quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Oito e Oitenta (1990)

por Paulo Neto

Os Jogos Sem Fronteiras eram sem dúvida o ponto alto da época estival em termos de televisão, mas ocasionalmente havia outros programas que tentavam reproduzir a dinâmica dos JSF, mas a uma escala menor. Recordo por exemplo os "Jogos de Água" e as "Belezas de Verão" (este nos primórdios da SIC). Mas o exemplo mais memorável foi talvez "Oito e Oitenta" que foi talvez o mais parecido com uns Jogos Sem Fronteiras infantis que se realizou em Portugal. Filmado em Tróia e apresentado por Júlio Isidro, "Oito e Oitenta" foi exibido ao longo de Verão de 1990 aos Domingos à tarde.




Em cada programa, duas equipas formadas por crianças e jovens de dois distritos de Portugal defrontavam-se num total de onze jogos (que eram sempre os mesmos, mas cuja ordem variava a cada programa). Cada equipa tinha oito elementos (quatro rapazes e quatro raparigas) mais um suplente entre os 6 e os 12 anos, sendo que quatro dos elementos tinham de ter entre 6 e 8 anos (designados os "Oitos") e os outros quatro entre 9 e 12 (os "Oitentas"). O programa também tinha duas mascotes que, surpresa das surpresas, eram o Oito (um boneco gorducho, baixote e caixa de óculos) e a Oitenta (que pelo contrário era uma boneca alta e esguia com dois totós na cebeça). 

Estes eram os onze jogos:

Olhó Passarinho: Os concorrentes tinham de ir trocar de roupa nuns vestuários e vestir trajes de praia à moda antiga para tirar uma fotografia à la minute.


Gaivotas Em Terra: Os concorrentes (dois "Oitos" e dois "Oitentas" por equipa) tinham de fazer um percurso num quadriciclo e pelo caminho tinham de fazer algumas provas como fazer corrida de sacos, soprar balões até estes rebentarem ou tirar uma bolacha com a boca num prato com farinha.


Sempre A Aviar: Os "Oitentas" deslocavam-se pela piscina numa jangada até chegar a um barco viking para apanhar e transportar mantimentos, atirados pelos "Oitos", no percurso de volta. Elementos da equipa adversária lançavam canhões de água para dificultar-lhes a prova.

O Piquenique: Deslizando por uma rampa numa chávenas com rodas, dois "Oitos" e dois "Oitentas" de cada equipa transportavam os alimentos para o piquenique numa toalha no chão, ganhando a equipa que mais depressa colocasse os alimentos nos lugares indicados na toalha e tivesse os quatro elementos sentados em cada um dos lados da toalha.

Maxi Bilhar: Numa mesa de bilhar em grande escala, três elementos de cada equipa manejam um enorme taco de bilhar e respectiva base, tentando enfiar as bolas em cada um dos buracos da mesa. Era habitual que alguns dos petizes, pouco familiarizados com as regras do bilhar, confundissem o taco por um stick de hóquei e batessem as bolas de lado.


Dança das Matrafonas: Calçados com uns sapatos gigantes e aos pares de mãos dadas, os concorrentes têm de fazer um percurso e vestir uns fatos gigantes reproduzindo trajes tradicionais. A cada uma das três rondas, há sempre um par que ficava de fora pois havia sempre menos dois fatos que o número de concorrentes.

Esquimó Fresquinho: Vestidos com casacos de esquimó e calçados com umas raquetas nos pés, quatro elementos de cada equipa tentavam construir um igloo com blocos a imitar blocos de gelo.

Há Mar e Mar: Numa piscina, as duas equipas tinham que fazer um percurso de bóias flutuantes e colocar peças num recipiente.

Os Vegetais Fugitivos: Uma equipa vestida com fatos com as formas de vários vegetais entrava num recinto e alguns segundos depois, a outra equipa tinha de os apanhar. 

Torneio do Balancé: Os "Oitos" de cada equipa, montados num balancé, tinham que arrebentar balões com umas varas enquanto os "Oitentas" ajudavam-nos a dar impulso puxando umas cordas. 

