terça-feira, 1 de março de 2016

Diana Pereira - Super Model Of The World 1997

por Paulo Neto

Dizer que a indústria da moda em Portugal sofreu um enorme boom nos anos 90 é dizer pouco. Nesta década, a moda nacional e internacional deixou de ser um nicho que só interessava a uma certa elite para ser algo de interesse do grande público. A par dos estilistas consagrados surgiram novos nomes e os passos das modelos portuguesas mais conhecidas, como Sofia Aparício, Nayma, Fernanda Serrano e Luísa Beirão, eram tão acompanhados pela imprensa nacional quanto a imprensa mundial seguia aqueles das top models internacionais. Na televisão, destacavam-se programas dedicados à moda como "86-60-86", "Moda Roma" e a cobertura da SIC das semanas da moda em Paris. A ModaLisboa afirmou-se como o grande evento da moda nacional e o Portugal Fashion no Porto trouxe ao nosso país top models famosíssimas como Claudia Schiffer, Elle McPherson, Karen Mulder, Helena Christiansen e Linda Evangelista.
E se bem que a eleição da Miss Portugal ainda fosse então um acontecimento, nos anos 90 também os concursos de manequins reuniam a mesma atenção. Um deles era o Supermodel Of The World, o evento em que se elegia a representante portuguesa no concurso internacional do mesmo nome, promovido pela reputada agência de modelos Ford.

A edição do ano 1997, transmitida pela SIC, foi um grande acontecimento. O certame teve lugar no Museu da Electricidade, com apresentação de Catarina Furtado e actuações das maiores bandas nacionais da altura como GNR, Delfins, Ritual Tejo e Pólo Norte. A produção esteve a cargo de Teresa Guilherme
Numa passadeira em forma de S, doze candidatas desfilaram várias vezes em vários trajes, cada uma esperando ser aquela eleita para viajar até Los Angeles para representar Portugal na final internacional do "Super Model Of The World". Pelo menos quatro delas tornaram-se sobejamente conhecidas posteriormente, e não só apenas no domínio da moda: a candidata n.º 1 era Anabela Moreira, hoje uma das melhores actrizes da nossa praça, presença regular na televisão e no cinema (vimo-la por exemplo na nova versão de "O Pátio Das Cantigas" no papel de Susana), a n.º 4 era a luso-sueca Anna Westerlund, casada há já vários anos com o actor Pedro Lima e a n.º 7 era Liliana Aguiar (na altura concorrendo simplesmente como Liliana), que viria a ser concorrente na terceira edição do Big Brother e presença regular na imprensa cor-de-rosa desde então. Mas a candidata n.º 2 era um diamante em bruto que faria Portugal resplandecer de orgulho, pois não era outra senão Diana Pereira, então uma adolescente de 14 anos, que frequentava as aulas do 9.º ano e as actividades dos escuteiros em Coimbra, antes de ver o seu sonho de se tornar manequim cumprir-se da forma mais espectacular. Isto porque algum tempo depois, Diana Pereira viria a vencer a final internacional do Supermodel Of The World, provando que no nosso país havia beldades capazes de ombrear com as manequins de outros países nas passerelles internacionais.



Por causa disso, é fácil pensar que a vitória de Diana Pereira na final nacional de Super Model Of The World foi por demais evidente. Porém, segundo Teresa Guilherme, o triunfo da muito jovem conimbricense foi bastante inesperado para muitos. No seu livro "Isso Agora Não Interessa Nada", Teresa Guilherme escreve que a equipa de produção do programa era da opinião geral que seria outra candidata, "uma lindinha de 18 anos, com um bonito palminho de cara, despachadinha" (quem seria?) seria a representante ideal de Portugal para a final mundial do concurso. Porém a decisão estava a cargo de um painel de especialistas de vários países, liderado por um italiano habituado a correr o mundo em busca dos futuros talentos que irão brilhar nas passerelles internacionais. 
Por isso, quando foi necessário divulgar de antemão o resultado à equipa de produção, a surpresa foi geral para TG e a sua equipa. Conta Teresa Guilherme:
"Para que tudo fosse perfeito, combinei com o tal especialista italiano que, cinco minutinhos antes de a apresentadora revelar quem era a vencedora, eu ficaria a saber a notícia em primeira mão. Era a única forma de assegurar que todas as câmaras estariam prontas para mostrar ao mundo a carinha de surpresa e as primeiras lágrimas da vencedora.
Quando ele me comunicou o número da eleita, tive de ir verificar quem era a felizarda, porque não me lembrava sequer da sua cara. O mesmo aconteceu com os meus colegas depois de eu ter dito através do intercomunicador; «Quem ganha é a número 2.» A confusão foi mais que muita: «Ganhou quem? Qual é a número 2? Têm a certeza? Importas-te de repetir?» Foi um verdadeiro sururu. Tive mesmo de ir ao carro de exteriores confirmar a informação, ao vivo e a cores, de quem é que realmente tinha ganho, porque ninguém queria acreditar."



