domingo, 26 de agosto de 2012

Eros Ramazzotti e Laura Pausini

Por Paulo Neto

Em meados dos anos 90, Portugal deixou-se conquistar por vários produtos "made in Italy". Na televisão, vários programas italianos passavam pela grelha da SIC, a começar pelo mítico "Colpo Grosso / Água na Boca" e passando por "Belezas de Verão", um clone dos Jogos Sem Fronteiras, "Scherzi a Parte/A Brincar, A Brincar", programa de apanhados a famosos italianos (foram os italianos que inventaram o "Punk'd"!), "Belli i Freschi/Sábado Mágico", programa de variedades que antecedia o célebre "Nunca Digas Banzai", e o "Bravo Bravíssimo". Para não falar nos programas de moda italiana que passavam no horário nobre. No futebol, a liga italiana era a mais popular na altura, e se hoje os aspirantes a estrelas do futebol sonham com o Real Madrid ou o Barcelona, os dos anos 90 sonhavam em jogar no AC Milan ou na Juventus. 

E na música, tal como no tempo dos nossos pais rouxinóis transalpinos como Gianni Morandi, Rita Pavone e Gigliola Cinquetti faziam furor em Portugal, as ondas da rádio e as tabelas de vendas voltaram a ser invadidas pela música italiana. Essa invasão permitiu a coroação de um rei e uma rainha que se notabilizaram pelos muitos discos de platinas e hits radiofónicos entre 1993 e 1996. Tanto ele como ela continuam a ter  ainda hoje carreiras sólidas e bem sucedidas, e com uma extensão internacional para além do habitual eixo Itália/Península Ibérica/América Latina. Mas nenhum dos dois repetiu a glória estratosférica que conheceram nesse espaço de tempo, pelo menos em Portugal. O rei era Eros Ramazzotti e a rainha Laura Pausini


Nascido em Roma a 28 de Outubro de 1963 e baptizado com o nome do deus do amor, Ramazzotti já tinha uma carreira com grande sucesso desde 1984, ano em que venceu a secção dos novos talentos do Festival de San Remo. Mas foi com o álbum de 1993, "Tutte Storie" que Eros conquistou definitivamente a fama internacional, vendendo seis milhões de cópias em todo o mundo. Portugal não foi excepção pois por cá, o álbum eternizou-se por mais de um ano na lista dos mais vendidos, alcançando quatro discos de platina. No disco, estava incluídos dois grandes hits.


O primeiro single foi "Cose Della Vita". O videoclip foi realizado por Spike Lee e mostrava Ramazzotti numa ligação poliamorosa com duas modelos, conferindo-lhe uma imagem de garanhão italiano. Em 1998, ele regravou uma versão bilingue em dueto com Tina Turner.



O segundo single foi "Un' Altra Te". No videoclip, a actriz Francesca Neri fazia de interesse amoroso. E aqueles com grandes memórias recordarão a imitação de André Letra (da dupla Miguel & André) no "Chuva de Estrelas". Outros singles do álbum foram "Favola" e "A Mezza Via".



Em 1996, Eros editou o álbum "Dové c'é música", de onde se destacou o hit "Piú Bella Cosa".





Laura Pausini nasceu a 16 de Maio de 1974 em Faenza, na região da Ravenna. Tal como Ramazzotti, foi no Festival de San Remo que se deu a conhecer ao grande público, vencendo a competição de novos talentos da edição de 1993, com aquele que seria o seu hit mais emblemático, "La Solitudine". A canção elevou-a logo a nova estrela da música italiana e não tardou a surgir o sucesso internacional. Só em finais de 1994 e princípios de 1995 é que o fenómeno Laura Pausini chegou a Portugal, quando já tinha dois álbuns editados (criativamente intitulados "Laura Pausini" e "Laura"), mas não se perdeu nada pela demora. Ambos os álbuns foram multiplatinados e as suas canções depressa dominaram as rádios, fizeram de banda sonora de momentos românticos de casais de todas as idades e Pausini foi elevada ao mesmo pedestal de outras divas baladeiras como Whitney Houston, Mariah Carey e Céline Dion. 



Nesse período auspicioso, destacaram-se três hits. O maior deles foi obviamente "La Solitudine", onde Laura canta as saudades de Marco, um coleguinha de escola por quem tinha uma paixoneta e que teve de se mudar para outra cidade por causa da profissão do pai. Ah, e deve ser a única balada que tem na letra a palavra "matemática".
Na dicotomia "para casar ou para coiso", Laura Pausini era para casar. Mas cheguei a ouvir relatos de indivíduos que invejavam estar no lugar dos adoráveis cachorrinhos que ela abraça no videoclip.


O primeiro álbum também incluía o hit "Non c'é", que mais uma vez relatava um amor perdido mas agora já mais crescido, pois uma das coisas que ela diz sentir falta é do sabor a morango da boca do seu amado ("non c'é la tua boca di fragola"). Uma versão dance em espanhol, de título "Se Fue" somou algum êxito nas pistas de dança, tendo até sido incluída na telenovela "Explode Coração". E ainda hoje persiste o mito, nunca confirmado, que "Laura non c'é" de Nek, que foi um hit internacional em 1997, era uma resposta a esta canção, onde ficava explicado que o amásio a tinha deixado por outra.



Do segundo álbum, o grande tema foi "Strani Amori", com o qual Pausini regressou a San Remo em 1994 onde ficou em terceiro lugar. Desta vez, falava-se dos amores e desamores adolescentes como uma fase natural do crescimento.


O sucesso de Laura Pausini por estas bandas foi tal que desde 1995 que ela tem vindo várias vezes a Portugal. Quando em 1996, lançou o seu terceiro álbum "Le Cose Che Vivi", o nosso país foi destino prioritário na promoção do disco, no qual se destaca o hit "Incancelabile".



Desde então Ramazzotti e Pausini têm continuado a somar muito sucesso nas respectivas carreiras até hoje e tendo inclusivamente cantado com várias estrelas internacionais. Mas nunca repetiriam o colossal sucesso que tiveram em meados dos anos 90 em Portugal. Quem sabe se num futuro próximo, haverá algum artista made in Italy a reproduzir tal sucesso, perpetuando a nossa lusitana paixão por música italiana?    





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