O Tesouro dos Vikings: Primeiro as equipas tinham que acertar com umas bolas num buraco na barriga de um viking. De seguida tinham de pôr uns sacos numa jangada, atravessar a piscina e chegar a um barco. Lá recebiam uma chave e faziam o percurso de volta para abrir a arca do tesouro

Em cada jogo, a equipa vencedora ganhava oitenta pontos e a equipa vencida oito pontos. No final, a equipa com mais pontos acumulados ao longo dos jogos recebia as faixas de campeão e cada um dos elementos da equipa ganhava uma bicicleta, um skate, um walkman, um barco de borracha e uma mala térmica da Coca-Cola, o patrocinador do programa. Cada elemento da equipa vencida recebia uma faixa de vice-campeão e os mesmos prémios excepto o barco de borracha. Além disso, ambas as equipas tinham direito a um prémio surpresa consoante um símbolo escolhido, que podia ir de oito frisbees a oitenta pacotes de ovos de chocolate. Ah, e os concorrentes eram vestidos pela Cenoura, como não podia deixar de ser!   

Se eu já aqui lamentei nunca ter havido uma equipa de Torres Novas nos Jogos Sem Fronteiras, eu lembro-me que pelo menos no "Oito e  Oitenta", a equipa de Santarém tinha dois rapazes do meu concelho. E também me lembro de ficar muito orgulhoso da abada que a equipa de Santarém deu à congénere de Beja, ganhando nove dos onze jogos.

Diana Chaves, então com 8 anos, participou neste programa

Na finalíssima apuraram-se as equipas de Santarém e Lisboa, as equipas que tinham obtido a maior pontuação ao longo das onze emissões oficiais (a primeira sessão transmitida foi uma sessão experimental com crianças da zona de Tróia). Mas aí Santarém acabou por ceder perante a equipa lisboeta (da qual faziam parte uma Diana Chaves com apenas oito anos e a sua irmã Petra, nadadora olímpica em 1996). 
Além dos jogos, cada sessão do programa tinha um convidado musical. Por lá passaram nomes como GNR, Peste & Sida, Miler Ife Dada, Onda Choc e Adelaide Ferreira.

Eu lembro-me de ter acompanhado o programa e de gostar dele. Num tempo onde se andava a outra velocidade, aqueles jogos divertidos e a habitual simpatia de Júlio Isidro eram mais que suficientes para encher o olho ao meu eu de 10 anos. Só mais tarde ao rever o programa na RTP Memória é que percebi que afinal não era assim tão grandioso e elaborado. Por exemplo, os jogos "Sempre a Aviar" e "Tesouro dos Vikings" eram basicamente o mesmo jogo e vários props eram usados para diversos jogos. No entanto, não deixava de ser uma bom programa e foi pena que, apesar do potencial, o programa não ter tido continuidade nos anos seguintes.

Informações sobre o programa (agradecimento a Miguel Meira pelos dados fornecidos):
PROGRAMA 01 – 24/06/1990 – Sessão experimental - DA VINCI 
PROGRAMA 02 – 01/07/1990 – Aveiro vs. Porto - GNR
PROGRAMA 03 – 08/07/1990 –  Faro vs. Guarda - PESTE & SIDA
PROGRAMA 04 – 15/07/1990 – Viana do Castelo vs. Vila Real - ADELAIDE FERREIRA
PROGRAMA 05 – 22/07/1990 – Bragança vs. Viseu - TRABALHADORES DO COMÉRCIO
PROGRAMA 06 – 29/07/1990 – Beja vs. Santarém - BAN
PROGRAMA 07 – 05/08/1990 – Castelo Branco vs. Coimbra - ONDA CHOC
PROGRAMA 08 – 12/08/1990 – Braga vs. Setúbal - UHF
PROGRAMA 09 – 19/08/1990 – Leiria vs. Lisboa - DELFINS
PROGRAMA 10 – 26/08/1990 – Funchal vs. Horta - LENA D’ ÁGUA
PROGRAMA 11 – 02/09/1990 – Angra do Heroísmo vs. Évora - MLER IF DADA
PROGRAMA 12 – 09/09/1990 – Ponta Delgada vs. Portalegre - XUTOS & PONTAPÉS
PROGRAMA 13 – 16/09/1990 – Finalíssima: Lisboa vs. Santarém - RUI VELOSO


No site de arquivos da RTP, estão disponíveis duas emissões do programa:

Sessão experimental (24 Jun 1990): Parte 1 Parte 2 Parte 3 Parte 4
3.º Programa Guarda vs. Faro (8 Jul 1990): Parte 1 Parte 2 Parte 3

Vários momentos:





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1 comentário:

  1. atualmente nos arquivos rtp online estão disponíveis todos os episódios. encontrei a irmã da diana chaves, a petra (nadadora olímpica nos Jogos Olímpicos de 1996) na outra equipa de lisboa

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