terça-feira, 29 de março de 2016

Top 5: Livros da Colecção "Uma Aventura" (Paulo Neto)

O David Martins já falou aqui sobre esta mítica colecção de livros da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada que conquista jovens leitores desde 1982. E eu não fui excepção, tendo sido proprietário de vários volumes da colecção "Uma Aventura" quer nas edições originais, quer em edição dupla com dois volumes, comercializada pelo Círculo de Leitores.



Claro está que houve uma altura em que considerava Teresa, Luísa, Pedro, Chico e João como meus grandes amigos fictícios e em que eu imaginava ser o sexto membro humano (e oitavo no geral) do grupo. E como é óbvio para aqueles que me conhecem, aquele com quem mais me identificava era com o Pedro, o cérebro do grupo, apesar de na altura eu ainda não ser caixa-de óculos.
Também li alguns livros de "Os Cinco" e "Os Sete", mas sempre achei que os livros de "Uma Aventura" que não ficavam nada a dever aos de Enid Blyton. Aliás, se esta colecção tivesse sido de um país anglo-saxónico, quase que imagino estes livros a serem vendidos à escala mundial, traduzidos em inúmeras línguas e adaptados para séries e filmes com um budget bem maior do que aquele que teve a adaptação nacional na primeira década do século XXI (que apesar das várias mudanças de elenco e outras vicissitudes, até estava bem conseguida).

Neste texto pretendo falar sobre os cinco livros da colecção "Uma Aventura" preferidos. Confesso que já há largos anos não leio nenhum livro da colecção, que já está quase no 60.º volume, mas recordo-me de muitas das histórias. Como acontece com quase todas os top 5 que faço, tenho de mencionar alguns que estiveram quase, quase para entrar na lista mas falharam por pouco: "Uma Aventura nas Férias de Natal" (n.º 2), onde o grupo lança-se numa caça ao tesouro numa aldeia de Trás-Os-Montes, "Uma Aventura Entre Douro e Minho" (n.º 6) com o grupo perseguir uma quadrilha de ladrões que efectuam vários roubos no Minho e que culmina num emocionante e hilariante final na Ilha dos Amores, "Uma Aventura no Estádio" (n.º 14) onde eles investigam o desaparecimento de um famoso futebolista, "Uma Aventura nas Férias da Páscoa" (n.º 19) que começa com um inesperado nevão em Lisboa e "Uma Aventura no Palácio da Pena" (n.º 26) onde além de se envolverem numa intriga que envolve roubos e monstros, havia uma ninfeta intrujona chamada Magda que causa tensões que ameaçam a união do grupo. Mas eis então o meu top 5:



#5: "Uma Aventura na Cidade" (n.º 1)
E começamos com o livro que começou tudo, onde se conta como se formou o grupo. E afinal tudo começou de forma não muito amistosa, já que a primeira cena era precisamente de pancadaria entre o Chico e o Pedro, que ao princípio não podiam um com o outro. Porém tudo muda quando as gémeas recorrem aos dois para investigar os acontecimentos que passam numa garagem perto do prédio onde elas vivem, que poderão estar relacionados com o roubo de automóveis. Perante a necessidade de alguém mais pequeno para entrar na garagem, acabam por ter o candidato ideal no João, que surge pela primeira vez quando o Faial segue-o até à escola e causa aflição no bar.
O clímax acontece quando os cinco armam grande alarido para apanhar a quadrilha de ladrões de automóveis em flagrante, com a ajuda dos dois cães e de um papagaio.



#4: "Uma Aventura no Ribatejo" (n.º 9)
Este volume destaca-se para mim por dois motivos: passava-se na minha região, o Ribatejo, (embora não haja referência à minha cidade) e algures no meu 4.º ano, a professora tinha o hábito todos os dias antes das aulas de ler um capítulo deste volume. Mais uma vez a trama é emocionante: o grupo vai passar uns dias ao Ribatejo onde têm sido noticiadas alegadas aparições de OVNIs e eles esperam secretamente ter um desses encontros imediatos. Mas a Tia Estefânia, uma tia das gémeas que vive em Santarém, acredita que isso não passa de um engodo para distrair a população de ocorrências de roubo de gado. Intrigados, os cinco amigos decidem investigar essa história, seguidos por um misterioso homem de sobretudo que não sabem se é aliado ou inimigo. Onde também se fala dos bolos celestes da pastelaria Abidis, dos anões da Branca de Neve e onde a Luísa quase vai desta para melhor ao tentar montar um cavalo. Além disso, também há uma participação especial na trama dos actores Tareka e Tozé Martinho, mãe e irmão na vida real da co-autora Ana Maria Magalhães.



#3: "Uma Aventura no Algarve" (n.º 12)
De um livro que se passa na minha região, para um que decorre na região natural do David, ainda que numa praia fictícia. Os cinco amigos e os dois cães vão passar o início das férias grandes à pensão do tia do Chico e o que parecia serem umas férias sossegadas numa praia de sonho algures num recanto algarvio ainda pouco explorado pelo capitalismo turístico acaba por se complicar quando suspeitam que a zona seja o centro de uma rede de contrabando. Pelo meio, há uma excêntrica actriz americana, um misterioso jardineiro contador de histórias, um enorme incêndio e um mordomo com aparente dupla personalidade. 
Mas a minha parte preferida é a descrição da primeira ida à praia dos amigos, que dava-me sempre vontade de entrar no livro e juntar-me a eles. Mas é claro que em 1985 (ano da 1.ª edição deste volume) ainda era possível imaginar o Algarve sem exploração turística desenfreada.



#2: "Uma Aventura nas Ilhas de Cabo Verde" (n.º 25)
Um dos livros mais épicos da colecção, com a aventura ser um grande périplo por quase todo o arquipélago cabo-verdiano. Como prémio por terem vencido um concurso de televisão, os cinco amigos ganham uma viagem a Cabo Verde. Só que mais uma vez, aquilo que seriam umas férias pacíficas de dolce far niente acabam por se tornar mais uma grande aventura logo no voo de partida quando o grupo suspeita que Mário, um rapaz cabo-verdiano, foi raptado por dois italianos mal encarados que o acompanham. Mais tarde descobrem que os indivíduos andam atrás de um tesouro escondido algures numa das ilhas e os cinco amigos seguem no seu encalço, esperando antecipá-los na descoberta do tesouro e libertar Mário do domínio dos italianos. Pelo caminho, há um concerto rock na Baía das Gatas, um ciclone na ilha de São Nicolau e um inesperado aliado na pessoa de um pescador de lagostas surdo-mudo.  



