sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Uma Família às Direitas (1971-1979)

por Paulo Neto

Um pai preconceituoso e casmurro. Uma mãe irrequieta e de voz estridente. Uma filha chorona e temperamental. Um genro esquerdalho e contestatário. Assim de repente, parece tudo menos a família ideal. Muito menos o tipo de personagens que cativasse milhões em todo o mundo e que continua a cativar gerações posteriores.



Porém, esta a família (não muito) às direitas foi a família preferida da América nos anos 70. "Uma Família Às Direitas" (no original, "All in the Family") foi criada por Norman Lear, baseando-se na série britânica "Till Death Do Us Part". Teve nove temporadas exibidas nos Estados Unidos entre 1971 e 1979, e foi o primeiro programa a ser o mais visto na América durante cinco anos consecutivos. Não sei quando a série estreou em Portugal, mas recordo-me de várias reposições nos anos 80, sobretudo no horário da manhã da RTP. Também já foi exibida na extinta SIC Gold e na RTP Memória.



A série relata as aventuras e desventuras dos Bunkers, uma família da classe operária que vive em Queens, Nova Iorque. Archie Bunker (Carroll O'Connor) é o chefe da família, um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, é muito cioso do seu conservadorismo, demonstrando preconceitos com todos aqueles que não se encaixam nos WASP (White Anglo-Saxon Protestants) e aqueles que não partilham das suas ideias. Quando confrontado com outras ideias (sobretudo do genro), Archie tende a reagir mal e recusa-se a dar o braço a torcer, mesmo quando se vê sem razão. Mas apesar disso e de não gostar de o demonstrar, Archie tem bom fundo e toma sempre as atitudes mais decentes e correctas na hora do aperto. A convivência com várias personagens de vários estilos de vida também contribuem para que Archie gradualmente vá abdicando das suas convicções mais extremas. 

Edith (Jean Stapleton) é a esposa de Archie. Ao contrário do marido, não julga os outros e é simpática e atenciosa com toda a gente. Apesar de ser um pouco de compreensão lenta, costuma ter mais astúcia que o marido nas adversidades. Aparentemente parece uma esposa submissa (a quem Archie direcciona um ocasional insulto) mas não tem medo de se impôr ao marido quando acha que ele está a ser injusto. E o amor de ambos acaba sempre por prevalecer nos momentos maus.

Gloria (Sally Struthers) é a filha de ambos, que se vê dividida entre o conservadorismo do pai (que ela adora) e as ideias politicamente liberais do marido, ideais que ela também partilha. Tendo sido  sobreprotegida em criança, Gloria tende a ficar nervosa perante as dificuldades mas aos poucos, com mais experiência de vida e o avançar do seu casamento, vai adquirindo maturidade. Durante grande parte da série, é ela que é o ganha-pão do casal, trabalhando numa loja enquanto o marido completa o estudos superiores.

Michael Stivic (Rob Reiner) é o marido de Gloria, também conhecido como "Meathead" (que em Portugal, foi convertido para "cabeça de abóbora") que é como o sogro lhe chama. Muito do humor da série vem das constantes discussões entre Archie e Michael sobre as suas diferenças de opinião. Por vezes consegue ser tão intransigente como o sogro nas discussões e nos "mimos" trocados entre ambos, mas costuma ser mais razoável. Apesar das suas ideias progressistas, por vezes dá consigo a ter alguns pensamentos retrógrados, sobretudo pelo facto de ser Gloria a sustentá-los. Ao contrário de Archie, Mike dá-se muito bem com Edith a quem ele vê como uma mãe, já que ficou órfão em criança. Na quinta temporada, Mike e Gloria são pais de um rapaz, Joey.


De entre as várias personagens que entraram na casa e na vida dos Bunkers ao longo da série, o principal destaque vai para os Jeffersons, os vizinhos afro-americanos. George (Sherman Hemsley) é quase o equivalente afro-americano de Archie, intransigente, casmurro e com alguns preconceitos (como quando descobre que o pai da sua futura nora é branco). Louise (Isabel Sanford) é uma versão mais esperta e afirmativa de Edith, de quem se torna grande amiga. O filho Lionel (Mike Evans) é inteligente e astuto. Ao contrário de George, os comentários racistas de Archie divertem Lionel, que se compraz em fazer-se muitas vezes de sonso para apreciar o ridículo nos discursos do vizinho. Os Jeffersons acabariam por ter a sua própria série entre 1975 e 1985.


Outra personagem que também teve uma série spin-off (que me lembro de dar na RTP2) foi Maude Findlay (Bea Arthur), a ultra-liberal prima de Edith que surge num episódio em que todos os Bunkers adoecem e é Maude que toma conta da casa. (E que inevitavelmente anda as turras com Archie.)


Na última temporada da série, com a saída de Mike e Gloria que se mudam para a Califórnia, a principal história é a relação de Archie e Edith com a pequena Stephanie Mills (Danielle Brisebois), que eles acolhem depois do pai dela, um primo afastado de Edith, a ter abandonado. Carrol O'Connor e Danielle Brisebois continuariam as suas personagens numa série posterior, "Archie Bunker's Place" (1979-1983).

A série notabilizou-se por capturar o espírito da América dos anos 70, com a revolução das mentalidades após a contracultura dos anos 60 e as problemáticas da época como a guerra do Vietname e a queda de Nixon bem como várias questões sociais e pessoais como racismo, xenofobia, a guerra do Vietname, homossexualidade, religião, assédio sexual, menopausa e o aborto (espontâneo e voluntário), sendo uma das primeiras sitcoms a abordar temas tão sérios.



O célebre genérico consistia em Archie e Edith ao piano o tema "Those were the days", onde Archie invoca o seu saudosismo pelos tempos em que as pessoas que mandavam pensavam como ele. Lembro-me de rir bastante quando Edith desafinava numa parte: "And you knew what you WERE THEEEEN!".(Jean Stapleton revelou uma vez que foi dirigida para desafinar propositadamente.)

Para terminar, sabiam que esta foi a primeira série americana em que se ouviu o som de um autocolismo?         
    

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2 comentários:

  1. Lembro-me que chegou a haver uma dobragem portuguesa da série "Sheep in the Big City" na RTP! Chamava-se "Um Carneiro na Cidade" e dava na RTP1 e na RTP2. Das poucas coisas de que me lembro da dobragem:
    O "Angry Scientist" era o Cientista Fulo (ou Louco, mas quando lhe chamavam de cientista louco, ele disse "FULO! EU SUO O CIENTISTA FULO!").
    A Oxymoron era chamada de "Boi Mongo". Era uma empresa grande, e fazia imensos produtos, como lanternas que sugavam ou um detergente onde deitavas tudo.
    O "Ranting Swede" era o "Sueco Rezingão".
    O trailer do "Attack of the 50 Foot Creature".
    Paulo Neto ou CINE31, lembram-se de mais detalhes da dobragem?

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