quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Natal dos Hospitais

por Paulo Neto

Com mais ou menos cortes financeiros ditados pela crise, eis o país mais uma vez entretido com as milhentas  tradições de Natal: as árvores, as prendas, a comida, as festas e por aí fora. E em breve, vamos ter na televisão outro símbolo da quadra: as maratonas televisivas onde desfilam os cantores da nossa praça.


Estes programas existem em todos os canais, mas sem dúvida que o líder incontestado continua a ser "O Natal dos Hospitais" da RTP. É como o Festival da Eurovisão: afirmamos taxativamente que está hoje em dia a léguas submarinas da importância e relevância de outrora, mas gostamos de saber que ainda existe e se der a ocasião, ficamos a ver. SIC e TVI já clonaram o formato de diversas formas, quer por simples copy/paste ("Há Festa No Hospital"), quer com algumas alterações ("O Natal das Prisões"), mas ainda reina a opinião geral que o da RTP é que é.

Aliás o evento data de antes da televisão em Portugal, tendo sido realizado pela primeira vez em 1944 pelo jornal "Diário de Notícias", inspirado pela obra da poetisa algarvia Lutgarda Guimarães (1873-1935) que, marcada pela morte prematura de uma filha, visitava todos os Natais as crianças hospitalizadas no Dona Estefânia oferecendo-lhes presentes e dedicando-lhes textos, para minorar a tristeza de passarem sozinhas a quadra natalícia, num evento chamado "Natal das Crianças dos Hospitais" e que durou dez anos.
A primeira transmissão televisiva foi em 1958, apresentado por Henrique Mendes e a primeira actuação foi da actriz Beatriz Costa. A partir de 1961 e até ao início do século XXI, também era transmitido em simultâneo pela Emissora Nacional/RDP.


Actualmente, "O Natal dos Hospitais" é transmitido na primeira quinzena de Dezembro durante todo o dia e intercalado entre Lisboa e Porto. Mas na minha infância, lembro-me que dava já em tempo de Férias de Natal (algures entre os dias 18 e 21), começava após o Jornal da Tarde e primeiro havia um bloco de actuações nos Açores e na Madeira, um bloco mais extenso no Porto no Hospital de São João e a parte principal em Lisboa, num dos hospitais da capital. Para mim, havia dois momentos altos em cada "Natal dos Hospitais": o bloco infanto-juvenil onde actuavam os Ministars, os Onda Choc e outras estrelas de palmo e meio; e a recta final com a chegada de Herman José para mais uma vez roubar o espectáculo com piadas e uma canção e depois a terminar, o Coro de Santo Amaro de Oeiras, geralmente a cantar o "A Todos Um Bom Natal". Pelo meio passavam pelo palco quase todos os cantores conhecidos da nossa praça, dos mais credenciados aos nomes principais do nacional-cançonetismo, que mais tarde seria designado como música pimba e as principais caras da RTP também surgiam por lá com três funções: deixar a sua mensagem de Natal, apresentar os artistas em palco e sortear televisores Philips (durante vários anos o principal patrocinador do evento) para hospitais pelo país fora.



No YouTube, podemos assistir a vários vídeos de "O Natal dos Hospitais" nos anos 80, graças a canais como Lusitania TV, Toxic Portugal e MundoLego. Eis alguns excertos que seleccionei:





Guida, que fez parte dos Ministars, tentava em 1988 uma carreira a solo, da qual só há registo deste tema "Olá Olá". Gosto sobretudo do primeiro verso: "Toma lá, um banho de água fria!"



Ainda em 1988, Armando Gama e Valentina Torres (ainda pré-XXL) semeando o espírito natalício graças ao tema "Sonho de Natal", ambos com casacos com mega-enchumaços de ombros.



Continuamos em 1988 com o grupo infantil, os Meninos de Oiro que gostam de cantar em "coiro" e do qual faz parte "uma coisa pequenina mas que não desafiiiiiiina!"



Também em 1988, o grupo juvenil Bando Pardais, que na altura tentava desafiar o domínio binómico dos Ministars e dos Onda Choc. Assim que ouvi este tema, "Espero o Amor", descobri que sabia o refrão!




Mega tesourinho! Em 1989, Pedro Abrunhosa sem óculos!




 Domingos Machado no seu célebre avatar travéstico Belle Dominique  dando um pé de sambo. 




Um dos momentos mais aguardados: a chegada do Herman José! Aqui em 1987, terminou a actuação cantando o mítico "Vamos Lá, Cambada!"

No site da RTP Memória, é possível ver online a edição de "O Natal dos Hospitais" de 1981:

A Caderneta de Cromos dedicou três cromos ao "Natal dos Hospitais":
Cromo n.º 44 (24.12.2009) "Feliz Natal": http://podcastmcr.clix.pt/rcomercial/cdc_edicao2_24_12_2009.mp3
Cromo n.º 469 (24.12.2009) "Natal dos Hospitais":
Cromo n.º 854 (19.12.2011): "Natal dos Hospitais":













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2 comentários:

  1. O melhor programa de variedades de sempre da RTP!
    Quando dá este programa na TV, seja na RTP1 ou na RTP Memória, para mim esse dia é dia sagrado! Não faço nada nesse dia santo, vejo especado na TV o Natal dos Hospitais!. E se houver algum programa noutro canal, o Natal dos Hospitais é que tem prioridade.
    Mas hoje, há muitas pessoas saudosistas estúpidas que já não vêem o Natal dos Hospitais, porque já lá não vai a Maria Clara, a Mimi Gaspar, a Hermínia Silva ou a Amália Rodrigues, as grandes da nossa música. É uma estupidez autêntica.
    Para mim, o Natal dos Hospitais não é um programa do passado da RTP! É um programa de verdadeiro serviço público, pois com aquele programa, estamos a ajudar as pessoas que não podem passar o Natal em família por estarem amarradas na cama de um hospital. E quem vai ao Natal dos Hospitais, seja convidado ou de sua livre vontade, para mim tem muito valor, independentemente de ser de boa ou má qualidade.
    Acho que mais artistas deviam ir a este grande programa, pois este programa não é só da RTP, é dos Portugueses!
    É certo que os tempos são outros e os artistas são outros, mas o propósito mantém-se, e sempre será assim. Enquanto o Natal dos Hospitais da RTP estiver no ar, existirá sempre Natal em Portugal!

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  2. Ora ai está algo que iria apreciar rever na RTP Memória. Mas desde que tenho TV Cabo há uns meses, a RTP Memória raramente passa algo que me interesse....
    Mas sinceramente, hoje em dia não consigo ver o programa com o interesse de antes, parece uma repetição dos programas que dão todos os dias à manhã e à tarde e fins de semana ... Mais variedade, era o que precisávamos na TV

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