#1: "Uma Aventura no Deserto" (n.º 21)
Mas o número 1 vai precisamente para o primeiro livro da colecção que eu li, emprestado pela minha prima. Segundo as autoras, a ideia para uma aventura no deserto do Sahara foi sugerida por uma leitora de São Tomé e Príncipe. Se nos outros livros, os cinco amigos lutavam contra ladrões, bandidos e traficantes, aqui eles lutam contra a própria Natureza numa das suas formas mais hostis.
Tudo começa quando o Chico, desejoso de reviver alguns momentos vividos em "Uma Aventura na Terra e no Mar", desafia os amigos a viajarem a bordo de um barco pesqueiro ao largo da costa marroquina. Mas a tragédia acontece quando o navio naufraga e os cinco mais o Faial vêem-se abandonados à sua própria sorte no Sahara, numa terra agreste e totalmente diferente de tudo o que eles conhecem. Após algumas aflições, são acolhidos por uma tribo de tuaregues onde travam novas amizades, em especial com Mahmoun, um rapaz que fala português, e aprendem os seus costumes. Mas antes de chegarem ao oásis mais próximo, o Chico e a Teresa são raptados e aprisionados numa kasbah por uma tribo rival, que talvez também tenha matado o Faial. Apanhados no meio da contenda entre as duas tribos, Pedro, João e Luísa lançam-se numa luta contra o tempo para resgatar os amigos. Mas é claro, tudo acaba bem e a aventura não podia terminar de melhor forma com um mergulho numa piscina de um hotel no oásis de Tamegroute.

Como vêem através deste livros, eu e muitos outros jovens leitores pudemos viajar para imensos sítios e viver todo o tipo de emoções. E é bom ver que ainda hoje as novas gerações se deixem encantar por estas aventuras imaginadas por Magalhães e Alçada, e com isso descobrem o prazer de ler.

   

sexta-feira, 25 de março de 2016

"Dirty Dancing - Dança Comigo" (1987)

por Paulo Neto

Ao contrário de outros filmes eighties, este pode não gritar a década que foi feito por todos os poros, até porque se passa anos 60, mas sem dúvida que "Dirty Dancing - Dança Comigo" de 1987 é um dos filmes incontornáveis dos anos 80. O que começou por ser um filme de baixo orçamento de um novo estúdio acabou por ser um sucesso de bilheteiras e de vendas em VHS e DVD, que quase trinta anos depois continua a cativar os espectadores. 
"Dirty Dancing" foi realizado por Émile Ardolino e era baseado em acontecimentos da vida da argumentista Eleanor Bergstein, com Patrick Swayze e Jennifer Grey nos principais papéis.


No verão de 1963, Frances Houseman (Grey), que todos tratam por Baby, é uma jovem de 17 anos que vai passar férias na estância de Kellerman, nas montanhas de Catskills no sul do estado de Nova Iorque, com os seus pais Jake (Jerry Orbach) e Marjorie (Kelly Bishop) e a sua irmã Lisa (Jane Brucker). Certa noite, ela fica fascinada pelas danças dos empregados da estância nas festas secretas que eles organizam, onde a estrela é o instrutor de dança Johnny Castle (Swayze).  
Quando sabe da gravidez de Penny Johnson (Cynthia Rhodes), a parceira de dança de Johnny, Baby decide ajudá-la, pedindo dinheiro ao seu pai para que Penny possa fazer um aborto e aceitando substitui-la num espectáculo que ela e Johnny têm todas as semanas noutra estância, para ganharem algum dinheiro extra. E por entre as lições de dança, surge a paixão entre Baby e Johnny.




Porém tudo se complica quando o "médico" que fez o aborto a Penny era afinal um intrujão de vão de escada que a deixou em estado grave. A pedido de Baby, Jake consegue salvá-la e assumindo que foi Johnny quem engravidou Penny, proíbe a filha de se dar com ele e com os empregados. Na verdade, quem engravidou Penny foi Robbie (Max Canto), um empregado de mesa interesseiro que arrasta a asa a várias mulheres na estância, incluindo Lisa. Além disso, Johnny é acusado de roubo por Vivian Pressman (Miranda Garrison), uma cliente da estância a quem ele negou favores sexuais. Apesar de se descobrir que os autores do roubos na estância era um insuspeito casal de idosos, Johnny é despedido e Baby sofre com a sua partida.
Mas tudo acaba em bem, com Johnny a entrar na festa de encerramento da época e a desafiar Baby para uma dança ao som de "(I've Had) The Time Of My Life", culminando no mítico salto com elevação. De permeio, Jake e Johnny esclarecem os mal-entendidos e toda a gente acaba dando o gosto ao pé de dança.




Os produtores estavam tão pessimistas quanto a "Dirty Dancing" que até consideraram lançá-lo directamente em vídeo mas o filme que quase ninguém iria ver tornou-se um dos maiores sucessos de 1987. "(I've Had) The Time Of My Life", interpretado por Bill Medley e Jennifer Warnes, ganhou o Óscar de Melhor Canção e Patrick Swayze e Jennifer Grey foram nomeados para o Globo de Ouro. 
E a popularidade foi continuando nos anos que se seguiram: foi o primeiro filme a vender um milhão de cópias em VHS e ainda hoje regista centenas de milhar de vendas anuais de DVD por ano, encorajou milhares de pessoas pelo mundo fora a terem aulas de dança, um inquérito britânico listou-o como o filme mais visto por mulheres, competições de "dirty dancing" têm lugar um pouco por todo o mundo e frases como "Nobody puts Baby in the corner!" e "I carried a watermelon" ficaram para a história. 
Além disso, a banda sonora que misturava clássicos dos anos 60 com temas dos anos 80, como o já referido "(I've Had) The Time Of My Life", "Hungry Eyes" de Eric Carmen e "She's Like The Wind" interpretado pelo próprio Patrick Swayze, vendeu mais de 32 milhões de cópias. Em 2004, foi lançada um prequela "Dirty Dancing: Havana Nights" onde Patrick Swayze teve uma participação especial, e um musical da Broadway. ACTUALIZAÇÃO: Em 2017, houve um remake em telefilme de "Dirty Dancing" com Abigail Breslin, Colt Prattes, Sarah Hyland, Debra Messing e Nicole Scherzinger respectivamente nos papéis de Baby, Johnny, Lisa, Marjorie e Penny. 
  


