sábado, 28 de novembro de 2015

Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça Fantasma - Colecção de Autocolantes Pepsi (1999)


Em 1982 chovia homens, mas em 1999 choveu merchandising da Guerra das Estrelas, graças à estreia do super-antecipado "Episódio 1: a Ameaça Fantasma", 16 anos depois de "O Regresso de Jedi". Entre bonecada, copos, etc... não podiam faltar os cromos autocolantes - além do álbum da Merlin - promocionais com o cunho do patrocinador Pepsi Cola.
Esta colecção era composta por 20 cromos autocolantes com personagens do filme, dos quais encontrei meia-dúzia na minha arrecadação. Curiosamente, não colei nenhum na caderneta de 4 páginas disponibilizada para o efeito.

Note-se a gralha no título da caderneta, "Ameaça" sem "ç".


 O interior da caderneta:


A última página:
Informação importante no verso sobre os modos de obtenção dos cromos:

"Ganha 4 autocolantes na compra dos multipacks de 6 latas Star Wars de Pepsi ou 7Up no teu super ou hipermercado habitual"
"Também podes ganhar autocolantes na compra de latas Pepsi ou 7Up nos cafés aderentes à promoção Pepsi Star Wars."




Um dos autocolantes propriamente ditos:


E a lata de Pepsi que oferecia os autocolantes:




Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

Colecção de "Selos"


 

Caderneta de Selos
Memórias das décadas de 70-80-90 em forma de selos para coleccionar!

Selos e texto por Paulo Gomes
mais selos no facebook em Caderneta de Selos


 
"Os selos são os velhos cromos..." by anonymous. 


Comecei estes selos virtuais como para arremedar a quantidade de "cromos" que começaram a surgir na net e noutros media, encabeçados pelo Nuno Markl, esse grande "cromo", que muitos outros "cromos" imitaram começando as suas "cromices".  

Nasci em Janeiro de 80, cresci com muito do que já se cromou por aí, e com muito mais pois vivi 9 anos na raia de Espanha.  

Como qualquer puto desses tempos vi muita TV, brinquei bastante na rua, li muitos livros da biblioteca, brinquei com bonecos, robots, blocos de construção e outros mais, nadei muito em piscinas municipais e passei férias em casa dos avós. Pelo meio tive algum tempo para estudar, depois da escola as minhas actividades extra-curriculares eram ser uma criança livre, saudável e cheia de imaginação.

Vi muitos amigos meus ao passarem pelas várias fases de crescimento repudiar cada fase anterior como se de uma doença se tratasse e ao passar para a adolescência deitaram fora brinquedos, banda desenhada, livros... tudo o que os ligasse a essa fase, e ao passarem para a vida adulta, a se descartarem dos sonhos, das promessas, das paixões, das ideias, enfim de tudo o que os ligava a serem jovens, frescos e de mente aberta.

Alguns estarão a ler blogs como estes, a suspirar ao recordar o que deixaram para trás... bom eu fui guardando tudo, e usei, cada acumular de experiências para serem os alicerces da minha pessoa.

Ainda hoje tenho brinquedos com a minha idade, ainda hoje tenho as bandas desenhadas da minha infância, os cd´s da adolescência, os livros, as anotações... cada cromo que leio não é passado, é uma fase bem presente. E quanto ao presente, bom os meus filhos adoram um pai que recebe em casa brinquedos desenvolvidos por ele e bandas desenhadas em que o pai participou.

Mas isso será outra história, voltando aos Selos, uma colecção de cromos é por definição restrita à sua caderneta, cada caderneta é finita.
Já a filatelia, essa, é quase infinita, sempre a crescer e a valorizar o raro e antigo. Daí, não me querendo limitar a uma mais "cromice", querendo trazer algo mais pessoal e histórico ao mesmo tempo, o selo, a estampa em si, pai do cromo, serve de mote para eu estampar as minhas muito pessoais recordações, não sendo por isso artigos de informação, ou de pesquisa, são sim as minhas memórias, que me acompanham e que nunca rejeitei.
Nem todas as informações que apresento estarão correctas, pois ao me valer mais da memória que da pesquisa a isso sou levado.

Para quem queira saber mais sobre as minhas colecções e trabalhos podem ler os blogs seguintes:

http://www.brinquedos.blogspot.pt/   - colecção de action figures e outros brinquedos
http://www.quimeradragon.blogspot.pt/ - alguns dos meus trabalhos artísticos


Que deixei de actualizar quando passei a usar o facebook pelo que também recomendo as minhas páginas:

https://www.facebook.com/Ulisses31Omega - colecção de action figures e outros brinquedos
https://www.facebook.com/PauloGomesArt - alguns dos meus trabalhos artísticos

Espero que as futuras leituras que vos proporcionarei sejam agradáveis, e vos recordem de belos tempos, e vos libertem novamente para uma inclusão do todo, que foi o tempo que vivemos na realidade que aceitamos. 
Libertem a criança, o adolescente, o jovem, para que o adulto que somos não esteja só.

Bom destino,

Paulo Gomes






Mais textos do Paulo Gomes, no Blog e no Facebook

Top 6: Personagens de "Alô, Alô" (Paulo Neto)

O David já falou aqui sobre esta mítica série de humor britânica passada numa pequena aldeia francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Mas com a sua reposição actual na RTP Memória e uma peça adaptada da série interpretada por actores portugueses actualmente em cartaz, nada como revisitar esta série criada por David Croft e Jeremy Lloyd e que foi originalmente exibida em terras britânicas entre 1982 e 1992. Quem não se recorda das divertidas intrigas no Café René, sobretudo em torno da obra de arte "The Fallen Madonna With Big Boobies" e as tentativas infrutíferas para reenviar dois aviadores britânicos de volta a Inglaterra? E sobretudo quem não se recorda das inesquecíveis personagens e respectivos bordões e maneirismos?



