conheço bem, e que aconselho a visitar: a Ilha da Armona, em Olhão.
Alguns postais com imagens capturadas na Ilha da Armona, clique nas fotos para aumentar:

Ilha da Armona - Olhão - Algarve - Portugal - 1233
[Francisco Más Lda. Editores e Artes Gráficas]


Ilha da Armona - Olhão - Algarve - Portugal - 920
[Francisco Más Lda. Editores e Artes Gráficas]


 A praia recheada de veraneantes , no canto inferior direito do postal o mítico "Tolinhas Bar", ao lado da ponte. Não sei o ano dos postais, nem das fotos, mas arrisco final dos anos 80/inicio dos 90, porque foi nesta época que frequentei mais a ilha.



Ilha da Armona - Olhão - Algarve - Portugal - 5304
[Francisco Más Lda. Editores e Artes Gráficas]


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ai, os Homens (1996-1999)

por Paulo Neto

Continuamos a viagem pela produção nacional televisiva nos anos 90. Na área do entretenimento, um dos programas mais recordados da época é o "Ai, os Homens", que a SIC exibiu em cinco temporadas entre 1996 e 1999. O programa era apresentado por José Figueiras e produzido por Teresa Guilherme, adaptado de um formato australiano que já fazia sucesso em vários países .




Tratava-se de um concurso onde dez candidatos teriam de impressionar uma audiência composta por 150 mulheres, incluindo uma convidada famosa presente em cada sessão, ao longo de uma série de provas. No final de cada prova, elas davam os seus votos e os concorrentes eliminados eram atirados a uma piscina pelas assistentes. 
Era crucial causar uma boa primeira impressão, pois logo à partida três concorrentes eram logo eliminados.





Seguia-se a prova livre onde os concorrentes davam largas à imaginação para impressionar a assistência: cantar, dançar, representar, contar anedotas, exibir as suas capacidades físicas, valia de tudo. Como exemplo, eis o concorrente Vítor Grade que colocou no YouTube a sua prova onde encarnou Lionel Richie e Diana Ross num verdadeiro dueto 2 em 1!



Depois de se eliminarem mais dois candidatos, avançava-se para a prova de dança, onde cada concorrente tinha de dançar com uma das assistentes um determinado estilo de dança. Após mais um concorrente eliminado, era a vez da prova de declaração de amor, onde os concorrentes teriam de gastar o latim para impressionar a convidada VIP. Alguns optavam por palavras românticas, outros por abordagens mais cómicas. Tomemos como exemplo este vídeo onde os concorrentes galantearam a cantora Nucha. (Sim, o primeiro concorrente é o Jimmy dos D'Arrasar!)




O programa teve outras provas que com o avançar das temporadas foram descontinuadas, como a prova de canto, uma prova onde tinham de responder a perguntas das mulheres na assistência e uma prova de role-play onde tinham de interagir com as assistentes numa determinada situação.

Depois de mais um concorrente eliminado, os três finalistas seguiam para a dupla prova mais ansiada pelas cento e cinquenta juradas e pelas telespectadoras: primeiro, os candidatos subiam ao palco com um disfarce para fazerem um strip-tease e depois teriam de comparar o seu belo caparro com o do bodybuilder residente. O mais famoso foi o Ulisses  cujo vocabulário consistia apenas da palavra: "NÃO!" A personagem era desempenhada por Joaquim Guerreiro que desde então tem feito alguns trabalhos como actor, por exemplo nas telenovelas "Terra Mãe" e "Anjo Meu". Mas também houve por exemplo, o Hércules, encarnado por Victor Júnior (Viktor-Viktor), que curiosamente tinha participado previamente como concorrente, e que mais tarde entraria no primeiro Big Brother Famosos e que chegou a tentar a sua sorte como cantor.








Igualmente mítica era a personagem do Johnny Bigode, interpretada pelo saudoso António Feio. Johnny Bigode costumava interromper o programa com as suas pretensões de possível concorrente e ilusório conquistador de corações femininos, deixando para a histórias dois famosos bordões: "Eh, carapau!" e "Ariops!" 
À parte o Tony da "Conversa da Treta", foi a mais popular personagem interpretada por António Feio. Um dos autores destes sketches era um então ainda desconhecido Nuno Markl.

O vencedor de cada sessão ganhava mil contos em dinheiro (como se pode ver neste vídeo onde o concorrente João Véstia documenta o momento da sua vitória) e qualificava-se para a finalíssima da temporada, onde a convidada VIP era Teresa Guilherme. O vencedor absoluto da primeira temporada foi nada mais nada menos que Jorge Kapinha, que também viria a integrar os D'Arrasar. Eis alguns momentos da sua participação:



Além de Kapinha e Jimmy, outros concorrentes que viriam a tornar-se posteriormente conhecidos do grande público foram Fernando Melão dos Excesso e Sérgio Vicente da segunda edição do Big Brother. 