Jennifer Grey e Patrick Swayze já tinha contracenado junto em "Red Dawn - Amanhecer Violento" (1984) e não se tinham dado muito bem, mas em "Dirty Dancing" descobriram uma inesperada química que transparece no ecrã. Num texto do site Movie Pilot são dadas oito razões pelo qual "Dirty Dancing" é um clássico e eu estou de acordo com todas elas, sobretudo na forma como aborda temas sérios como o aborto e a diferença de classes sociais e como os espectadores (sobretudo as espectadoras) se podem identificar com Baby. Ali estava uma miúda normal, gira sem ser deslumbrante, desajeitada e nerdy mas adorável, em busca de aventuras, a dar-se com a malta fixe e a conquistar o bonitão das redondezas. Aliás, como se sabe, a carreira de Jennifer Grey foi-se abaixo quando ela operou a sua célebre e adorável penca. 

Já vi "Dirty Dancing" algumas vezes, a primeira das quais na célebre "Sessão da Noite" de sexta-feira, o mítico espaço de cinema da RTP1 do início dos anos 90, mas a mais original foi sem dúvida durante um passeio da escola no 7.º ano a Sintra. Pela primeira vez, fomos numa camioneta que tinha leitor de vídeo e sabendo disso, alguns colegas trouxeram cassetes para vermos na viagem. Na ida vimos "Curto-Circuito" e na volta "Dirty Dancing". Belo double feature sobre rodas, verdade?

Trailer:


Cena Final ("The Time Of My Life")



terça-feira, 22 de março de 2016

Tartarugas Ninja II O Segredo da Lama Verde (1991)

Por coincidência, ontem publiquei no Instagram uma imagem de um calendário de bolso do filme, Teenage Mutant Ninja Turtles II: The Secret Of The Ooze/Tartarugas Ninja II O Segredo da Lama Verde (1991) que decerto já mencionei, é especial para mim -  não por ser uma obra prima - mas por ter sido a primeira fita que assisti numa sala de cinema e faz hoje 25 anos que estreou [22 de Março de 1991], por coincidência a data em que se comemora  a primeira sessão de cinema, pela mão dos irmãos Lumière (em 1895).

Segundo o IMDB, a película chegou a Portugal em Agosto de 1991.

Alguns dos meus exemplares da colecção oficial de calendários de bolso.
Tenho ainda na minha posse alguns dos calendários de bolso que coleccionei na altura, por entre uma grande quantidade de merchandising dos "Tarta-heróis" disponível desde o sucesso da série animada e das figuras de acção.
O Trailer de Tartarugas Ninja II O Segredo da Lama Verde (1991):
 

A "lama verde" do título refere-se à substancia mutagénica que esteve na origem da transformação das Tartarugas Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donnatelo (e o seu mestre Splinter) nas suas formas humanóides; e que o vilão Shredder pretende empregar para criar um exército de criaturas ás suas ordens. 
Nesta segunda aventura em imagem real (numa mistura de homens em fatos de tartaruga com elementos animatrónicos), o nível de violência foi muito suavizado, comparado com o primeiro filme, que era mais inspirado na banda desenhada original (não aquela publicada entre nós entre 1991 e 1992 com o título "Os 4 Jovens Tarta-Heróis - Turtles Aventuras", e que terão um cromo próprio) apesar de elementos retirados da série animada; e foram escolhidos novos actores para as vozes de Raphael e Donnatelo, e para o papel da repórter April O'Neil, Paige Turco (Person Of Interest) substituiu Judith Hoag. Um bom upgrade, na minha opinião! Como esperado, o filme foi censurado no Reino Unido, por causa dos nunchakus - a arma do brincalhão Michelangelo - apesar de por exemplo na sequência inicial ser simulado o seu uso com - salsichas!; e por exemplo na Alemanha acrescentaram ruídos de desenhos animados nas sequências de lutas. Lembram-se que versão passou nos nossos cinemas? Curiosamente, a dupla de vilões trapalhões preferida dos fãs, Bebop (o mutante javali) e Rocksteady (o mutante rinoceronte) não pode ser usada por motivos de direitos de autor e voilá, foram criados Rahzar e Tokka para os substituir.

A nível de música, o grande sucesso da banda sonora foi o "Ninja Rap" (também conhecida pelo refrão "Go Ninja, Go Ninja!", interpretado pelo futuro reformador de casas Vanilla Ice, na época um dos rappers mais famosos do planeta.
Além do videoclip abaixo, Vanilla Ice tocou o tema numa cena do filme, durante uma luta no espectáculo [ver aqui].





 
Capa da adaptação oficial a BD.


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"Bitch" Meredith Brooks (1997)

por Paulo Neto

Ao que parece, os primeiros registos da palavra bitch (o termo inglês para um canídeo do sexo feminino, vulgo cadela) como um termo vulgar e depreciativo datam do século XIV, resultante da comparação de uma mulher considerada sexualmente depravada a uma cadela com cio. Ao longo dos tempos, o termo insultuoso alargou-se a outros possíveis defeitos que uma mulher pudesse ter (sobretudo mulheres agressivas, controladoras e/ou maliciosas) e partir dos anos 60, o termo "bitch" também foi reclamado e subvertido pelas correntes feministas para designar mulheres fortes e insubmissas. No entanto, no mundo anglo-saxónico o termo ainda é considerado bastante ofensivo e só há uma mão-cheia de anos é que tem escapada a alguma censura no cinema, na televisão e na música. 

Em 1997, o termo "bitch" ganhou outra dimensão ao ser o título de um hit global para Meredith Brooks, que assim alcançava o sucesso que perseguia desde inícios dos anos 80. 
Meredith Ann Brooks nasceu 12 de Junho de 1958 (ela não parecia nada ter 39 anos em 1997, pois não?) no estado de Oregon e iniciou a sua actividade na música em 1976 primeiro numa banda de nome Sapphire, depois a solo e novamente numa banda feminina, The Graces, de que também fazia parte Charlotte Caffey das Go-Go's. A cada etapa da carreira, Brooks foi ganhando mais atenção e após o fim das The Graces em 1991, dedicou-se de novo a uma carreira a solo e conseguiu um contracto com a Capitol Records para um disco.