Por isso mesmo decidi listar as minhas personagens preferidas, e mesmo contornando as regras para criar um top 6 em vez de um habitual top 5, tive pena de deixar várias personagens de fora, nomeadamente: Edith Melba (Carmen Silvera), a esposa de René, na sua mente uma grande cantora, na realidade uma tremenda fonte de poluição sonora; as três empregadas do Café com que René se envolve: a fogosa e pragmática Yvette Carte-Blanche (Vicki Michelle), a ingénua porém corajosa Maria Recamier (Francesca Gonshaw) e a diminuta porém ágil Mimi LaBonq (Sue Hodge); o matreiro Coronel Kurt Von Strohm (Richard Marner) e o seu esbirro, o Capitão Hans Geering (Sam Kelly); o empertigado e namoradeiro capitão italiano Alberto Bertorelli (Gavin Richards e Roger Kitter); o Monsiuer Alfonse (Kenneth Conner), o cangalheiro pretendente de Edith e que padecia de maleitas no seu "dicky ticker"; os dedicados mas desastrados manos Leclerc - Roger (Jack Haig) e Ernest (Derek Doyle e Robin Parkinson); e a astuta e acesa Cabo Helga Geerhart (Kim Hartman).



#6 Officer Crabtree (Arthur Bostrom)
Em sexto lugar, a personagem que mais destacava as subversões linguísticas da série. Embora a série fosse falada em inglês, cada personagem falava com um carregado sotaque consoante a sua nacionalidade (francesa, alemão, inglesa e italiana) e essa forma de falar era tida como o próprio idioma. E embora franceses, alemães e italianos parecessem falar entre si e entenderem-se  sem dificuldades de maior, todos tinham dificuldades em comunicar com as personagens britânicas, com resultados hilariantes. Introduzido na segunda temporada, Crabtree é um agente britânico disfarçado de polícia francês, que colabora activamente nos planos da Resistência Francesa. Embora escolhido para essa missão devido aos seus alegados conhecimentos de francês, a verdade é que Crabtree tinha sempre dificuldade em fazer-se entender pelos franceses, distorcendo as palavras como é o caso do seu bordão "Good moaning!" e frases como "I was pissing by your door, and I thought I would drip in". Por causa disso e apesar do seu apoio, Crabtree gerava antipatia das personagens franceses, sobretudo René e Yvette, que se referiam amiúde a ele como "aquele idiota que julga que sabe falar francês". Também era costume que o francês macarrónico de Crabtree contagiasse outras personagens que às tantas também davam os mesmos pontapés na fala. O certo era que sempre que Crabtree abria a boca, era gargalhada certa e por isso merece o n.º 6 deste top.
Curiosidade: Embora a sua personagem fosse notória pelo seu fraquíssimo francês, o actor Arthur Bostrom falava fluentemente a língua de Voltaire na vida real.

  


#5 Herr Otto Flick (Richard Gibson e David Janson)
O principal vilão desta história era sem dúvida o Herr Flick, o frio e impiedoso oficial da Gestapo, afilhado de Heinrich Himmler, o líder das SS. E na verdade, era a personagem que mais se parecia com a ideia geral de um cruel agente nazi. Mas o certo é que não havia como odiar Herr Flick já que os seus maneirismos austeros como o coxear e o seu rosto inexpressivo eram extremamente cómicos. Herr Flick tinha como missão deitar mão à cobiçada obra "The Fallen Madonna With Big Boogies", que Hitler deseja para o seu espólio e como tal estava sempre a magicar maneiras de tramar Von Strohm e Gruber. Igualmente divertido era a sua interacção com o seu minion Von Smallhausen (John Louis Mansi). Mas sem dúvida que as melhores cenas de Herr Flick eram aquelas com Helga, a sua amásia, numa relação bizarra mas que tinha os seus momentos tórridos com laivos de BDSM. E era fácil de perceber que por detrás do seu exterior impávido e gélido, Herr Flick deveria arder no seu interior sempre que Helga se despia.
Como Richard Gibson não quis entrar na última temporada, foi substituído por David Janson. A mudança foi justificada na história com uma cirurgia plástica para evitar que fosse reconhecido e capturado pelos Aliados.
Curiosidade: Richard Gibson nasceu no Uganda pré-independente.



#4 Fanny La Fan (Rose Hill)
Aparentemente, Madame Fanny La Fan viveu uma juventude atribulada e hedonista mas uma vez chegada à terceira idade, deu em velha rabugenta aproveitando qualquer oportunidade para azucrinar a cabeça de quem tinha de lidar com ela.
Apesar de passar a maioria da série acamada, também Madame La Fan acabou por se envolver nas manobras da Resistência Francesa, até porque a sua cama era um posto receptor de comunicações com as forças britânicas. Também eram notórios os seus sentimentos anti-alemães e qualquer menção aos alemães e à Gestapo faziam-na desatar a cuspir, enviando perdigotos e pedaços de comida àqueles que tinham a infelicidade de estar por perto.
Entre as poucas vezes que foi vista de pé, conta-se aquele em que substituiu Edith como cantora do café, onde apesar de vocalmente não se sair pior que a filha, a cantiga sobre que roupa iria ali despir tornava a situação igualmente deplorável para quem assistia. Pelo caminho, casou com Ernest Leclerc.
Curiosidade: Apesar de fazerem de mãe e filha, Rose Hill era apenas oito anos mais velha que Carmen Silvera e sobreviveu um ano a esta. As duas viveram os últimos anos das suas vidas num lar para antigos artistas britânicos.  


