sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Amiga Olga (1993-1994)

por Paulo Neto

Conforme prometido neste tópico, eis o cromo sobre "A Amiga Olga", o primeiro programa mítico da TVI. 

Quando estreou as suas emissões a 20 de Fevereiro de 1993 (cerca de quatro meses e meio depois da SIC), a TVI era conhecida como o "Canal da Igreja" e também como "A Quatro", já que numa primeira fase o seu logótipo era o número 4. Enquanto a SIC desde logo apostou em ser líder de audiências, o que veio a conseguir em apenas dois anos e meio (tendo mesmo sido caso de estudo internacionalmente), a TVI na sua fase "Quatro" tinha outras prioridades, como servir o público com uma programação familiar, sem grandes ondas e com forte pendor católico. Aliás, foi aí que se assistiu ao curioso fenómeno de padres tornarem-se celebridades televisivas, nomeadamente o Padre Vítor Melícias. Nesta fase, a programação da TVI era tão politicamente correcta que até me lembro de ter transmitido "O Admirador Secreto", uma comédia juvenil de 1985, com a famosa bolinha no canto direito, quando a única justificação remota para tal era uma cena onde uma das actrizes mostra as maminhas (algo que era lugar-comum nas comédias juvenis dos anos 80). Se os programadores da TVI de então soubessem da programação que o canal teria vinte anos mais tarde, creio que teriam um colapso.    



É seguro afirmar que o primeiro programa mítico da TVI foi o concurso "A Amiga Olga", estreado logo durante a semana de estreia do canal e que ia para o ar de segunda a sexta à tarde. O programa era apresentado por Olga Cardoso, uma veterana radialista, até então conhecida por apresentar com António Sala o programa "Despertar" da Rádio Renascença. Mas o concurso acabou por transformar a locutora natural de Miragaia numa estrela do pequeno ecrã, e tudo graças uma simples interjeição: "UAU!"


A dinâmica do concurso era bem simples. Numa primeira fase, os concorrentes tinham de aguentar um minuto a conversar com a amiga Olga sem caír na esparrela de dizerem "Sim" ou "Não". Pelo que me recordo, também não valia repetir sempre a mesma resposta (por exemplo, estar sempre a dizer "talvez" e "pois") nem ficar muito tempo em silêncio. Se o concorrente escorregasse nessas armadilhas verbais, o assistente, designado como "o rapaz do gongo dourado", tocava no gongo. Um dos jovens que desempenharam essa função foi Ricardo Trêpa, neto do ilustre realizador Manoel de Oliveira, muito antes de ganhar lugar cativo no elenco dos filmes do seu avô.



Os quatro concorrentes que tivessem aguentado mais tempo passavam à fase seguinte, onde após responderem correctamente a algumas perguntas, tinham de decidir entre a chave que dava direito ao prémio correspondente (os usuais automóveis, motas, viagens e electrodomésticos) ou as notas que Olga Cardoso lhes ia deitando para as mãos, o que propiciou o outro famoso bordão: "O dinheiro ou a chave?" 
Lembro-me que raramente a amiga Olga entregava mais de trinta contos, pelo que a grande maioria dos concorrentes optava pela chave. 



Mas claro que a lendária palavra de ordem de Olga Cardoso era o famoso "UAU!" que ela exclamava a plenos pulmões sempre que um dos concorrentes resistia aos sessenta segundos de conversa armadilhada ou depois de revelar o prémio que eles acabavam de ganhar. De facto, como a dinâmica do concurso não era das mais excitantes, o sucesso do programa estava no carisma de Olga Cardoso, que durante o período de quinze meses que esteve no ar, tornou-se quase como um membro da família para os portugueses, aquela tia entradota mas espevitada onde gostávamos de ir a casa lanchar. Recordo-me que foi bastante comentado na imprensa a decisão de Olga Cardoso de fazer uma operação plástica após o concurso ter deixado de ir para o ar (na altura cirurgias plásticas ainda eram assuntos tabu). E claro está, durante esse período de tempo, todas as Olgas deste país ouviam amiúde as pessoas a dizerem: "Olha a amiga Olga!"

Em 1999, após cinquenta anos de rádio, Olga Cardoso reformou-se, mas ainda vai fazendo alguns trabalhos ocasionais nas ondas do éter e ainda aparece esporadicamente na televisão. Mas segundo a própria, a sua profissão agora é ser avó para as quatro netas. 


Cromo da "Caderneta de Cromos" sobre a "A Amiga Olga":  http://podcastmcr.clix.pt/rcomercial/cdc01_270611.mp3


Excerto de "A Amiga Olga" (a parte "Nem sim nem não"):




Excerto de "A Amiga Olga" (a parte "O dinheiro ou a chave?"):






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