Esse disco acabou por "Blurring Down The Edges", o álbum que continha "Bitch", que tinha tudo para ser o grande hit que foi. No entanto, foi só à última que a editora aceitou em manter o título em vez da alternativa sugerida "Nothing In Between", e mesmo assim, algumas lojas de discos venderam o single com a palavra tapada e algumas estações de rádio abstiveram-se de pronunciar o título.


Mas se a polémica do título deu o seu contributo para o sucesso, a verdade é que o tema era uma pérola pop-rock, que falava sobre todas as faces que uma mulher pode ter e de como não se deve rotular ninguém, tal como reza no mítico refrão que muita gente cantou sem censura e sem reservas: "I'm a bitch, I'm a lover,/I'm a child, I'm a mother,/ I'm a sinner, I'm a saint,/ I do not feel ashamed/ I'm your hell, I'm your dream/I'm nothing in between/ You know you wouldn't want it any other way.". 
"Bitch" foi um sucesso mundial, tendo sido n.º 2 nos tops dos Estados Unidos, Canadá e Austrália e disco de prata no Reino Unido. Brooks referiu certa vez que recusou propostas para gravar versões censuradas para certos países (por exemplo, na Tailândia, queriam que ela trocasse "Bitch" por "Witch"). "Bitch" integrou a lista da VH1 para as 100 melhores canções dos anos 90, no 79.º lugar.
"Bitch" foi ainda nomeado para dois Grammys e Meredith Brooks actuou pelo mundo inteiro, mas nem sempre foi recebida com entusiasmo. Em 1998, ao fazer a primeira parte de um concerto dos Rolling Stones na Argentina, Brooks viu vários objectos serem-lhe arremessados por um público demasiado ansioso para ver os Stones. Em 2000, "Bitch" foi incluído na banda sonora do filme "O Que As Mulheres Querem".    

Cena do videoclip de "What Would Happen"

Os dois seguintes singles do álbum tiveram alguma notoriedade: "I Need" e "What Would Happen" (onde no respectivo videoclip, Meredith Brooks fazia o papel de uma mulher envolvida numa atracção mútua por um padre). Meredith Brooks editou desde então mais três álbuns, incluindo o disco infantil "If I Could Be" de 2007. O tema-título do seu álbum 2004 "Shine" foi utilizado como o tema do programa do Dr. Phil. Actualmente Meredith Brooks dedica-se a compôr e produzir para outros artistas.

Meredith Brooks em 2015
Nos meados dos anos 90, houve uma vaga de várias cantoras rock que incluíam nomes como Brooks, Liz Phair, Sheryl Crow, Leah Andreone, Fiona Apple e Tracy Bonham, e com Alanis Morissette como o nome mais sonante. Daí que por vezes haja uma confusão de quem ache que "Bitch" era uma canção de Morissette. Ao ponto de, tal como há no YouTube vídeos em que Bob Marley é tido como o intérprete de "Bad Boys" dos Inner Circle e "Don't Worry Be Happy" de Bobby McFerrin (como se Marley tivesse gravado todas as canções de reggae à face da Terra), há quem tenha feito algo assim:

domingo, 20 de março de 2016

Chiclets Adams (1968)

Ainda antes do famosos e sugestivos anúncios brasileiros dos anos 80 ("caixinha de emoções" vídeo1 e vídeo 2) as Chiclets Adams, as pequenas pastilhas elásticas envolvidas numa casca, na sua característica caixinha de cartão, que há muito que adorna as prateleiras do comércio, como atesta este anúncio de 1968 com as tradicionais caixas amarelas Peppermint (Hortelã-Pimenta) e verdes Spearmint (Hortelã), além de uma caixa menor com "palitos" spearmint.


Publicidade retirada da revista Tintin Semanal Ano 1 Nº 01, de 1968. 
Uploader original desconhecido. Imagem Editada e Recuperada por Enciclopédia de Cromos.


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sexta-feira, 18 de março de 2016

Olha Que Dois!! (1992-93)

por Paulo Neto

O termo "showmance", usado nos media para definir uma pretensa relação amorosa como chamariz para um filme ou um programa de televisão (sobretudo nos reality shows), é relativamente recente, mas o conceito já era bastante antigo. Por exemplo, o filme "Serenata À Chuva" girava em torno de uma dupla de actores da era do cinema mudo cujo sucesso devia em grande parte a um especulado romance na vida real entre os dois, quando na verdade os dois não se davam lá muito bem.




Em Portugal, um dos mais badalados "showmances" do audiovisual nacional foi aquele que envolveu Teresa Guilherme e Manuel Luís Goucha, que ganhou proporções de lenda urbana. 
No livro "Isso Agora Não Interessa Nada", Teresa Guilherme explica como tudo começou:
"Este casamento começou no Eterno Feminino. O Manuel Luís cozinhava no programa, semanalmente num rubrica de culinária, onde fazia tudo para me adoçar a boca. E também foi de boca em boca que começou a correr que, para além daqueles encontros televisivos, a nossa história era outra.
Ambos solteiros, em idade casadoira, tínhamos os nossos empregozitos e muita gente começou a achar que éramos feitos um para o outro e quiseram dar-nos o nó. Também mandavam dinheirinho, peças para o enxoval e até propostas de nomes para os futuros rebentos. 
Quanto mais negávamos qualquer envolvimento, mais as pessoas nos envolviam nas teias do casamento.
O Manuel Luís começou a achar graça à brincadeira e a incentivar os defensores do casório. (...) e a ideia de que éramos mesmo casados mergulhou definitivamente no espírito de muitos portugueses. Logo a seguir, partilhámos um programa chamado Olha Que Dois. E aí é que as pessoas deixaram de ter dúvidas. Aqueles dois, que éramos nós, eram mesmo um só."



Genérico: "Olha Que Dois!!"