#3 Tenente Hubert Gruber (Guy Siner)
Estudante de Artes antes de ingressar no exército do III Reich, o Tenente Gruber envolveu-se nos planos de Von Strom, Geering e Helga para lucrarem após a guerra com a venda dos dois quadros de Von Klump, a já referida "The Fallen Madonna With Big Boogies" e "The Broken Vase With Daisies", por causa dos seus dotes artísticos, já que é ele que pintou as falsificações dos quadros destinadas a ludibriar Herr Flick. Gruber também se comprazia muito em passear no carro blindado a que chama "o meu pequeno tanque". Mas como não podia deixar de ser, o motivo pelo qual ele surge em 3.º lugar desta lista é devido aos seus maneirismos e a sua atracção pouco secreta por René. E para azar deste, calhava volta e meia que os dois se encontrassem nas situações mais embaraçosas.
Porém no último episódio, além de se ter tornado um rico marchand de arte, Gruber surge casado com Helga com quem aparentemente teve seis filhos.
Curiosidade: Guy Siner deu voz a quatro jogos de vídeo da franchise Star Wars.



#2 Michelle Dubois (Kirsten Cooke)
A Michelle da Resistência, obcecada com secretismo e disfarces, ocupa o 2.º lugar. Michelle notabilizava-se por aparecer de repente no Café René solicitando a ajuda de René e Edith, normalmente para mais um plano para ajudar os aviadores ingleses Carstairs (Nicholas Frankau) e Fairfax (John D. Collins) a voltar para Inglaterra. Inclusivamente Michelle era a única personagem francesa que consegue comunicar com os aviadores em inglês e era das poucas personagens femininas imunes ao charme de René, embora a certa altura tenha-se fingido interessada nele para que ele continuasse a colaborar com a Resistência. E é claro, é dela o mais famoso bordão da série "Listen very carefully, I shally say this only once!"
Curiosidade: No episódio especial de 2007, René pergunta a Michelle se ela alguma vez disse algo duas vezes, ao que ela responde: "Sim, mas só uma vez".




#1 René Artois (Gorden Kaye)
Mas é claro que o número da minha lista só podia ser René, o herói involuntário da série. Se dependesse dele, passaria a vida a gerir pacificamente o café e entre escapadinhas amorosas com as empregadas, mas para mal dos seus pecados, viu-se no centro do turbilhão das manobras de guerra tanto da Resistência Francesa como dos ocupantes alemães, sem outra saída senão dar-se bem com uns e com outros e tentar salvar a pele à primeira oportunidade. E como se já não tivesse problemas de sobra, além da mulher e das empregadas, o seu charme irresistível (devia ser do bigode!) também lhe valia atenções indesejadas do Tentente Gruber e das fanáticas da Resistência Comunista.
René tinha também uma relação especial com os espectadores da série, uma vez que cada episódio começava com ele a falar directamente com eles a narrar os acontecimentos dos episódios anteriores.
Curiosidade: Embora aparentemente as duas personagens tivessem aproximadamente a mesma idade, Gorden Kaye era dezanove anos mais novo que Carmen Silvera, que fazia de sua mulher.     
   
      

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Os Farrapinhos (1986-1994)

por Paulo Neto

A animação é cada vez mais sofisticada que os putos de hoje certamente acharão as séries animadas com que crescemos nos anos 80 e 90 como muito arcaicas. E até podem ser, mas muitas delas, apesar de serem de uma extrema simplicidade técnica, conseguiam deixar a sua marca. Foi o caso desta, a série de animação britânica "Raggy Dolls", que por cá teve o título de "Os Farrapinhos". Foi uma série criada por Neil Innes e produzida pela Yorkshire Television, num total de 111 episódios exibidos em terras britânicas ao longo de nove temporadas entre 1986 e 1994. Por cá as primeiras temporadas passaram entre 1991 e 1992, aos domingos de manhã na RTP1 e creio que as restantes foram exibidas nos anos seguintes.





