segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Manuela Moura Guedes "Foram Cardos, Foram Prosas / Flor Sonhada" (1981)

por Paulo Neto

Com Manuela Moura Guedes de regresso à televisão, nada como recordar os tempos em que usava a voz para dizer algo mais do que "Boa noite, eu sou a Manuela Moura Guedes!" e não parecia uma sósia da Maga Patalójika. Aliás, por um breve espaço de tempo, MMG foi mesmo a leading lady do pop-rock nacional. Tudo graças a um single campeão de vendas em 1981. 

Nascida no Cadaval a 23 de Dezembro de 1956, estava no último ano do curso de Direito quando em 1978, é uma das seleccionadas para ser locutora de continuidade na RTP, numa fornada que também providenciaria outros rostos lendários da televisão como Ana Maria Cordeiro, Fátima Medina, Helena Ramos, Isabel Bahia e Margarida Andrade (futuramente Mercês de Melo). Sob o nome de Manuela Matos, além da locução, apresentou o Festival da Canção de 1979. Com o virar da década adoptou o nome Manuela Moura Guedes, e por entre os trabalhos na RTP, teve tempo para dar uma perninha como cantora, sendo o seu momento de glória um single de 1981 com duas excelentes faixas: "Foram Cardos, Foram Prosas" e "Flor Sonhada". Ambas tinham letra de Miguel Esteves Cardoso e música de Ricardo Camacho. Era o seu terceiro single, pois Manuela já tinha editado anteriormente "Conversa fiada" (1979) e "Sonho Mau" (1980).



"Foram Cardos, Foram Prosas" é o tema mais conhecido, onde se notam algumas influências de Joy Division (a que não era estranho o facto de Miguel Esteves Cardoso residir então em Inglaterra e de estar a par da cena indie-rock britânica). Desde logo o refrão "Será sempre a subir, ao cimo de ti, só para te sentir" ficou gravado na jukebox mental dos portugueses. 


A outra faixa do single é "Flor Sonhada", que inicialmente até estava prevista ser o lado A. Mas dado o experimentalismo do tema e como "Foram Cardos..." parecia ser mais radio-friendly, optou-se por dar mais destaque a este. Em "Flor Sonhada", a voz de Manuela parece ficar em segundo plano, diante do fabuloso conteúdo instrumental, começando numa longa introdução em sintetizador que dá lugar a uma batida dançável e terminando num solo de guitarra a la Pink Floyd.



Com 35 mil exemplares vendidos, foi o single nacional mais vendido de 1981. Em 1982, surge o seu único álbum, "Alibi", cuja parte musical esteve a cargo dos recém-formados GNR, mas que não alcançou o sucesso do single anterior. O disco foi reeditado em CD em 2007, incluindo "Foram Cardos, Foram Prosas" e "Flor Sonhada", que não faziam parte do alinhamento em vinil.



Deixando a música de lado, Manuela Moura Guedes acaba por se dedicar exclusivamente à televisão, primeiro no entretenimento com, por exemplo, "Berros e Bocas" (1983, com Luís Filipe Barros) e o Festival da Canção de 1984 e depois na informação. 



Em 1991, quando se torna a pivô principal do Telejornal da RTP, deixa para a história o seu lendário bordão "Boa noite, eu sou a Manuela Moura Guedes!". Também em 1991, "Foram Cardos, Foram Prosas" voltou de novo a ser um hit, na versão dos Ritual Tejo. Aliás, foi esta a primeira versão do tema que eu conheci e lembro-me de ficar espantadíssimo quando uns anos mais tardes, ao ver o single por entre os discos de vinil em casa de um amigo, descobri que tinha sido MMG a intérprete do original. Entre outras versões do tema, destaque para a dos Amor Electro de 2011.

Versão dos Ritual Tejo:




Versão dos Amor Electro:


Bónus: MMG a cantar "Summertime" na série "Zé Gato" (1979):




   

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