De facto foi o programa "Olha Que Dois!!" (sim, com dois pontos de exclamação) que perpetuou o pseudo-casamento entre Teresa e Goucha, já que era notória a química entre os dois. Promovido como uma das apostas para a nova grelha da RTP para rentrée 1992/93, o programa era um talk-show emitido para o ar nas tardes de domingo. No total, foram 41 programas, exibidos entre Setembro de 1992 e Junho de 1993. Todos os programas (à excepção de dois), giravam em torno de um convidado especial e na plateia estavam presentes várias figuras, públicas e anónimas, relacionadas com esse convidado. No primeiro programa a convidada central foi Maria Cavaco Silva, quando o seu marido era primeiro-ministro, naquela que foi a sua primeira participação num programa de entretenimento. Entre outros convidados especiais do programa estiveram José Hermano Saraiva, Marco Paulo, Amália Rodrigues, Nívea Maria (que na altura era vista na telenovela "Pedra Sobre Pedra"), Eusébio, António Sala, Simone de Oliveira, Ana Salazar, José Maria Tallon, Luís Represas, Fafá de Belém, Tônia Carreiro (que veio a Portugal para promover a estreia da produção luso-brasileira "Cupido Electrónico"), Fernando Tordo, Maluda, Carlos do Carmo, Ruy de Carvalho, Ramalho Eanes e Herman José.



O terceiro programa foi dedicado ao casamento, que contou com a presença de alguns casais de longa data como Armando Cortez e Manuela Maria e o 25.º teve como tema o 36.º aniversário da RTP. 
Inicialmente o programa continha uma rubrica fixa onde os espectadores eram convidados a exibir algum talento em particular, mas essa rubrica foi descontinuada.    

Foi no primeiro programa que apareceu a agente da PSP Isabel Silva, que anos mais tarde, viria a ser a protagonista de um dos mais famosos "Tesourinhos Deprimentos" dos Gato Fedorento. Com ajuda de dois colegas seus, a agente fez uma demonstração de técnicas de defesa pessoal em caso de ataques contra mulheres, mas o resultado acabou por roçar o surreal. Além de que popularizou a expressão "Toma, bandido!".



Outra curiosidade do programa foi a premonição de Manuel Luís Goucha de que um jovem Pedro Passos Coelho, então líder da JSD e presente no programa que tinha convidado Paulo de Carvalho, que disse que ele haveria de ser primeiro-ministro. Quando essa premonição ressurgiu na internet em 2013 devido à reposição de "Olha Que Dois!!" na RTP Memória, Manuel Luís Goucha declarou nas redes sociais: "Mais valia eu estar calado".



O site Brinca, Brincando notou ainda a presença de um igualmente jovem José Sócrates no programa centrado na sua co-partidária Edite Estrela.



O programa do qual eu tenho mais memórias foi o que teve como convidado central o general Ramalho Eanes, que aí revelou um lado mais emotivo, já que enquanto Presidente da República sempre fez por cultivar uma imagem de homem sério e estóico, ao expressar o seu amor pela esposa e pelos filhos. Também me recordo de ficar espantado com o look de um dos filhos, que tinha todo o ar de um rapaz que poderia aparecer no "Portugal Radical".



   

Estava previsto que o casal Teresa-Goucha regressasse à RTP na rentrée seguinte, mas em separado, com programas diferentes, mas o "divórcio televisivo" também se aplicou à RTP. Manuel Luís Goucha fez a sua primeira incursão na TVI para apresentar "Momentos de Glória" e Teresa Guilherme rumou à SIC para o talk-show vespertino "E O Resto É Conversa" e o concurso "Labirinto".

Mas mesmo assim, o mito do casal Teresa-Goucha não se desvaneceu. Escreve Teresa Guilherme:

"Pensávamos que, com o tempo, este casamento imaginário se ia desvanecendo. Mas não. Quanto mais o tempo passava, mais as pessoas acreditavam neste matrimónio. Até as nossas próprias mães acabaram por desistir de tanto negar a relação e assumiram os respectivos «genro» e «nora». 
Com a ida do meu pseudomarido para o Porto, os comentários passaram ainda mais calorosos. «Coitadinhos, agora estão separados. Ele teve de emigrar para o Porto para ganhar a vida e deixou a pobrezinha em Lisboa.»"
Ela conta ainda o comentário acalorado que um produtor da "Praça Da Alegria" ouviu um café perto dos estúdios da RTP Porto no Monte da Virgem.
"Uma quarta-feira de manhã, a seguir a um directo do Big Brother, estava o Manuel na televisão e um cliente, de cimbalino na mão, comentava as imagens com um ar ofendido: «Olhem-me para aquele infeliz. Ali a trabalhar feito corno e a mulher lá em Lisboa no Big Brother. Ainda ontem à noite confessou que ela, como todas as mulheres, também já fingiu um orgasmo. Uma maluca, Esta gente da televisão é tudo uma corja.»"

Mais tarde, Teresa Guilherme casou-se com Henrique Dias e Manuel Luís Goucha assumiu a sua relação com Rui Oliveira, enterrando por vez a ideia de que eram ou alguma vez tivessem sido um casal. Mas para sempre ficaram como os protagonistas de um dos mais míticos showmances nacionais. E como diz Teresa Guilherme: "O Manuel Luís Goucha não é o amor da minha vida, mas é um amigo para toda a vida."            

terça-feira, 15 de março de 2016

10 Momentos Curiosos do Festival da Canção (1980-1996)

por Paulo Neto



Serão poucos aqueles que não incluirão nas suas memórias televisivas de outrora recordações da família reunida em frente à televisão para ver o Festival da Canção, um dos pontos altos da saison televisiva da RTP durante anos a fio. Este ano, uma vez que Portugal não participa no Festival da Eurovisão não houve Festival da Canção e ainda assim, já há muito que o evento não tem a importância e o glamour de outrora quando a competição reunia sempre compositores e intérpretes conhecidos e a produção tinha toda a pompa e circunstância.   
Embora o foco central do Festival da Canção ao longo dos tempos tenham sido as canções, nomeadamente a eleição da canção que representaria o país no certame europeu, também houve vários momentos extra-concurso que marcaram o evento.

Neste texto pretendo abordar dez momentos curiosos e/ou marcantes do Festival da Canção nos anos 80 e 90, por ordem cronológica. Será que se recordam deles?