Saco Triste, Princesa, Claude, Pintas, Trás-Prá-Frente, Lúcia, Hi-Fi

"Os Farrapinhos" narrava as aventuras de sete bonecos provenientes de uma fábrica de brinquedos, que por diversos motivos, sobretudo por defeito de fabrico, foram parar ao cesto dos brinquedos rejeitados. São eles: o Saco Triste (voz de Fernando Gomes), um protótipo de um brinquedo com demasiado enchimento e por isso considerado demasiado caro para ser produzido, sendo que, como o seu nome indica, é um boneco bastante dado à melancolia; a Pintas (voz de Isabel Ribas), uma boneca que por acidente ficou manchada de tinta e que se assume como a líder do grupo; o Hi-Fi (voz de Joel Constantino) um boneco falante que devido a uma queda ficou com uma ligeira gaguez; Lúcia (voz de Cristina Carvalhal), uma boneca com os membros alinhavados que fica toda desconjuntada quando se assusta; Trás-Prá-Frente (voz de Fernando Gomes) que por engano ficou com a cabeça colocada com a cara virada para as costas, mas apesar disso é bastante habilidoso a arranjar coisas; Claude (voz de António Feio), um boneco pintor francês que não tem nenhum defeito, simplesmente perdeu o ferry que o levaria para França onde seria comercializado e como não podia deixar de ser é o mais artístico do grupo e tem queda para a cozinha; e a Princesa (voz de Fernanda Figueiredo) cuja história passada é contada no genérico: numa linha de produção de bonecas princesas saiu toda maltrapilha, mas apesar do seu exterior andrajoso, mantém a postura de uma princesa. Entre as outras personagens recorrentes existem duas figuras humanas: o Sr. Lopes, dono da fábrica de brinquedos e Florinda Fontes, a cozinheira do refeitório da fábrica.
Estes outcasts formam um círculo de amigos extremamente unido e, longe do olhar humano, vivem aventuras tanto dentro da fábrica como nas suas imediações, como por exemplo num campo onde está o espantalho Pão Integral.

Tecnicamente não era uma série muito elaborada. Por exemplos havia planos quase estáticos, onde apenas as bocas das personagens se mexiam. Mesmo assim a série deixou a sua marca no Reino Unido e noutros países devido à simpatia dos bonecos e à sua bela mensagem de amizade, respeito pelas diferenças e a humildade.

Ao princípio a série era dobrada por vários actores (cujos nomes foram acima referidos) sobre direcção de António Feio, que além da voz de Claude, era também a voz da narração. Mas recordo-me que numa fase mais adiantada, António Feio fazia a narração e as falas das personagens sempre na mesma voz, o que resultava um pouco estranho, sobretudo quando as personagens femininas falavam. Também ao princípio a série era exibida por cá com o tema do genérico inicial interpretado por Neil Innes, o criador da série, mas mais tarde o tema teve uma versão em português embora não me recorde quem cantava. Lembro-me isso sim da letra:

Quem me dera ser igualzinho a qualquer um
Ter defeito não é defeito nenhum
Não t'aflijas se fores parar
Ao cesto dos defeitos

Como os Farrapinhos (Farrapinhos), Farrapinhos (Farrapinhos),
Quem não tem o seu?
Os Farrapinhos (Farrapinhos), Farrapinhos (Farrapinhos),
São como tu e eu?

Pois se ouvires burburinhos,
Troças e risinhos, sempre a comentar
Faz como os Farrapinhos
E deixa-os lá falar

Por cá não houve nenhuma merchandising da série, mas no Reino Unido existe uma colecção de DVD e de livros ilustrados.

Genérico (música em inglês):


Excerto:





sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"Um Abraço A Moçambique" (1985)

por Paulo Neto

Quando em 1984 as estrelas da música britânica uniram-se para gravar o tema "Do They Know It's Christmas" com o objectivo de angariar dinheiro para combater a fome em África, a ideia depressa estendeu-se a outros países, a começar nos Estados Unidos com o nada menos mítico "We Are The World" e no ano de 1985, parecia que cada país no Mundo Ocidental tinha o seu tema musical all-star visando a mesma causa.





Portugal não foi excepção e em 1985, sob iniciativa da RTP e da RDP, mais de trinta nomes da música portuguesa uniram esforços para gravar "Um Abraço A Moçambique", composto por Pedro Osório, José Mário Branco e José Fanha. O resultado final podia não ter o glamour de "Do They Know It's Christmas" e "We Are The World", mas também foi bastante épico:    





Manuel Freire: Tanta água nos separa, tanta água e basta um passo
Paco Bandeira: P'ra que a morte esconda a cara ao sentir o nosso abraço
Pedro Barroso: Uma ponte assim estendida vai mais longe que os jornais
Tonicha e Raul Indwipo: Rasga o espaço rumo à vida, contra a fome e muito mais
Maria Guinot: Quero ver aí a semente azul da paz

Teresa Silva Carvalho: Água pouca em terra dura quando a seca tira o pão
Helena Isabel: É doença que tem cura num abraço de um irmão
José Mário Branco: Que é do riso dos meninos, que é da música dos pais
Vitorino: Se cantar é meu destino, contra a fome é muito mais
Alexandra: Quero ver aí a semente azul da paz

Sérgio Godinho: Vamos abrir outro mar, fazer a ponte que há dentro do peito
Tonicha e Raúl Indwipo: Dar um abraço que é dado a cantar
Sérgio Godinho e Samuel: E o mar fica assim mais estreito

Todos: Vamos abrir outro mar, fazer a ponte que há dentro do peito
Dar um abraço que é dado a cantar e o mar fica assim mais estreito

Paulo de Carvalho: Tanta água nos separa, tanta água e basta um passo
José Cid: P'ra que a morte esconda a cara ao sentir o nosso abraço
Lena D'Água: Uma ponte assim estendida vai mais longe que os jornais
Lena D'Água e Samuel: Rasga o espaço rumo à vida, contra a fome e muito mais
Luís Represas e Carlos Mendes: Quero ver aí a semente azul da paz

Alexandra, Maria Guinot e Teresa Silva Carvalho:
Vamos abrir outro mar, fazer a ponte que há dentro do peito
Dar um abraço que é dado a cantar e o mar fica assim mais estreito

Todos: Vamos abrir outro mar, fazer a ponte que há dentro do peito
Lena D'Água: Dar um abraço que é dado a cantar
Todos: E o mar fica assim mais estreito