Regra geral, as juradas tendiam a eleger aqueles que primassem mais por um palminho de cara e de corpo, mas recordo-me da sensacional vitória de Pedro Feio numa sessão da segunda temporada. Com cabelo desgrenhado, óculos de massa, um princípio de barriga e pelos do peito mal semeados, este concorrente fazia jus ao apelido mas acabou por cativar tudo e todas com o seu sentido de humor e talento musical, vencendo a sua sessão e chegando ao top 3 da finalíssima.

Mas o programa também tinha motivos para o público masculino regalar a vista, uma vez que entre as belas assistentes do programa estavam beldades como Marta Pereira, Sónia Antão, Mónica Sofia, Raquel Loureiro, Vera Deus, Adriana Iria e a britânica Joanne Iverson

Para terminar, de referir que uma sessão especial do programa com famosos foi para o ar durante a passagem de ano 1996/97. Entre esses destemidos VIP estavam Guilherme Leite, Camacho Costa, Nuno Graciano, Luís Esparteiro e Carlos Areia. 

No seu livro "Isso Agora Não Interessa Nada" de 2005, que reúne crónicas que ela escreveu para a TV Guia sobre os bastidores dos programas que apresentou e produziu, Teresa Guilherme conta um episódio tragicómico sobre um concorrente do "Ai Os Homens" que quase ia desta para melhor durante o programa devido ao seu orgulho de macho. 
Uma das perguntas que figurava no questionário de inscrição no programa que os candidatos a concorrentes era se eles sabiam nadar. Uma resposta negativa ditava a eliminação automática, porque a piscina do programa não tinha pé. Porém, cientes de que por vezes o ego masculino fala mais alto do que a voz do bom-senso, os elementos da produção voltavam a repetir essa pergunta aos concorrentes, desde os castings até aos momentos antes do provável banho forçado. E de vez em quando, alguns, vendo a profundidade da piscina, acabavam por admitir que as suas habilidades de nadador deixavam muito a desejar e desistiam.  
Porém, ao fim de tantos programas e tantas temporadas, a produção foi relaxando e confiando na palavra dos concorrentes. Até que certo dia… Conta a TG:

"Tinham acabado as provas livres. Estavam todos perfilados à beira da piscina e aguardavam o veredicto supremo das cento e cinquenta juízas. Era sempre um momento de grande tensão. Mas nem nós imaginávamos que para um dos dez a tensão era mais profunda que a piscina do estúdio.
Depois de todas as mulheres dizerem da sua justiça, as lindinhas (...) salvam com um beijo os preferidos da maioria da plateia e atiram para a piscina o que tem menos votos.
Cheio de ritmo, o José Figueiras apresenta desde logo a próxima prova. As meninas aplaudem e todos os olhos se fixam no palco que fica no lado oposto da piscina.
Nos bastidores, sigo atentamente tudo o que se passa dentro do estúdio, até que sinto alguém a puxar-me timidamente a manga. Era a senhora da limpeza:«Dona Teresa, a senhora desculpe, mas aquele rapaz que atiraram mesmo agora para dentro da piscina ainda não saiu.» 
Sem parar a gravação, discretamente, fui até à beirinha da piscina preparada para dar um raspanete ao concorrente eliminado e perguntar-lhe se tinha vindo a banhos. Quando olhei para dentro de água, lá estava o rapaz todo vestidinho. Ora vinha à tona, ora ia ao fundo. Não foi difícil perceber que ele não estava armado em parvo, estava era armado em afogado. 
Esqueci-me por um momento que era a responsável máxima por aquela produção e gritei como grita qualquer mulher que vê uma pessoa a afogar-se: «ACUDAM QUE ELE AFOGA-SE!» Ora quando uma mulher grita com altivez, gritam logo duas ou três...ou cento e cinquenta.
Foi um verdadeiro pandemónio."   