1980: Cores Frenéticas
A máxima "tarda mas não falta" aplica-se a Portugal em vários aspectos. Quando praticamente todos os outros países da Europa já tinham transmissões a cores, esta só chegou aos ecrãs nacionais a 7 de Março de 1980, dia em que a RTP completava 23 anos de emissões. Para assinalar tal efeméride, impunha-se a transmissão ao vivo e a cores de uma das suas jóias da coroa, o Festival da Canção pois claro. Como não podia deixar de ser, como o vencedor José Cid, muitos dos intérpretes presentes apresentaram-se com roupa bem colorida.
Porém quem tirou maior partido da chegada da cor a RTP nesse dia foram sem dúvida As Frenéticas, o grupo brasileiro que actuou como convidado. O grupo feminino fazia então sucesso em Portugal com o tema principal da telenovela "Dancin' Days", exibida na altura na RTP, e cantou alguns dos seus êxitos, envergando trajes reduzidos e supercoloridos.



1982: Isto é que vai uma festa!
No Festival da Canção de 1982, Alice Cruz e Fialho Gouveia conduziram a parte das votações. Porém a parte da apresentação das canções contou com uma dupla de "apresentadores" muito especial: o Agostinho e a Agostinha, o par ébrio e desbocado que Camilo de Oliveira e Ivone Silva lendariamente interpretaram em "Sabadabadu" e que recuperaram para o Festival. Antes da actuação de cada canção, os dois recuperavam uma adaptação da sua famosa cantilena do programa em que, a cada ocasião, conseguiam incluir na letra, o título, o intérprete, o autor e o compositor da respectiva canção. Eis como Agostinho e Agostinha apresentaram a canção vencedora, nada menos que o "Bem Bom" das Doce.



1983: O baton de Herman José
O 20.º Festival da Canção não podia ter sido mais histórico. Pela primeira vez, o evento saiu da capital, tendo lugar no Coliseu do Porto. Foi lá que nasceu o insta-love entre Armando Gama e Valentina Torres, e como já falámos aqui, aconteceu a fugaz mas inesquecível aparição de uma das heroínas da Enciclopédia de Cromos, Maria Teresa de Saint-Maurice, mais conhecida por Tessa e a sua interpretação de "Ave do Paraíso". 
Por entre os outros participantes, também esteve Herman José que com "A Cor Do Teu Batôn", alcançou um honroso segundo lugar e torno-se um dos seus mais populares temas do seu repertório como cantor. Pelo facto de Herman José possuir oficialmente apenas nacionalidade alemã, falou-se que poderia ser desclassificado em caso de vitória por não ter nacionalidade portuguesa, algo que alegadamente estaria nas regras da competição. Curiosamente, o Festival da Eurovisão desse ano realizou-se precisamente na Alemanha.



1984: Avé Suza
Devido a uma greve de músicos, as actuações do Festival da Canção de 1984 foram feitas com recurso a música gravada, à excepção da eventual vencedora Maria Guinot que tocou piano ao vivo enquanto cantava. Ainda assim, o Festival desse ano foi talvez aquele que foi mais recheado de estrelas pois não só na competição estavam artistas conhecidos como António Sala, Paco Bandeira, as Doce, Adelaide Ferreira, Paulo de Carvalho, Rita Ribeiro, Fernando Tordo e Samuel (em dose tripla), como o juri era composto por nomes como Ana Bola, António Macedo, Beatriz Costa, Carlos Cruz, Herman José, Maluda, Tonicha, Teresa Silva Carvalho, Henrique Mendes, Tomás Taveira e Virgílio Teixeira. 
Mas a estrela principal da noite foi Linda de Suza, então no auge da sua carreira, que na função de presidente honorária do júri, entregou o prémio da vitória a Maria Guinot, e ela própria foi alvo de sentida homenagem. Além disso, também actuou no certame cantando o seu famoso hit "Um Português" e ainda se atirou a uma versão semi-improvisada da "Tia Anica de Loulé".


1986: Vozes à solta
Sob o título "Uma Canção Para A Noruega", o Festival de 1986 foi algo sui-generis. Em vez de actuações ao vivo, as doze canções (apresentadas em grupos de três nos estúdios da RTP nos Açores, Madeira, Porto e Lisboa) foram apresentadas em actuações pré-gravadas. Após uma selecção interna a cargo de 43 funcionários da RTP, a vitória recaiu sobre Dora com o seu "Não Sejas Mau Para Mim". No entanto, um dos momentos mais marcantes foi uma excelente versão do tema "Cavalo À Solta", canção concorrente do Festival da Canção de 1971 na voz de Fernando Tordo, interpretada pelo Coro de Santo Amaro de Oeiras e quase todos os vencedores do Festival da Canção até então (Madalena Iglesias, José Cid e as Doce foram as únicas ausências).



1988: Parecia o Festival, mas não era bem o Festival
Mais uma vez, a RTP optou por um peculiar processo para escolher a canção representante na Eurovisão. Seis canções foram apresentadas em actuações pré-gravadas numa emissão especial do programa "Deixem Passar A Música" quando já se sabia que a escolha recaíra sobre o tema "Voltarei", interpretado por Dora. Outra das canções a concurso também era interpretada por Dora, de seu título "Déjà Vu" que entrou na competição por ter vencido o Prémio Nacional de Música.


Esse certame realizou-se umas semanas antes na Figueira da Foz, com transmissão na RTP, e para muitos parecia mesmo o Festival da Canção, com actuações ao vivo, apresentação de Ana do Carmo e até a actuação do convidado especial Johnny Logan, que tinha vencido o Festival da Eurovisão (pela segunda vez!) no ano transacto. Foi, creio eu, a única que um vencedor da Eurovisão visitou Portugal enquanto detentor do título.


Eu, na altura com oito anos, pensei que este é que tinha sido o Festival, já que o outro programa passou-me ao lado, e achava que tinham decidido trocar de canção para Dora e só bem mais tarde é que percebi deste bizarro processo de selecção. De referir ainda que um dos cantores presentes era António Antunes, que viria ser depois conhecido como Tony Carreira.



1991: Bye, Ruth Rita, Bye
A edição de 1991 teve lugar na FIL, mais uma vez em dia de aniversário da RTP, e consagrou Dulce Pontes e o imortal "Lusitana Paixão". Este Festival da Canção também prestou homenagem ao cinema português, com a apresentação de cada canção a ser precedida por uma famosa cena de míticos filmes portugueses dos anos 30 e 40 e com uma apresentação de uma medley de canções desses filmes.
Além de Dulce Pontes, na competição estiveram presentes por exemplo, Toy, Emanuel antes da sua fama,  o grupo Blocco que integrava Ricardo Carriço (não é de agora que este é dado às cantigas) e... a inesquecível Ruth Rita de "A Roda da Sorte" que surgiu a tocar(?) teclado e a fazer coro na canção "Bye, Lili, Bye", cantada por Tó Leal e Gustavo Sequeira. A certa altura, Tó Leal até teve direito a um beijo repenicado de Ruth Rita!