Todos: Vamos abrir outro mar, fazer a ponte que há dentro do peito
Dar um abraço que é dado a cantar e o mar fica assim mais estreito

Além dos nomes acima referidos também participaram nas vozes Rui Veloso, Jorge Palma, Janita Salomé, Júlio Pereira, os restantes membros dos Trovante, o Grupo Terra A Terra e a Brigada Victor Jara. Os músicos eram Guilherme Inês (bateria), José Carrapa (viola), José da Ponte (contrabaixo), João Nuno Represas (percussão), Pedro Osório (teclas) e nos violinos, Alexandre Delgado, Aníbal Lima, Carlos Passos, Filomena Cardoso, Gerardus Holsteyn, Luís Cunha, Lurdes Arvelos, Sónia Carvalho, Tozé Miranda e Vasco Broco. Na altura o videoclip costumava passar todos os dias na RTP após o Telejornal e como tal não tardou até cada português não tivesse o refrão da canção na jukebox mental.

Alguns aspectos que importa referir sobre a música e do videoclip:
- Saúda-se à fuga da regra que implica que os videoclips deste tipo de canções devem ter os artistas com headphones na cabeça.   
- Se no disco da Band Aid tivemos um sobre-excitado Bono Vox a cantar "Well tonight thank God it's them, instead of you" e no dos USA For Africa um Bruce Springsteen a rugir "We are the world, we are the children", aqui Paulo de Carvalho fazia um misto dos dois no verso em que canta.
- Assim como Lena D'Água tem um momento tipo Cyndi Lauper numa das repetições do refrão.
- Rui Veloso executava um dos mais curtos riffs de guitarra de sempre.
- Jorge Palma claramente em modo "I don't give a damn" a segurar efusivamente um chapéu ou com o dito cujo enfiado na cabeça até aos olhos.
- Tenho que concordar com o Nuno Markl quando ao falar desta canção na "Caderneta de Cromos", afirmou que apesar da inegável qualidade dos artistas participantes, havia um défice de juventude (Lena D'Água e os Trovante eram os únicos sub-30) e com tanta veterania, por pouco que este colectivo não parecia mais uma reunião da FENPROF.

E tal como lá fora houve o histórico Live Aid, a auga da nossa campanha nacional foi no dia 24 de Julho de 1985 com um concerto no Coliseu dos Recreios. 


Segundo o livro "A Bíblia dos Anos 80", além das receitas geradas pelos donativos (através da Caixa Geral de Depósitos e dos CTT) e das vendas do disco e dos bilhetes do concerto, foram também enviadas para Moçambique através da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, 20 toneladas de produtos farmacêuticos e cinco contentores com roupa, calçado e brinquedos.

Desde então têm existido ocasionalmente várias gravações de temas nacionais all-star de solidariedade para as mais diversas causas, nomeadamente para as campanhas do Pirilampo Mágico, mas não há como negar que "Um Abraço A Moçambique" foi o tema pioneiro do género em Portugal. No entanto, ao contrário dos já referidos "Do They Know It's Christmas" e "We Are The World", que continuaram a fazer-se ouvir ao longo de todos estes anos, "Um Abraço A Moçambique" foi como que vetado ao esquecimento. Pelo menos eu não me recordo de voltar a ouvir, depois de 1985, a canção até já bem no século XXI.

No programa especial do Réveillon 2007/2008, os Gato Fedorento fizeram uma homenagem/paródia ao tema, numa canção de solidariedade para com os mais famosos vilões históricos e fictícios.



Actualização:
Foto da ocasião publicada no Facebook por João Gil:


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Kids Incorporated - Miúdos & Companhia (1984-1994)

por Paulo Neto

Mais uma para a categoria "séries das quais só eu me lembro". Apesar de ter durado uma década nos Estados Unidos, a sua passagem pelos ecrãs nacionais foi bastante discreta. No entanto, é uma série que vale a pena recordar por dois motivos: primeiro, porque vários dos pequenos talentos que revelou acabariam por se tornar bem conhecidos em adultos e segundo, porque agora olhando para trás, pode-se afirmar que esta série foi o "Glee" dos anos 80 e 90.



Produzida pela Disney, "Kids Incorporated" foi exibida nos Estados Unidos em nove temporadas entre 1984 e 1994. As duas primeiras temporadas foram exibidas em Portugal sob o título "Miúdos & Companhia" entre 1990 e 1991 no espaço infanto-juvenil da RTP1 aos sábados de manhã.



A série era sobre um grupo de crianças e adolescentes que formavam um grupo musical, Kids Incorporated, que interpretava os hits musicais da altura e alguns do passado (à maneira de "Glee"), pelo que umas boas mãos-cheias de clássicos dos anos 80 e inícios dos anos 90 foram chilreados por estes jovens talentos. O grupo costumava actuar no "The P*lace", uma antiga sala de espectáculos convertida num popular ponto de encontro para jovens e cada episódio tinha uma breve história que tanto podia ser sobre os problemas próprios de quem se tem entre 8 e 15 anos ou então tramas fantasiosas envolvendo fantasmas, robots, extra-terrestres e princesas em fuga. Ao longo de cada episódio, eram interpretadas quatro canções: duas actuações em palco do grupo no início e no fim de cada capítulo e duas cenas musicais no cenário relacionados com a trama de cada episódio. Como é evidente, algumas das canções tinham as letras alteradas nas versões interpretadas pelos actores de modo a que fossem mais apropriadas à sua idade. 



