quarta-feira, 2 de abril de 2014

Alentejo Sem Lei (1991)

por Paulo Neto

Quando eu vi esta mini-série em 1991, confesso que achei uma grande seca. Tantas imagens paradas, as falas das personagens eram-me imperceptíveis e - sacrilégio! - Herman José a fazer de mau, e nem sequer um vilão cómico? Por tudo isto, não guardei nenhumas saudades da série. Até que em 2007, os Gato Fedorento dedicaram-lhe um tesourinho deprimente, dissecando os diálogos e as gaffes técnicas, e eu fiquei com curiosidade em rever, algo que só consegui recentemente graças à reposição na RTP Memória.









"Alentejo Sem Lei" foi o mais parecido que alguma vez houve de inserir o imaginário do faroeste americano numa parte da história de Portugal, onde o Alentejo mostra-se tão agreste como uma pradaria do Texas. Na segunda metade do século XIX, ainda na ressaca da Guerra Civil (1828-1843) que opôs liberais (apoiantes de D. Pedro IV) e absolutistas (apoiantes de D. Miguel), o Alentejo torna-se uma terra de bandidos e malteses. O Bando do Zarolho, outrora acérrimo defensor da causa miguelista, vê-se a recorrer ao banditismo para sobreviver, assaltando montes. O líder é o Major Heitor (Carlos Daniel), o tal "Zarolho". Ana Rita, a "Morgada" (Rita Blanco), criatura bravia e indomável, é a sua protegida, filha do anterior chefe do bando. Há também o silencioso mas intrépido Sargento Ferro (Rogério Samora) e os imbecis Negas (Adriano Luz) e Fininho (António Feio). Durante um assalto, o Major perde-se de amores pela delicada Marianita (Rita Loureiro), que lhe corresponde e que foge com eles rumo a Espanha.


No encalço do bando, estão Geraldo (Fernando Luís), um exímio atirador que pretende vingar o pai morto pelo Major e nutre uma inesperada atracção por Ana Rita, Joaquim da Silva (Nuno Melo) o ingénuo noivo de Marianita que, movido pelos ideais românticos, vem de Lisboa para resgatar a amada, e Cara Rota (Vítor Norte). Mas o maior perigo para o bando é o perverso Capitão Galamba (Herman José), um aristocrata ex-miguelista que passou para o lado dos liberais e que se tornou um sanguinário caçador de prémios. (Trata-se de um dos raros papéis de Herman José que se podem considerar dramáticos, ou pelo menos não tão cómicos quanto isso.) Como é evidente, o desfecho será trágico e cheio de tiros sob o impiedoso calor do Alentejo.



Realizado por João Canijo, "Alentejo Sem Lei" foi exibido na RTP1 em três episódios em Janeiro de 1991. Do elenco fizeram ainda parte Miguel Guilherme, Maria Vieira, Canto e Castro, Márcia Breia, Cremilda Gil e Isabel de Castro como a narradora (que vem-se a saber ser a bisneta de Ana Rita e Geraldo). Destaque ainda para o conhecido produtor de cinema Paulo Branco no papel de Preto, o cegamente leal esbirro do Capitão Galamba.




Segundo o site Brinca Brincando, João Canijo teve a ideia para a série lendo livros de Brito Camacho, como "Gente Rústica" e a partir de histórias que ouvira na infância sobre os seus antepassados e gentes da terra onde cresceu.
Embora ainda com algumas partes que eu achei um bocado aborrecidas, a minha revisão de "Alentejo Sem Lei" foi feita com mais interesse. Pelas figuras tragicómicas e por alguma rudimentarização técnica (talvez intencional), aproxima-se mais do western-spaghetti made in Itália do que do western americano. Como disse José Diogo Quintela no tesourinho, pode-se dizer que é um western-açorda.

"Alentejo Sem Lei" também uma das poucas séries portuguesas que já foram editadas em DVD, em 2008, com comentários do realizador, dos actores e de Manuel João Vieira, responsável pela banda sonora.

A série também está disponível no portal de arquivos da RTP.

Excertos:



    

    

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