1993: As ligas são de mais
Antes da grande final do 30.º Festival da Canção no Teatro São Luís, vinte canções foram apresentadas no programa "Sons do Sol" de Júlio Isidro com o intuito de apurar oito temas para a grande final que consagraria Anabela e "A Cidade (Até Ser Dia)". Essa pré-selecção estava a cargo de um júri composto por Fernando Tordo, Carlos Mendes, Rita Guerra, Dulce Pontes e João Filipe Barbosa. A polémica surgiu a propósito de uma das canções não apuradas, "As Palavras São De Mais" interpretada por Ana Paulino. Primeiro porque gerou uma enorme discórdia entre os júris com Mendes e Tordo a darem-lhe 12 e 10 pontos respectivamente e Rita Guerra a dar apenas 1 ponto. Também um dos júris, creio que Carlos Mendes, não se fez rogado em criticar a roupa com que Ana Paulino se apresentou durante a sua actuação, um vestido cuja racha deixava à vista uma liga que a cantora trazia na perna.



1994: Chamar a pontuação máxima
Após duas semifinais, uma no Porto e uma em Lisboa, uma das canções favoritas à vitória final era o "Chamar A Música" de Sara Tavares, a qual já se sabia ser a vencedora da primeira edição do "Chuva de Estrelas", cuja final já tinha sido gravada mas que ainda não tinha sido transmitida na SIC. E para espanto de todos, a vitória da canção acabou por ser, de forma inesperada porém justíssima, absolutamente esmagadora com os júris dos 22 distritos nacionais a darem todos unanimemente a pontuação máxima (10), alcançando assim a maior pontuação possível de 220 pontos. Sinal de que Sara Tavares era -e continua a ser- uma estrela de raro brilho no nosso panorama musical.



1996: Lúcia, a grande aposta
1996 terá sido porventura a última grande edição do Festival da Canção, julgo que foi depois desse ano que começou o declínio de interesse do grande público. Numa edição realizada no Teatro Politeama, o cinema português foi mais uma vez o tema de homenagem num espectáculo intermédio dirigido por Filipe La Feria. Até esse momento, Lúcia Moniz era apenas conhecida sobretudo por ser filha de Carlos Alberto Moniz e Maria Do Amparo e alguns mais atentos já a tinham visto ao lado do malogrado Beto a cantar na banda do programa "Não Se Esqueça Da Escova De Dentes", mas nesse ano 1996, Lúcia demonstrou ser uma grande revelação tanto enquanto cantora como actriz.
Lúcia Moniz não só venceu o Festival da Canção com "O Meu Coração Não Tem Cor", cujo tema viria a alcançar o melhor resultado de sempre para Portugal no Festival da Eurovisão, como também brilhou na sua estreia em representação na telenovela "A Grande Aposta", exibida na RTP, logo no papel de duas irmãs gémeas, uma delas cega! Foram os primeiros passos para uma frutuosa carreira de Lúcia Moniz tanto na música como na representação.


sábado, 12 de março de 2016

Viagem ao Passado - Rádio Zero



É sempre de saudar quando surge um novo projecto de temática nostálgica no panorama nacional. 
Chegou ao nosso conhecimento há poucos dias e a "Enciclopédia de Cromos" gostaria de indicar aos leitores um recente programa radiofónico dedicado aos acontecimentos dos anos 80, 90 e 00: "Viagem Ao Passado".



Segundo Rute Fidalgo - a autora e voz de "Viagem Ao Passado" - a "premissa deste programa é trazer os protagonistas desses momentos, de forma a recordar as memórias dos mesmos na primeira pessoa".
O site do programa na Rádio Zero descreve a "Viagem Ao Passado" da seguinte forma:
"Dizem que ‘recordar é viver’. E podia ser muito bem o slogan deste programa. Um programa de memórias, mas que não pretende ser saudosista. (...) Por aqui passam as músicas, os acontecimentos, os programas, mas sobretudo as lembranças, as recordações e as efemérides, que são contadas na primeira pessoa em 57 minutos de tertúlia. Dos músicos aos apresentadores, dos actores aos meros fãs, todos entram nesta viagem até aos anos 80, 90 e 00. Todos os domingos, ao final da tarde, embarquem connosco nesta ‘Viagem ao Passado’, feita com as recordações que fazem parte das vidas de todos nós."


Ouçam em Directo, Domingos às 19 horas - Rádio Zero [https://www.radiozero.pt]

Visitem o Facebook: [https://www.facebook.com/viagemaopassado.radiozero]
 

E ouçam os programas já emitidos na MixCloud: [https://www.mixcloud.com/viagemaopassado].
Entre as emissões podem encontrar recordações de publicidade do anos 80 - com Ana Moreira; do programa da SIC "Êxtase" - com Joana Cruz; ou a girlsband NonStop com Liliana Almeida e Andrea Soares.

Marquem nas agendas: Domingos às 19 horas - Rádio Zero!

Como sempre, o leitor pode partilhar experiências, corrigir informações, ou deixar sugestões aqui nos comentários, ou no Facebook da Enciclopédia: "Enciclopédia de Cromos"Visite também o Tumblr: "Enciclopédia de Cromos - Tumblr".

sexta-feira, 11 de março de 2016

Big (1988)

por Paulo Neto

Decerto que todos nós, pelo menos uma vez enquanto petizes, já desejámos ser adultos, ou pelo menos um pouco mais velhos, por acharmos que só os crescidos é que têm toda a diversão. Deve ser por isso que volta e meia Hollywood gosta de fazer filmes sobre crianças ou adolescentes no corpo de adultos, ou vice-versa. No final dos anos 80, houve uma onde de filmes com essa temática como "Tal Pai, Tal Filho" (1987) e "Vice-Versa" (1988), mas o mais famoso foi "Big", protagonizado por Tom Hanks, baseado no filme italiano "Da Grande".