Na primeira temporada da série, o elenco era composto por Jerry Shaller (Mickey), Martika Marrero (Gloria), Rahsaan Patterson (The Kid) e Renee Sands e Stacy Ferguson interpretavam duas irmãs chamadas...Renee e Stacy. (Ao longo de toda a série, salvo algumas excepções, as personagens tinham o mesmo nome dos actores que a interpretavam). Na segunda temporada, Jerry Shaller foi substituído por Ryan Lambert (Ryan). Moosie Drier interpretava Riley, o empregado do bar do "The P*lace". 

Stacy Ferguson foi quem permaneceu mais tempo da série, durante seis temporadas entre 1984 e 1989, começando como a mais nova do grupo e terminando como a mais velha. Em séries subsequentes, entraram dois jovens que se tornariam conhecidos actores: Jennifer Love Hewitt (creditada como Love Hewitt, no papel de Robin durante duas temporadas entre 1989 e 1991) e Eric Balfour (1 temporada, em 1991).




A série também contou com um jovem corpo de baile, que acompanhava os protagonistas nas coreografias e nas actuações em palco e por vezes, também entravam nas histórias de cada episódio. Dois bailarinos que fizeram parte do corpo de baile viriam a tornar-se sobejamente conhecidos mais tarde: Mario Lopez, que alcançaria a fama como o Slater de "Já Tocou" e ainda hoje é um conhecido actor e apresentador, e Shanice Wilson, que se tornaria cantora de r&b, cujo maior sucesso foi o hit de 1991 "I Love Your Smile".  
Eram raras as presenças de adultos na série, mas por lá passaram alguns nomes famosos como David Hasselhoff, Sideah Garrett, Florence Henderson e a ginasta olímpica Kathy Johnson

E quanto aos protagonistas das primeiras temporadas? Rahsaan Patterson tem uma discreta mas produtiva carreira como cantor soul; Martika fez sucesso no final dos anos 80 e inícios dos anos 90 com destaque para o hit global de 1989 "Toy Soldiers" que em 2004 foi samplado por Eminem; em 1997 as irmãs ficcionais Stacy Ferguson e Renee Sands juntaram-se a Stefanie Friedel para formar a girlband Wild Orchid, cujo maior êxito foi "Talk To Me". Renee Sands foi também a voz cantada da Princesa Fiona nos dois primeiros filmes do "Shrek". E caso ainda não tenham descoberto, Stacy Ferguson tornar-se-ia uma estrela mundial, pois não é outra senão a Fergie dos Black Eyed Peas

Além de ter sido transmitida em vários países, "Kids Incorporated" teve também adaptações nacionais no Japão e na Nova Zelândia. Muitos episódios da série e clips musicais estão disponíveis no YouTube e eu recomendo uma visita ao canal oficial, para ver estes vários talentos que de pequenino torceram o pepino e tornaram-se estrelas graúdas.    


Todos os genéricos:




Versão de "Maniac", do filme Flashdance:


Versão de "Into The Groove" de Madonna:


Versão de "People Are People" dos Depeche Mode


Versão de "Going Gets Tough" de Billy Ocean


Versão de "King Of Wishful Thinking" dos Go West (Jennifer Love Hewitt & Eric Balfour):




      

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Aeroplano! (1980)



por Paulo Neto

Nos anos 70, houve um boom de disaster movies em Hollywood que devem ter deixado muito boa gente com medo de andar de avião, de barco, de arranha-céus e de terramotos. O início desta moda é atribuída ao filme "Aeroporto" de 1970 cujo sucesso produziu mais três sequelas ao longo da década. Mas em 1980, uma paródia a esses filmes de desastres aéreos tornar-se-ia uma das mais famosas comédias de sempre, ainda hoje capaz de arrancar muitas gargalhadas a novas gerações. 



Falo, é claro, de "Aeroplano!", filme realizado a seis mãos por Jim Abrahams e os irmãos David e Jerry Zucker e cujo elenco incluía Robert Hays, Julie Hagerty, Leslie Nielsen, Peter Graves, Lloyd Bridges, Lorna Patterson, o basquetebolista Kareem Abdul Jabbar e Jill Whelan. Apesar de incluir alguns elementos da saga Aeroporto, sobretudo do segundo filme "Aeroporto 75", a história do filme era sobretudo baseada no filme de 1957 "A Hora Zero".  

Ted Stryker (Hays) é um ex-piloto militar cujos traumas de guerra deixaram-no com medo de voar e com um bizarro problema de bebida. A trabalhar como taxista em Los Angeles, Stryker decide entrar num voo até Chicago para tentar reconquistar Elaine Dickinson (Hagerty), o amor da sua vida, que trabalha como hospedeira nessa voo. 
Durante o voo, o piloto Clarence Oveur (Graves), o co-piloto Roger Murdock (Jabbar) e vários passageiros começam subitamente a adoecer devido a uma intoxicação alimentar. E de repente, a salvação de todos está nas mãos de Stryker que tem de superar os seus tramas e aterrar o avião em segurança, com a ajuda de Elaine, do Dr. Rumack (Nielsen), de Randy (Patterson), a outra hospedeira, e em Chicago, do controlador Steve McCroskey (Bridges) e do seu ex-comandante na guerra Rex Kramer (Robert Stack), com o qual Stryker teve sempre uma relação difícil.