E de facto, o tal olheiro italiano tinha mesmo olho para a moda, uma vez que Diana venceria a final mundial de entre 50 candidatas de todo o mundo. Porém, apoiada pelos pais, Diana decidiu ficar em Portugal e recusar o prémio monetário do concurso que implicava a obrigação de viver dois anos em Nova Iorque. Ainda assim, não só desde logo Portugal elevou-a a nova princesa da moda nacional como foi requisitada para vários trabalhos além fronteiras. Nos anos que se seguiram, a carreira de Diana foi seguida bem de perto pela comunicação social nacional e até os seus pais e o irmão mais novo eram reconhecidos na rua. Devido à sua parca idade, também gerou-se algum discussão sobre se seria prejudicial uma jovem iniciar uma tão activa carreira de manequim desde tão cedo. Recordo-me que Herman José uma vez fez uma piada sobre isso, dizendo que Diana Pereira era a única manequim que podia "desfilar com lingerie de Ana Salazar e fraldas de José António Tenente."

O triunfo de Diana Pereira, aliado à qualidade da produção da final nacional, fez com que no ano seguinte, fosse Portugal o país organizador da final internacional do Super Model Of The World 1998 que teve lugar no Coliseu dos Recreios e cuja vitória sorriu à britânica Katie Burrell.



No próximo dia 1 de Abril, Diana Pereira fará 33 anos. Embora ainda faça algum trabalho ocasional como manequim, está hoje por hoje mais dedicada à família e aos seus negócios pessoais. Uma eventual paixão pelo automobilismo, tendo participado em provas de todo o terreno e ralis, juntou-a ao seu marido, o às do volante Tiago Monteiro, de quem tem dois filhos. Publicou três livros infantis, lançou uma linha de jóias e outra de roupa fitness e em 2015, estreou-se como apresentadora na RTP Internacional.


Quando eu fui para Coimbra estudar na universidade no final dos anos 90, confesso que tive uma certa esperança de encontrar Diana Pereira na sua cidade natal. Acabei por vê-la certa vez, ainda no meu primeiro ano de faculdade, na baixa de Coimbra, por entre um grupo de pessoas que conversava em círculo no meio da Rua Ferreira Borges, não sei se amigos, se gente envolvida em algum trabalho de moda. Não fosse o seu inconfundível rosto, e mal daria por ela. Vestida com um kispo largueirão e fato de treino, sem maquilhagem evidente e longe do glamour com que aparecia na televisão e nas revistas, Diana parecia uma adolescente de quinze anos como tantas outras. Mesmo assim, e embora não tivesse sequer abrandasse o passo ao passar por ela, foi um dos meus primeiros momentos starstruck da minha vida, pois se no meu exterior não houvesse senão um ligeiro sorriso, por dentro eu gritava "VI A DIANA PEREIRA!".        

Vídeo com todos os desfiles e actuações musicais do "Super Model Of The World 1997 Portugal" (muito obrigado ao canal de Marco Lopes)


  
        

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5 comentários:

  1. Ainda hoje nao consegui ver o que veem de lindo nessa mulher. Rosto vulgar, labios finos, nariz comprido, pescoco demasiado alto, cabelito fraco, magrerrima ....

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    1. Olá Unknown, faço minhas as suas palavras. Mas está visto que o ideal de beleza não é o mesmo para todos! :)
      David Martins

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    2. Muitas vezes, o mundo da moda não procura tanto uma beleza tradicional mas sim manequins que tenham algo de insólito ou de particular. E depois há gente que é bonita mas cuja beleza não fotografa bem em película ou filme e há gente que não se pode dizer que seja muito bonita mas que consegue transmitir beleza nas fotos. A Diana encaixava muito naquilo que a indústria da moda procurava na altura. Não sendo uma beleza de parar o trânsito, consigo ver algo de interessante nela.

      Mas mesmo achando-a ou não bonita, acho que foi um motivo de orgulho para Portugal saber que ela foi eleita por tanta gente entendida no assunto de entre várias candidatas de todo o mundo.

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  2. Ainda hoje nao consegui ver o que veem de lindo nessa mulher. Rosto vulgar, labios finos, nariz comprido, pescoco demasiado alto, cabelito fraco, magrerrima ....

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  3. A grafia correta e oficial do concurso é Supermodel of the World. No mais, excelente post!

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