Promo (1998):








terça-feira, 24 de julho de 2012

Riscos (1997-1998)

por Paulo Neto

Existem três grandes marcos na teledramaturgia adolescente nacional: o primeiro passo dado com "Os Melhores Anos", essa instituição que dá pelo nome de "Morangos com Açúcar" e, entre essas duas, "Riscos"


Produzida e exibida na RTP entre 1997 e 1998, "Riscos" teve mais de cinquenta episódios, divididos em duas partes que iam para o ar ao sábado e ao domingo ao fim da tarde. Como na altura eu tinha a mesma idade das personagens (17/18 anos), foi uma série que eu e os meus colegas acompanhávamos com curiosidade. Frequentemente nós ríamo-nos do facto da nossa escola não passar nada enquanto na escola da série acontecia tudo e mais alguma coisa. Isto porque a série fez por abordar quase todos os problemas dos adolescentes dos anos 90: sexo, drogas, racismo, anorexia, sexo, skinheads, doenças sexualmente transmissíveis,  alcoolismo, sexo, gravidez, pedofilia, suicídio, sexo, prostituição, homossexualidade, cultos religiosos, sexo, vício no jogo, ecologia, conflitos de gerações e sexo. (Sim, havia muito sexo.) O slogan promocional era "A série que fala a tua língua".



A série passava-se num colégio e seguia as aventuras e desventuras de seis jovens protagonistas, todos eles interpretados por estreantes nestas andanças. Mariana (Ana Rocha) é a marrona da turma que se esforça para manter as aparências e por isso faz vista grossa às infidelidades mal disfarçadas do namorado; Diogo (Fernando Martins) é o rapaz mais cobiçado da escola, pouco preocupado com assuntos sérios e em ser fiel à namorada, embora com o avançar da série ele acabe por se tornar mais responsável e se esforçar para manter o namoro com Mariana; Bruno (Edmundo Rosa), é o mais novo do grupo, ainda no 11.º ano mas com uma rodagem igual à dos amigos; Rita (Sara Gonçalves) é a rebelde da escola mas por detrás da sua imagem de motoqueira intrépida e promíscua, está alguém de grande coração, maturidade e lealdade para com os amigos; André (Frederico Ferreira) partilha a faceta conquistadora de Diogo, mas é mais sério e responsável; Maria João (Paula Neves) é tímida (e virgem) mas acaba por desabrochar graças à amizade improvável com Rita e um curto mas significativo namoro com André.


Sara Gonçalves no papel de Rita



Paula Neves e Alexandra Lencastre, mãe e filha em "Riscos"

No núcleo dos professores estão Margarida (Ana Zanatti), a directora da escola e professora de Inglês, mulher inteligente, firme mas justa; Abel (José Wallenstein), o marido de Margarida e professor de Matemática, que secretamente tenta seduzir as alunas (sendo particularmente obcecado por Rita) e Lídia (Alexandra Lencastre), professora de Português e mãe de Maria João, que tenta refazer a vida em Lisboa depois de um passado conturbado. A meio da série, junta-se também Pedro (Diogo Infante), o professor de Filosofia, que após muitos contratempos, acaba com Lídia.

Além disso, a série teve várias participações especiais de nomes conhecidos, alguns até sem ser da área da representação. Só para nomear alguns: Julie Sargent, Cristina Carvalhal, Bárbara Elias, Margarida Marinho, João Pedro Pais, Maria Elisa, António Feio, Vítor Norte e o actor brasileiro Luigi Palhares, que os portugueses conheciam da telenovela "A Próxima Vítima". Também alguns jovens actores conhecidos do público tiveram aqui um dos seus primeiros trabalhos televisivos, desempenhando papéis secundários como Hugo Sequeira, Susana Arrais, Alda Gomes, Ivo Canelas, Nuno Lopes, Márcia Leal, Nuno Távora e Paulo Rocha.
Queria destacar também duas personagens secundárias recorrentes. Ulisses, uma das primeiras personagens homossexuais da ficção nacional, interpretada por Pedro Cunha, que recentemente fez-se notar em "Rosa Fogo". A outra é Daniela, uma personagem muito atribulada, pois começa na cama com o professor Abel em troca dos enunciados dos exames, envolve-se num culto religioso neo-hippie e chega a fazer Ulisses a duvidar brevemente da sua orientação sexual. Esta personagem foi encarnada por Marta Furtado (irmã de Catarina) naquele que foi o seu mais notado trabalho em televisão, já que tem feito carreira essencialmente no teatro.

"Riscos" foi criticada pela inverosimilhança das histórias (como já disse, naquela escola acontecia de tudo), pela montagem cheia de mudanças aceleradas de plano, pela realização por vezes desnorteada, pelo alegado amadorismo das interpretações e sobretudo, pelo excesso de sexo. De facto, dava a sensação que quase todas as personagens, adultas ou adolescentes, tinham ido para a cama umas com as outras. Por exemplo, Maria João começou a série virgem mas acabou com um currículo sexual assinalável. E o facto de logo numa das primeiras cenas do primeiro episódio, termos logo Rita a mostrar os seios, adivinhava-se logo que a série iria primar pelo tom badalhoco.
As críticas têm o seu fundamento mas tal não incomodou o público, sobretudo adolescente, que soube acompanhar a série como puro entretenimento e minimizar os excessos. Ou então, como refere Hugo Silva, autor do blogue "Ainda Sou do Tempo", era mais um daqueles casos de "tão mau que dá a volta e fica bom". E tal como acontece com várias séries e filmes filhos do seu tempo, a série acabou por beneficiar do célebre efeito cápsula onde muito do espírito dos anos 90 foi capturado. 