Além disso, há muitos trocadilhos, muitos gags nonsense, uma menina (Whelan) em necessidade de um transplante que quase vai desta para melhor durante um momento musical, uma freira práfrentex (Maureen McGovern, a cantora dos disaster movies "A Torre Do Inferno" e "A Aventura do Poseidon"), uma mulher histérica (Lee Bryant) a quem todos fazem fila para lhe acalmar à chapada, uma senhora que se escandaliza com um homem que lhe oferece uísque para depois ela snifar uma linha de coca, outra senhora (Charlotte Zucker, mãe dos irmãos Zucker) que escolhe a pior altura para se maquilhar, um piloto-automático insuflável chamado Otto e Johnny Jacobs (Stephen Stucker), o extravagante ajudante de McCroskey.





"Joey, have you ever seen a grown man naked?"


"Looks like I've picked the wrong week to stop sniffing glue"






"Aeroplano!" foi um dos filmes de maior sucesso de 1980. Promoveu o género de paródia non-sense a um popular sub-género do cinema de comédia, influenciando outras obras como "Ases Pelos Ares" e a série "Scary Movie", revelou o lado cómico de actores mais conhecidos por papéis sérios de acção como Robert Stack, Peter Graves, Lloyd Brigdes e Leslie Nielsen (este tornar-se-ia mais famoso depois pelos seus papéis cómicos sobretudo na série "Aonde É Que Para A Polícia?"), elevou Abrahams e os Zucker a nomes de topo entre os autores e produtores de comédia, influenciou outros nomes do género como os irmãos Farrelly, tem figurado invariavelmente nos lugares cimeiros de diversas listas das melhores comédias de sempre e sobretudo, continua a arrancar risos a todos os que vêem ou revêem o filme. "Aeroplano!" e a sua sequela de 1982 "Aeroplano 2" foi mais um dos filmes que descobri na "Sessão Da Noite", o mítico espaço de cinema das noites de sexta-feira da RTP 1 no início dos anos 90.    

Trailer: 




Cenas clássicas:


Aeroplano! 2 (1982)

por Paulo Neto

E já agora, porque não também um cromo sobre a sequela de "Aeroplano!"? Estreada nos Estados Unidos em Dezembro de 1982, "Aeroplano! 2" foi realizado por Ken Finkleman. Os autores e realizadores do primeiro filme (Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker) não estiveram envolvidos nesta sequela mas grande parte do elenco regressou, retomando os seus papéis: Robert Hays (Ted Stryker), Julie Hagerty (Elaine Dickinson), Lloyd Bridges (McCroskey), Peter Graves (Clarence Oveur), Lee Bryant (Mrs. Hammen) e Stephen Stucker (Johnny). Desta vez, além da paródia aos disaster movies, havia um piscar de olho aos filmes de ficção científica como a trilogia "A Guerra Das Estrelas" e de temática espacial.



Alguns anos depois do primeiro filme, a Lua foi colonizada e a nave espacial Mayflower I prepara-se para uma viagem a partir de Houston rumo a uma estação especial lunar, comandada pelo capitão Clarence Oveur. Ted Stryker, o herói do primeiro filme, está de novo em maus lençóis: foi declarado mentalmente incapaz e internado num asilo psiquiátrico após ter fracassado um voo-teste a uma nave espacial, voltou a ser atacado por traumas da guerra e a sua amada Elaine deixou-o novamente, tendo ficado noiva de Simon Kurtz (Chad Everett). Para voltar a reconquistar Elaine, que tal como Simon faz parte da tripulação do Mayflower I, e por desconfiar que algo de errado se passa com o aparelho (sendo essa a verdadeira razão por que foi afastado), Stryker embarca na nave espacial.
Um curto-circuito deixa ROK, o computador de inteligência artificial que comanda a nave, totalmente descontrolado, direccionando a nave até ao sol e neutralizando os membros da tripulação. Desiludida com a cobardia de Simon, Elaine volta de novo a recorrer a Stryker para salvarem todos a bordo. Stryker usa a bomba que Joe Seluchi (Sonny Bono), um dos passageiros, levou a bordo da nave, para fazer explodir ROK e voltar a pôr a nave no rumo certo. Para a aterrar em segurança na Lua, terá de colaborar com o Comandante Buck Murdock (William Shatner), outro companheiro de guerra de Stryker que lhe guarda grandes rancores.




Pelo meio, há uma jovem (Monique Gabrielle) que aproveita a situação para seduzir vários passageiros dizendo que nunca esteve com um homem antes (embora a certa altura já os homens façam fila e até um burro é abordado por ela), um homem que escolhe a pior altura para fazer a barba e uma senhora de peito muito avantajado com uma T-shirt a dizer "Moral Majority", que no momento da aterragem essa dita cuja parte do corpo balança tanto como a gelatina que tem à sua frente.







Após os créditos surge no ecrã de que um terceiro filme estaria para breve, mas a voz de Murdock reclama: "É exactamente isso que esperam que façamos!". E o certo é que não houve terceiro filme, pelo que esta fica como uma das mais famosas dilogias cinematográficas de sempre.  

Tal como é hábito com as sequelas, "Aeroplano! 2" sofreu com a comparação com o primeiro filme, mas pessoalmente acho que é igualmente divertido e não fica a dever muito ao filme original.