O filme de 1988, realizado por Penny Marshall, conta a história de Josh Baskin (David Moscow) um rapaz de 12 anos, complexado pela sua baixa estatura. Depois de sofrer uma humilhação diante de Cynthia Benson (Kimberlee M. Davis), a rapariga por quem ele sente um fraquinho, ao ser-lhe negada a entrada numa montanha-russa por causa da sua altura, Josh pede a uma máquina de vidente o desejo de ser "grande".



Na manhã seguinte, Josh vê-se no corpo de um homem de 30 anos (Hanks). Afugentado pela sua mãe (Mercedes Ruehl), que o toma como o raptor do seu filho, ele foge para Nova Iorque com o seu melhor amigo Billy Kopecki (Jared Rushton). 
Josh arranja trabalho numa empresa de brinquedos e é promovido depois de travar amizade com o dono, Mr. McMillan (Robert Loggia), que fica impressionado com o seu entusiasmo face aos brinquedos. A promoção não lhe só dá o dinheiro para viver com Billy num belo loft com máquinas de flippers e de venda de bebidas e muitos brinquedos, como suscita as atenções da sua colega, Susan Lawrence (Elizabeth Perkins), com quem inicia um romance. Porém essa súbita promoção também suscita invejas e suspeitas entre os outros executivos da empresa, sobretudo Paul Davenport (John Heard), o ambicioso e ressabiado ex-namorado de Susan.
Mas com o tempo, Josh percebe que ser adulto também tem uma grande dose de responsabilidades e pressões para as quais ele não está preparado e que está a esquecer-se do que é ser uma criança.




Com uma equilibrada dose de humor e seriedade, "Big" foi um inesperado êxito de bilheteira (foi o primeiro filme realizado por uma mulher a facturar mais de 100 milhões de dólares) e de crítica. Tom Hanks recebeu a sua primeira nomeação para um Óscar, bem como o argumento original de Gary Ross e Anne Spielberg (irmã de Steven). O American Film Institute incluiu "Big" nas suas listas das 100 melhores comédias e dos 10 melhores filmes de fantasia. O filme foi adaptado para um musical da Broadway em 1996 e há planos para uma adaptação para série televisão na FOX.





A cena mais famosa do filme é sem dúvida aquela em que as personagens de Tom Hanks e Robert Loggia divertem-se em cima de um piano gigante, onde tocam "Heart And Soul" e "Chopsticks". Essa cena foi coreografada por Paula Abdul.    

Trailer:




quarta-feira, 9 de março de 2016

Madalena (1988-2001)

por Paulo Neto


"Numa casa antiga de Paris, coberta de trepadeira,
Viviam doze meninas alinhadas à boa maneira.
Saíam de casa sempre às nove e meia
Mesmo se o tempo fizesse cara feia.
E a mais pequena chamava-se Madalena."



Era assim, com a narração de Ruy de Carvalho na dobragem portuguesa, que começava cada episódio da série animada "Madalena", exibida nos espaços infantis da RTP 2 ao longo dos anos 90.

A série de animação era baseada numa série de livros infantis da autoria de Ludwig Bemelemans (1898-1962) sobre um grupo de meninas que vivem num colégio privado de Paris, em especial a mais pequena, Madeline, sempre a meter-se em aventuras.

Capa do primeiro livro da série

Antes da série exibida em Portugal, produzida pela DIC Entertainment, os livros já tinham sido objecto de algumas adaptações em desenho animado. Uma curta-metragem de 1952 chegou mesmo a ser nomeada para um Óscar.



A série produzida pela DIC começou em 1988 com o primeiro de cinco especiais de uma hora que adaptavam outros tantos livros da colecção, produzidos entre 1988 e 1991. A partir de 1993, passou a série regular com histórias inéditas. Três conjuntos de episódios foram produzidos e exibidos nos Estados Unidos em 1993, 1995 e 2000-01. Esta terceira série de episódios foi premiada com um Emmy.

Em Portugal, os cinco especiais foram exibidos em 1993 e a primeira série em 1995. Como já foi referido, a narração era de Ruy de Carvalho (a versão original era narrada por Christopher Plummer) e contava com as vozes de Ermelinda Duarte, Manuela Couto, João de Carvalho, Luísa Cruz, Ana Madureira e Margarida Rosa Rodrigues. Segundo o site Desenhos Animados, a SIC reexibiu a série em 2001 com outra dobragem.

Madalena (voz de Manuela Couto)

Miss Clavel (voz de Ermelinda Duarte)

Embora a série centrava-se sobretudo em Madalena, havia outras personagens populares como a Miss Clavel, a mestra do colégio (que ao contrário do que a sua indumentária pode indiciar, não era uma freira), o Lord Cotovia, o dono do colégio, a espertíssima cadela Genoveva adoptada pelas meninas e Pepito, um rapazinho filho do embaixador de Espanha, que vive na casa ao lado do colégio e que, embora inicialmente se comporte como uma grande peste, acaba por ser um grande amigo de Madalena e ocasional parceiro das suas aventuras. De entre as colegas de Madalena, três costumam ter um pouco mais de destaque: Carla, de longos cabelos ruivos, Nicole, de cabelo curto, e Daniela, de cabelo castanho encaracolado.

Nicole (voz de Ana Madureira)
Carla (vozes de Luísa Cruz e Margarida Rosa Rodrigues)
Daniela (voz de Margarida Rosa Rodrigues)
Lorde Cotovia (voz de João de Carvalho)
Pepito (voz de Ana Madureira)


Embora à primeira vista pudesse parecer uma série demasiado infantil e ameninada, a verdade é que os bonecos eram tão giros e as histórias tão engraçadas que eu e o meu irmão costumávamos ver.

E ainda hoje recordo-me da canção do genérico, interpretada por Manuela Couto:

Se alguém me diz
Tu és petiz
Precisas de crescer
Eu digo que não tens razão
E vem-me conhecer

Sou Madalena, Madalena,
Miúda mais valente
Sou Madalena, Madalena,
Por dentro, sou gente

E mesmo assim pequena
como parecer ser
Por dentro a Madalena
Sabe bem o que quer

Madalena, Madalena!

A Madalena é pequena
Mas muito destemida
Pequena sou por fora
Mas por dentro, crescida





Em 1998, houve uma adaptação cinematográfica da franchise com Frances McDormand no papel de Miss Clavel. Existem também um filme da série produzido directamente para video, colecções de DVD e de jogos de vídeo educacionais.    

Cena do filme "Madeline" de 1998


Capa de um dos DVD




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