Após a série, as protagonistas femininas tiveram carreiras bem mais significativas que os masculinos. Paula Neves foi de longe a mais bem-sucedida tendo desde então entrado em diversas telenovelas e algumas séries e filmes, destacando-se obviamente o mítico papel da Mariana "Trinca-espinhas" em "Anjo Selvagem". Ana Rocha foi também presença assídua em séries e telenovelas mas desde "Jura" que anda afastada da televisão, dedicando-se mais a estar do outro lado da câmara: realizou um documentário sobre Adriano Correia de Oliveira e diversos showcases musicais. Sara Gonçalves tem apostado mais no teatro mas tem feito esporadicamente alguns trabalhos em televisão, sendo o mais notado o papel da falsa cega em "Floribella".
Já dos três rapazes pouco se tem visto ou falado deles. Frederico Ferreira acabou por não enveredar por uma carreira de actor. Só voltei a rever Edmundo Rosa nos "Malucos do Riso" e na telenovela "Baía das Mulheres". E Fernando Martins, cuja pinta de galã in the making fazia-me vaticinar que podia ser o Ricardo Carriço da sua geração, só apareceu de novo no pequeno ecrã como apresentador do "Hugo" (substituindo Pedro Pinto) e na série "Alves do Reis".



Um álbum com a banda sonora da série foi também editado, contendo temas de artistas portugueses como Pedro Abrunhosa, Raul Marques & Os Amigos da Salsa, Primitive Reason, Black Out ou Cool Hipnoise e outros internacionais como James, Texas, The Cardigans e Brand New Heavies. O tema da série era interpretado por duas vozes da cena musical nacional dos anos 90: Kika Santos, na altura nos Black Out e Sam, que cantou no tema "Black Magic Woman" e numa conhecida versão dance de "Estou além" de António Variações. Ambos apareceram a cantar o tema no último episódio.

Genérico da série:








Excertos de episódios:



´

             
Em memória de Pedro Cunha (1980-2014)

Bota Botilde


Uma das mascotes mais famosas da televisão, presente também numa infinidade de merchandising, desde brinquedos a porta-chaves. A Bota Botilde foi, nos anos 80, a mascote do concurso "Uno, dos, Tres", e claro, da sua contra-parte portuguesa "Um, Dois, Três", apresentado por Carlos Cruz entre 1984 e 1988. Na Espanha, a Botilde veio substituir a abóbora Ruperta. O site "Un, Dos, Tres Web" refere que no pais de nuestros hermanos a Botilde só durou um ano e não teve tanto sucesso como em Portugal. A bota foi criada em 1983 por Jaime Agulló, e no genérico animado do concurso (reciclado em Portugal) cantava com a voz de Ibáñez Serrador e música de Adolfo Waitzman.


Genérico Português:

Genérico Espanhol:

Um mealheiro.
Foto: Viver80
 A Boti-Bota, o brinquedo mais famosa com a bota Botilde:
Foto: Crescer Em Movimento

Foto: Un, Dos, Tres
Foto: Aquella Maravillosa Infancia

Boti-Bota com a indicação "RTP - 84":
Foto: AnaKelme
Uma BotiBota actualmente, bastante degradada:
A Boti-Bota era simples de brincar, bastava enfiar um dos pés no aro amarelo e fazer girar a bota e saltar com o outro pé para evitar bater na bota. Horas de diversão garantida!

Foto: O Brinquedo Antigo
 Não sei se houve destes jogos à venda em Portugal:


Mais merchandising espanhol da Bota Botilde: "Un Dos Tres" Web

A mascote seguinte foi o "Zé Sempre em Pé", criado apenas para o "Um, Dois, Três" de Portugal. Mas isso fica para outro dia :)


Contem nos comentários ou no Facebook da Enciclopédia as vossas memórias da Bota Botilde!
Bota Botilde que desenhei para o "Cromo nº 1000".