Trailer:



Seleccão de algumas das melhores cenas:




                     

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Everything But The Girl "Missing (Todd Terry Club Mix)" (1995)

por Paulo Neto

Em 1995, a música de dança nas suas variadas vertentes (house, techno, jungle, etc.) já era um mercado vital na indústria musical e por esta altura, era quase que imprescindível que os grandes sucessos musicais nos mais variados géneros viessem acompanhados de um punhado de remisturas feitos à medida das pistas de dança. No entanto, foi nesse ano que surgiu uma canção que ficaria bem mais conhecida pela remistura de dança do que pela versão original e o resultado foi não só um grande sucesso, dentro e fora das pistas de dança, como revolucionou as carreiras de ambas as partes envolvidas.




Reza a história que os Everything But The Girl tiveram a ideia para o seu nome ao verem um slogan de uma loja de móveis que dizia: "Para as suas necessidades no quarto, vendemos tudo menos a rapariga". Foi assim que em 1982 Ben Watt e Tracey Thorne resolveram denominar o projecto musical em conjunto, paralelamente à relação pessoal que iniciaram um ano antes quando frequentavam a Universidade de Hull. Durante mais de uma década lançaram seis álbuns de originais, marcados por sonoridades que iam do pop-rock ao smooth jazz, que receberam elogios da crítica e algum sucesso comercial. O seu maior hit foi uma versão de 1989 de "I Don't Want To Talk About It", um original de 1971 de Danny Whitten e famosamente versionada por Rod Stewart em 1977. Pessoalmente, a minha canção preferida dos Everything But The Girl desta fase é "Old Friends" do álbum "Worldwide" de 1991, com um adorável videoclip.



O álbum de 1994, "Amplified Heart", marcava o regresso do duo britânico aos discos após os problemas de saúde de Ben Watt, a quem foi diagnosticado o síndroma de Churg-Strauss, uma doença que lhe afectou o sistema gastro-intestinal, pelo que Watt estava visivelmente mais magro aquando do lançamento deste álbum. O segundo single do álbum era "Missing", um tema melancólico onde Tracey Thorne cantava as saudades de um antigo amante que partiu. A versão original foi editada sem grande furor, atingido somente o n.º 69 do top britânico. Nesse mesmo ano, Tracey Thorne colaborou no álbum "Protection" dos Massive Attack tendo interpretado a faixa-título, entrando também no célebre videoclip da canção, realizado por Michel Gondry.




Foi então que o DJ nova-iorquino Todd Terry converteu o tema numa remistura de dança e aos poucos foi-se percebendo que a canção ganhava um maior impacto quando se ouvia Thorne cantar que sentia falta do amado como o deserto sente falta da chuva ao som das batidas house criadas por Terry. O mesmo se sucedia com o videoclip onde Thorne e Watt faziam de amantes separados pela distância, errando cada um na sua casa a tentar mitigar a saudade. 






Em meados de 1995, a remistura de "Missing" amontoava o seu sucesso nas pistas de dança, pelo que se impunha uma edição comercial que rapidamente escalou pelos tops mundo fora entre 1995 e 1996, tendo sido n.º 1 na Alemanha, Canadá, Dinamarca e Itália. Nos Estados Unidos, onde os EBTG eram virtualmente desconhecidos, "Missing" chegou ao n.º 2 e tornou-se o primeiro single de sempre a passar um ano ininterruptamente dentro do top 100 americano. Ainda hoje é a 11.ª canção com a carreira mais duradoura no top americano, num total de 55 semanas.



Convencidos que a voz melancólica de Tracey Thorne casava bem com ritmos mais dançáveis, os Everything But The Girl acolheu essas sonoridades tanto para o álbum seguinte de 1996, "Walking Wounded", em que um dos singles, "Wrong", também foi remisturado por Todd Terry e para o disco de 1999 "Temperamental", até ao momento o último disco de originais do duo.




Quem também aproveitou o sucesso da canção foi o famigerado produtor alemão Frank Farian (o homem por detrás dos sucessos de Boney M e Milli Vanilli) que para o seu novo projecto na altura, a boyband No Mercy. Como já referi antes, estes não só gravaram uma versão de "Missing" como a batida do original foi usada como sample para o seu maior hit "Where Do You Go".




Devido à sua remistura, Todd Terry foi elevado à superliga dos DJs remixers, a par de nomes como David Morales ou Armand Van Halden, e nos anos que se seguiram não havia quem não quisesse um remix seu, tendo remisturado temas para Michael Jackson, Rolling Stones, Kylie Minogue, Garbage, Duran Duran, The Cardigans e The Corrs. A par disso, somou alguns hits em nome próprio entre 1996 e 1998, como "Keep On Jumping" e "Something Going On", com a ajuda das poderosas vozes de Martha Wash e Jocelyn Brown.




Como projecto musical, os Everything But The Girl encontra-se inactivo desde 2000, com Tracey Throne e Ben Watt a dedicarem-se a projectos em separado. Tracey Thorne editou em 2007 o seu primeiro álbum a solo, "Out Of Woods", e Ben Watt mantém-se activo como DJ e produtor. Mas se profissionalmente os dois seguiram caminhos separados, na vida pessoal os dois continuam juntos como sempre, embora mantendo essa parte das suas vidas o menos exposta possível. Sabe-se porém que têm três filhos, entre os 14 e os 17 anos e que se casaram em 2008.

Depois de "Missing", têm sido várias os temas que conheceram o sucesso através de uma remistura de dança, que muitas vezes é bastante diferente do original. O caso mais recente é "Cheerleader" que graças ao remix do DJ alemão Felix Jaehn tornou-se a música do Verão de 2015.                    
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...