terça-feira, 17 de maio de 2016

Trainspotting (1996)

por Paulo Neto

Os anos 90 assistiram a uma revitalização do cinema europeu, com várias obras produzidas no Velho Continente a reunir grande aceitação do público, pois nem só de películas hollywoodescas vive o cinéfilo. No caso do cinema britânico, foi quase um renascer das cinzas depois de uma série de flops na segunda metade dos anos 80 ter ameaçado a indústria cinematográfica britânica.



E entre os títulos marcantes do cinema made in UK da década de 90 está sem dúvida "Trainspotting", que depressa ganhou o estatuto de filme culto, daqueles que marcou toda uma geração. Estreado no ano de 1996, o filme era realizado por Danny Boyle, adaptando o livro de 1993 de Irvine Welsh.



O filme narra as aventuras e desventuras de um grupo de toxicodependentes de Edimburgo no início dos anos 90: Mark Renton (Ewan McGregor) o narrador, o adorável imbecil Spud (Ewen Bremner), o vigarista Sick Boy (Jonny Lee Miller) e Begbie (Robert Carlyle) que não consome droga mas em compensação é um psicopata que adora brigar com quem se cruza no caminho. A eles também se junta Tommy (Kevin McKidd), o amigo desportista e certinho de Renton, que também cai na droga depois de ser deixado pela namorada. A personagem feminina com mais destaque é Diane (Kelly MacDonald), uma rapariga de 15 anos que seduz Renton numa saída à noite fazendo passar-se por mais velha e que depois chantageia-o com isso.


Entre desintoxicações e recaídas e uma série de acontecimentos trágicos - uma quase morte por overdose, a morte de uma bebé filha de Alison (Susan Vidler), uma toxicodependente amiga do grupo, e a infecção de Tommy com o vírus HIV - Renton decide deixar a Escócia e começar uma nova vida em Londres. Mas o passado apanha-o quando o resto do grupo ocupa o seu apartamento e força-o a alinhar na venda de uma grande quantidade de heroína. Só que no final, será Renton a rir por último.

Entre as cenas mais marcantes do filme, estão a do mergulho para a sanita da casa de banho mais nojenta da Escócia (na verdade aquele cocó era chocolate), a do ataque laxativo de Spud em casa de uma rapariga com quem passou a noite e a alucinação de Renton com a referida falecida bebé  a trepar pelo tecto.



Com um humor negríssimo, uma excelente fotografia, uma realização acutilante de Boyle e sobretudo grandes interpretações de todo o elenco, "Trainspotting" conquistou público e crítica. O argumento, adaptado por John Hodge, ganhou o BAFTA de Melhor Argumento Adaptado e foi nomeado para o Óscar. O British Film Institute elegeu-o o 10.º melhor filme britânico de sempre e uma votação pública de 2004 como o melhor filme escocês de sempre.

Eu só vi "Trainspotting" em 2007. Tinha curiosidade para o ver desde a sua estreia, mas também tinha receio pois acho que o meu eu de 16 anos ficaria demasiado impressionado. Por isso foi o meu eu de 27 anos que viu "Trainspotting" e soube apreciá-lo melhor. Gostei sobretudo do facto como à superfície parece fazer a apologia da droga já que as personagens referem frequentemente a forte sensação do "high" que a heroína provoca ("pensem no melhor orgasmo que já tiveram, multipliquem por vinte e ainda estarão a milhas do que é") e pelo facto do filme não julgar as personagens por consumirem droga por si só mas sim por outros actos que cometem (tráfico, roubos, violência, negligência), mas acaba no fundo por ser bastante anti-droga, deixando transparecer subtilmente toda a degradação e destruição que provoca em quem consome. Além da droga, o filme também foca a exploração da pobreza urbana na Escócia.



"Trainspotting" acabou por catapultar o realizador e os actores, então praticamente desconhecidos, para outros níveis. Quando Ewan McGregor deu por si, já tinha Hollywood a seus pés. Danny Boyle passou a ser realizador de topo conquistando a glória máxima com "Quem Quer Ser Bilionário". Robert Carlyle protagonizou outro inesperado sucesso britânico dos anos 90, "Ou Tudo Ou Nada", e foi o vilão em "007-O Mundo Não Chega". Ewen Bremner foi visto em "Sntach - Porcos & Diamantes", "Black Hawk Down", "Pearl Harbour" e "Alien vs. Predador". Kevin McKidd é agora conhecido como Dr. Owen Hunt de "Anatomia de Grey". Jonny Lee Miller entrou em filmes como "Dracula 2000"  e "Aeon Flux", deu cartas na televisão em "Eli Stone" e "Elementar" e foi o primeiro a quem Angelina Jolie chamou de marido. Kelly MacDonald que se estreava em cinema neste filme entrou em filmes como "Elizabeth", "Godsford Park", "À Procura da Terra do Nunca", "Este País Não É Para Velhos" e no tomo final da saga Harry Potter, além de ter sido a voz original da Princesa Merida no filme "Brave".



Outro aspecto em que "Trainspotting" venceu foi na banda sonora, que produziu dois discos campeões de vendas, que incluíam temas de Blur, New Order, Brian Eno, Primal Scream, Lou Reed, Elastica e Joy Division. Mas as duas canções mais marcantes da banda sonora de "Trainspotting" foram sem dúvida aquelas que respectivamente abrem e fecham o filme: o trepidante "Lust For Life" de Iggy Pop, um original de 1977 composto em parceria com David Bowie, que o filme apresentou a uma nova geração e que toca enquanto Renton diz o seu famoso monólogo "Choose Life"; e "Born Slippy" dos Underworld que se tornaria um dos êxitos das pistas de dança do verão de 1996 e que pôs muita gente a gritar a plenos pulmões "lager lager lager" ou "mega mega white thing".

Trailer:


Iggy Pop "Lust For Life"


Underworld "Born Slippy.NUXX"





A sequela de "Trainspotting" encontra-se actualmente em rodagem e tem estreia para Janeiro de 2017.

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