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Canções dos Jogos Olímpicos

por Paulo Neto

Um evento da grandiosidade dos Jogos Olímpicos pede sempre uma banda sonora à altura e nos anos 80 e 90, foram vários os tema épicos que capturaram o imaginário do maior evento desportivo do planeta. Nos Jogos de 1984 em Los Angeles, os primeiros que me recordo de ter visto, ficou na memória a partitura "Olympic Fanfare" de John Williams que era ouvida mal começava uma transmissão em directo da RTP em Los Angeles. Desde então foi utilizada em diversos eventos, desportivos e não só, como uma das primeiras vezes em que fui ao circo e ouvi a banda a tocar isto.


  
Mas foi em 1988, nos Jogos Olímpicos de Seul, que uma canção marcou pela primeira vez uns jogos da olimpíada. Apesar da K-Pop ser actualmente um fenómeno de culto a nível global, o primeiro grande êxito musical internacional oriundo da Coreia do Sul foi este "Hand In Hand" dos Koreana (acho que só apenas superado mesmo pelo "Gangnam Style"). O grupo foi fundado em 1962 mas só editou o primeiro disco em 1979 já com a formação definitiva composta por Hwa Ja "Marie" Hong, Ae Sook "Cathy" Lee, Seung Kyu "Tom" Lee e Yong Kyu "Jerry" Lee, que durou até à dissolução em 2003. Com a produção a cargo do lendário Giorgio Moroder, "Hand in hand" foi um êxito à escala global, tendo sido n.º1 na Alemanha, Suécia, Japão e Hong Kong.

 


Como se isso não bastasse, a compilação oficial dos Jogos Olímpicos de 1988 continha uma das mais épicas baladas de Whitney Houston, "One Moment In Time", cujo videoclip tinha imagens da nossa Rosa Mota! Recorde-se que também foi com esta canção que Sara Tavares ganhou o "Chuva de Estrelas".




Como é que se poderia dar seguimento a dois épicos destes? Com um dueto épico para os Jogos de 1992 em Barcelona. De um lado, José Carreras, membro de Santíssima Trindade dos tenores superstars, em conjunto com Luciano Pavarotti e Placido Domingo, que tinham conseguido conquistar público além dos amantes de ópera e tornarem-se campeões de vendas. Do outro Sarah Brightman, a beleza britânica com voz de anjo, que começara ainda adolescente em temas disco kitsch (como este que ainda costuma passar amiúde no VH1) para depois brilhar no teatro musical, pela mão de Andrew Lloyd Webber com quem viria a casar. Juntos cantaram esse épico arrebatador que é "Amigos para siempre". O tema acabou a única memória positiva para Portugal dos Jogos de 1992, já que saímos da Catalunha de mãos a abanar, sem nenhuma medalha (nem sequer no hóquei em patins, que fora modalidade de demonstração!). E claro está, cinco anos mais tarde, Sarah Brightman voltaria a gravar outro dueto esmagador com outro cantor lírico.
Curiosamente,  o tema  era originalmente interpretado em ritmo de rumba, popularizado sobretudo na versão dos Los Manolos.
 

 E como se já não fosse suficiente, outro dueto épico foi reeditado, por razões óbvias, na mesma altura. Falo obviamente de "Barcelona" de Freddy Mercury e Montserrat Caballé, originalmente editado em 1987. 
 


Quatro anos depois, para o Jogos de Atlanta, mais dois temas oficiais bem olímpicos, na voz de duas divas. Em 1996, Céline Dion reinava suprema nas tabelas de vendas e na ondas hertzianas de todo o mundo, daí que não fosse de admirar a presença dela para actuar na cerimónia de abertura em Atlanta, apesar de ser canadiana. Interpretou "The Power of a Dream", escrita por David Foster, Linda Thompson e Babyface. A canção foi posteriormente incluída no lado B do single "It's all coming back to me now" de Dion.




Mas o maior hit dos Jogos de Atlanta, que consagraram Fernanda Ribeiro, foi "Reach" de Gloria Estefan. O tema, escrito pela própria e por Diane Warren, permanece como um dos melhores momentos do repertório a solo da ex-vocalista dos Miami Sound Machine. Também recordo de ser amplamente requisitado por participantes do "Chuva de Estrelas" e do "Cantigas da Rua" e o vídeo, realizado pelo já falecido fotógrafo Herb Ritts.

 

Estefan interpretou o tema na cerimónia de encerramento. Além disso, gravou uma versão espanhola "Puedes Llegar", com tudo o que era estrela da música latina na altura: Julio Iglesias, Roberto Carlos, Ricky Martin, Jon Secada, Placido Domingo, só para nomear os mais conhecidos.





Entretanto este post foi abordado na Caderneta de Cromos de Nuno Markl! Ouçam aqui:







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